Violência em Port-au-Prince já dura quatro dias e isola moradores em suas casas, sem acesso a água e comida. Médicos Sem Fronteiras relata “campo de batalha”, e ONU alerta para aumento da fome.
Créditos da foto: Odelyn Joseph/AP/picture alliance. Gangues disputam controle de território na capital Port-au-Prince, e forças de segurança não têm conseguido reprimir a violência
Pelo menos 50 pessoas morreram e 110 ficaram feridas em confrontos entre gangues rivais na capital do Haiti que já duram quatro dias. Forças de segurança do governo não têm conseguido conter a violência, que impede moradores de deixarem suas casas e agravam a situação de fome no país.
Jean Hislain Frederick, vice-prefeito do bairro Cite Soleil, em Port-au-Prince, disse que a violência começou na sexta-feira (08/07), apenas um dia após o aniversário de um ano do assassinato do presidente Jovenel Moïse.
A violência disparou no Haiti desde que ele foi morto, e agravou-se particularmente nos últimos três meses, enquanto gangues disputam o controle de territórios e cobram dos moradores para oferecer proteção.
O número exato de mortos nos últimos quatro dias é desconhecido, pois muitos cadáveres vêm sendo queimados.
“Campo de batalha”
A organização Médicos Sem Fronteiras afirmou que os confrontos entre gangues deixaram milhares de pessoas presas em Cite Soleil sem água potável, alimentos e cuidados médicos.
A entidade pediu ajuda de outros grupos de assistência e exortou as gangues “a pouparem os civis”. Três membros da Médicos Sem Fronteiras estão tratando pessoas feridas em uma área de Cite Soleil chamada Brooklyn.
“Ao longo da a única rua que leva para Brooklyn, encontramos cadáveres que estão se decompondo ou sendo queimados”, disse Mumuza Muhindo, chefe da missão da organização no Haiti, em um comunicado. “Eles podem ser de pessoas mortas durante os confrontos ou de pessoas baleadas enquanto tentavam fugir – é um verdadeiro campo de batalha. Não é possível estimar quantas pessoas foram mortas.”
Gangues em disputa
Autoridades locais afirmaram que os confrontos envolveram as gangues rivais conhecidas como G9 e G-Pep.
A G9 é uma coalizão de gangues também conhecida como Família G9 e Aliados, liderada por um ex-policial, Jimmy Cherizier. Conhecido como “Churrasco”, Cherizier já foi ligado no passado a massacres, e acredita-se que sua coalizão tenha se aliado ao partido de Moïse, de direita. Depois que o presidente foi morto, ele definiu o crime como “covarde e horrendo”.
A G-Pep é uma gangue que surgiu em Cite Soleil, embora seja aliada de outros grupos armados de toda a capital do Haiti.
Aumento da fome
O Programa Mundial de Alimentação (PMA) das Nações Unidas advertiu na terça-feira que a fome deverá aumentar no Haiti, que registra uma inflação de 26%, alta nos custos dos alimentos e combustível e deterioração da segurança.
O diretor do programa no país, Jean-Martin Bauer, disse que 1,3 milhão de haitianos no noroeste e em partes do sul do país “estão a um passo de fome”.
Como as gangues bloqueiam estradas e atacam caminhões transportando ajuda humanitária, o PMA está usando barcos e aeronaves para entregar alimentos.
Bauer afirmou que o PMA precisa de 39 milhões de dólares para suas operações em Haiti durante os próximos seis meses, e exortou os doadores a não deixarem o situação no país “ir de mal a pior”.
Veja em: https://www.dw.com/pt-br/disputa-entre-gangues-no-haiti-deixa-pelo-menos-50-mortos/a-62455441
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