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Oswald de Andrade e o Centenário da Independência

Lançamento da Editora UNESP reúne intervenções inéditas do artista nos debates culturais da época. Em artigos, cartas e entrevistas, os passos que levaram à revolução de 1922 na arte nacional. Nossos apoiadores concorrem a 3 exemplares

Por: Guilherme Arruda

O centenário de eventos como a Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista, a comemoração do Centenário da Independência e as revoltas tenentistas levou a um grande movimento de edição de livros que abordam o contexto social, cultural e político do Brasil no ano de 1922. Arte do Centenário e outros escritos, organizado por Gênese Andrade e recém-publicado pela Editora UNESP, é um dos mais interessantes volumes a surgirem dessa safra literária.

Os textos selecionados pela beletrista e professora da FAAP constituem um corpus da produção de Oswald de Andrade no período que culmina no “ano do centenário”, em sua maioria textos inéditos em livro. Os escritos foram selecionados de uma perspectiva que faz com que, junto deles, seja possível se aprofundar em um aspecto crucial para o êxito da Semana de Arte Moderna – a paciente construção, a que se dedicou um dos seus idealizadores, de um ambiente em que suas ideias de renovação se posicionassem como uma força real nas disputas pelo sentido da arte nacional naquele tempo.

Oswald escreveu para diversos periódicos que circulavam na São Paulo dos anos 20. Entre os dezoito textos que compõem Arte do centenário e outros escritos, há artigos, entrevistas e cartas originalmente publicadas em veículos como o Jornal do Commercio, o Correio Paulistano, a Gazeta de Notícias e a revista A Rajada. A nova edição da UNESP transcreveu esses documentos a partir dos periódicos originais, localizados por pesquisadores como a própria Gênese Andrade e Thiago Gil Virava, que também é responsável pelo ensaio introdutório “Construtores da necrópole viva: Oswald de Andrade e Victor Brecheret antes de 1922”.

De certa forma, transparece nesse conjunto um Oswald fundamentalmente político. Político pois não quer apenas apresentar suas ideias ao público – movimenta-se pelo cenário como o líder de uma facção que tem a intenção clara de “assaltar o céu” e criar uma nova hegemonia. Promove seu partido na arte dizendo-o indissociável da modernização da sociedade brasileira. Fustiga o adversário e busca desmoralizá-lo com artigos críticos às concepções artísticas que diz “passadistas”, parnasianas. Instiga a ampliação de seu movimento travando contato e fortalecendo relações com outros grupos que julga terem intenções convergentes. Propagandeia os eventos que organiza a fim de garantir máxima repercussão.

Isso não quer dizer, porém, que os textos tenham uma coesão absoluta. Como a organizadora ressalta no artigo “A ofensiva nos jornais: Oswald de Andrade e o movimento artístico em torno de 1922”, que abre o volume e também foi publicado com exclusividade por Outras Palavras, é possível perceber uma série de transformações na estilística e nas ideias do artista.

Não foi de uma hora pra outra, mas sim paulatinamente, que se constituiu o reconhecível estilo da escrita de Oswald, entremeado pelas gírias e pela fala popular. Parece cômico dizer, mas há trechos seus quase indistinguíveis dos de um parnasiano – nenhuma contraposição é total, há sempre elementos do velho no novo. Foi processual também a definição do nome de seu movimento. O “modernismo” e os “modernistas” demoram para se fixar, quase na boca da Semana. Antes, Mário de Andrade é definido como “poeta futurista”, e os escritores de seu grupo faziam “literatura nova”.

Assim, mais do que fotografia estática da vida e obra de Oswald, Arte do Centenário e outros escritos é imagem em movimento, é um pequeno filme (arte por excelência da modernidade, diz Benjamin), é expressão do processo histórico que teve como um de seus participantes este filho da elite paulistana, formado no tradicional Largo do São Francisco e muito viajado pela civilizada Europa.

Neste sábado, 22 de outubro, completam-se 68 anos do falecimento de Oswald de Andrade. As apreciações de sua figura, de sua arte e de seu legado político-cultural são muitas. É especialmente aguda a crítica que assinala o problema do paulistocentrismo de uma leitura histórica que diz que o convescote da oligarquia cafeeira foi o alfa e o ômega da cultura brasileira, suprimindo a multiplicidade de forças sociais e visões de mundo que compuseram o grande momento vivido pela arte nacional no século XX. Certo é, por outro lado, que há um antes e um depois de 1922. E que Oswald foi esperto em estimular sua própria imortalização.

Comemorando o “centenário do Centenário”, sortearemos três exemplares de Arte do Centenário e outros escritos, coletânea de textos de Oswald de Andrade organizada por Gênese Andrade, entre os leitores que apoiam financeiramente o nosso jornalismo. O sorteio é organizado em parceria com a Editora UNESP, que publicou o livro.

 

Veja em: https://outraspalavras.net/blog/oswald-de-andrade-e-o-centenario-da-independencia/

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