Estudo aponta que esses territórios são responsáveis por apenas 10% de todas as emissões de CO2 na floresta. Cientistas reforçam importância de fortalecer e preservar áreas sob a administração de povos indígenas.
Créditos da foto: DW/N. Pontes. Cientistas também chamam a atenção para a cada vez mais vulnerável situação da Amazônia
As terras indígenas (TIs) e as áreas nacionas protegidas (ANPs) da Floresta Amazônica representam apenas 10% de todas as emissões de carbono das florestas tropicais dos nove países amazônicos, revelaram pesquisadores nesta segunda-feira (27/01).
O estudo, publicado na revista científica americanaProceedings of the National Academy of Sciences, comprova a importância das terras indígenas para a manutenção dos estoques de carbono, que ajudam a regular o clima e evitar que o aquecimento global seja mais intenso.
A Amazônia, como a maior floresta tropical do mundo, é considerada fundamental para o combate às mudanças climáticas, pois armazena uma grande quantidade de carbono. As árvores absorvem dióxido de carbono do ar, em um processo conhecido como “sequestro de carbono”. No entanto, quando são cortadas, liberam CO2 ao serem queimadas ou ao apodrecerem.
A pesquisa mostra que de 2003 a 2016 a Amazônia foi uma fonte líquida de carbono para a atmosfera: a região liberou cerca de 1.290 milhões de toneladas de carbono, quando contabilizados perdas e ganhos.
Pesquisas anteriores se concentraram amplamente nas emissões de carbono ligadas ao desmatamento. O novo estudo, porém, também leva em conta as emissões causadas por fatores naturais, como a seca, e ganhos obtidos com o crescimento da floresta.
Por meio de imagens de satélite e visitas de campo, a pesquisa mostrou que o crescimento de árvores ajudou as terras indígenas – que cobrem cerca de um terço da Amazônia – a registrarem a menor perda líquida de carbono.
Terras indígenas e áreas protegidas armazenaram mais da metade (58%) do carbono da região em 2016, mas foram responsáveis por apenas 10% da variação líquida, com 86% das perdas nessas terras compensadas por ganhos com o aumento da floresta.
Enquanto isso, áreas fora de TIs e ANPs foram responsáveis por cerca de 70% das perdas totais de carbono e quase 90% da variação líquida.
Das quatro categorias de terras consideradas pelo artigo, as TIs tiveram a menor perda líquida de carbono (-0,1%). Nas ANPs, essa cifra foi de -0,6% e, em terras sem proteção, de -3,6%.
Os autores defendem que o crescimento contínuo de florestas em territórios indígenas permitiu que essas terras compensassem as emissões de degradação e perturbação. Ainda assim, 47% da perda total de carbono em áreas protegidas em geral foi atribuída a esses dois fatores.
Importância da preservação
Ao publicar o artigo, os cientistas reforçam a importância de preservar as áreas indígenas. O estudo destaca que, “embora as emissões dentro dos territórios indígenas e áreas naturais protegidas permaneçam bem abaixo dos níveis externos, o desmatamento insustentável de florestas está em ascensão na região dos nove países”.
Eles também chamam a atenção para a cada vez mais vulnerável situação da Amazônia, muitas vezes negligenciada, e para a tendência ao enfraquecimento da proteção ambiental e dos direitos indígenas.
“Nosso trabalho mostra que as florestas sob a administração de povos indígenas e comunidades locais têm melhores resultados de carbono do que as terras sem proteção, o que significa que seu papel deve ser fortalecido para que os países da bacia amazônica consigam manter esse recurso globalmente importante, ao mesmo tempo em que cumprem seus compromissos sob o Acordo Climático de Paris”, avalia Wayne Walker, autor principal do estudo e cientista do Woods Hole Research Center, organização de pesquisa científica que estuda os impactos das mudanças climáticas.
O estudo usou e atualizou os dados publicados pela primeira vez na revista Science em 2017.
Participaram da pesquisa cientistas, especialistas em política e líderes indígenas ligados ao Woods Hole Research Center, Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Rede Amazônica de Informação Socioambiental (Raisg) e Fundo de Defesa Ambiental (EDF).
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