Clipping

A cisão na COP sobre “eliminar” ou “reduzir” fontes fósseis

Rascunhos do acordo final da COP28 mencionam a “redução/eliminação gradual” dos combustíveis fósseis, um ponto que deverá ser contestado. Qual é a diferença entre ambos, e ela importa?

Por: Martin Kuebler | Créditos da foto: Jewel Samad/AFP. Moradores da capital da Índia, Nova Délhi, enfrentam névoa de poluição com frequência

A produção de energia a partir de combustíveis fósseis, maior origem das emissões de gases de efeito estufa que esquentam o planeta, sempre provocou discórdia nas conferências climáticas da ONU. O fato de a cúpula deste ano ter como anfitrião os Emirados Árabes Unidos, um líder global no setor de petróleo e gás, deu ainda mais destaque a esse conflito.

O sultão Al-Jaber, que preside as negociações climáticas da COP28 e ao mesmo tempo dirige a gigante estatal de petróleo ADNOC, negou o conteúdo de reportagens publicadas na mídia nas quais ele parecia questionar o consenso científico de que o carvão, o petróleo e o gás devem ser eliminados gradualmente para conter o aquecimento global.

Nesta segunda-feira (04/12), Al-Jaber falou novamente a jornalistas que seus comentários haviam sido tirados de contexto e que ele está “concentrado” em encontrar uma maneira de limitar o aquecimento global a 1,5º graus Celsius acima da era pré-industrial.

“Disse várias vezes que a redução gradual e a eliminação gradual dos combustíveis fósseis são inevitáveis, que são essenciais”, disse Al-Jaber.

Eliminação ou redução gradual?

Pode parecer apenas uma palavra, mas a diferença é significativa. A redução gradual significa que os países concordariam em reduzir o uso de combustíveis fósseis em favor de fontes mais limpas, como eólica, solar, hidrelétrica e energia nuclear. Mas os combustíveis fósseis seguiriam fazendo parte da matriz energética global enquanto prosseguem os esforços para controlar as mudanças climáticas.

Já a eliminação gradual demanda o fim da queima de combustíveis fósseis para produzir energia. Esse plano de ação, até o momento, não recebeu muito apoio dos delegados em cúpulas climáticas anteriores, especialmente entre as nações que dependem das exportações de petróleo e gás para suas receitas.

Grandes produtores como os Estados Unidos, a Rússia e a Arábia Saudita resistiram anteriormente aos apelos para eliminar o uso de combustíveis fósseis. Nesta segunda-feira, o ministro saudita da Energia, Abdulaziz bin Salman, disse que “de forma alguma” concordaria com a redução gradual dos combustíveis fósseis, muito menos com sua eliminação.

“E garanto a vocês que nenhuma pessoa – estou falando de governos – acredita nisso”, disse ele à Bloomberg TV.

No início do ano, a ministra de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente dos Emirados Árabes Unidos, Mariam Almheiri, apoiou a eliminação gradual das emissões provocadas por combustíveis, mas não da exploração de petróleo, gás e carvão. Ela argumentou que a eliminação gradual só prejudicaria os países que dependem dos combustíveis fósseis para sustentar suas economias.

“O mundo renovável está avançando e se acelerando extremamente rápido, mas não estamos nem perto de poder dizer que podemos abandonar os combustíveis fósseis e depender exclusivamente de energia limpa e renovável”, disse Almheiri à agência de notícias Reuters.

“Estamos agora em uma transição e essa transição precisa ser justa e pragmática, porque nem todos os países têm os recursos necessários”, disse. Um relatório de novembro de 2023 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente constatou que a empresa estatal de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, a ADNOC, tem um plano de investimento de 150 bilhões de dólares para ampliar sua capacidade de produção de petróleo até 2027.

Almheiri defendeu a eliminação das emissões de combustíveis fósseis por meio de tecnologias de captura e armazenamento de carbono, argumentando que os países poderiam combater o aquecimento e continuar produzindo petróleo, gás e carvão.

Os críticos, entretanto, afirmam que essa abordagem seria muito cara. E com menos de 0,1% das emissões globais capturadas por essa tecnologia atualmente, de acordo com a empresa de pesquisa BloombergNEF, é improvável que ela seja uma parte importante da solução no curto prazo.

 

Veja em:https://www.dw.com/pt-br/a-cis%C3%A3o-na-cop-sobre-eliminar-ou-reduzir-fontes-f%C3%B3sseis/a-67649181

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