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Após a eleição, como fica o governo da França?

Esquerda e centro barram ultradireita, mas também não conseguem maioria. Esquerda deve tentar indicar novo primeiro-ministro, mas governabilidade é incógnita, e Assembleia Nacional ainda arrisca paralisação.

Por: Jean-Philip Struck | Crédito Foto: Sadak Souici/Le Pictorium Agency/ZUMA/picture alliance. Para assegurar um governo estável na França, um bloco precisa garantir 289 das 577 cadeiras da Assembleia Nacional

A aliança de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e o centro macronista agrupado na coligação Juntos surpreenderam neste domingo (07/07), no segundo turno das eleições legislativas francesas, ao conseguirem formar as maiores bancadas da Assembleia Nacional, a câmara dos deputados da França.

De quebra, os dois blocos ainda ficaram à frente da ultradireitista Reunião Nacional (RN), que havia recebido a maior porcentagem de votos no primeiro turno e que em pesquisas no início da semana parecia caminhar para formar a maior bancada da Assembleia.

Mas o resultado ainda levanta questões sobre como fica a governabilidade da França, já que nenhum partido ou coligação conseguiu formar maioria na Assembleia de 577 cadeiras.

Segundo os resultados finais, a NFP conquistou o maior número de cadeiras: 182. O Juntos, do presidente Emmanuel Macron, veio na sequência, com 168. Já a RN, o partido de Marine Le Pen, e uma facção aliada da direita conservadora conquistaram 143.

Assembleia fragmentada

No sistema semipresidencialista da França, o presidente e os membros do governo são eleitos separadamente. Um presidente depende de um primeiro-ministro indicado pela Assembleia Nacional para assegurar a governabilidade. Para obter a maioria absoluta e poder liderar um governo estável, um partido ou coligação precisa de 289 das 577 cadeiras na Assembleia Nacional.

O resultado deste domingo foi visto com alívio por militantes de esquerda e de centro, já que afastou decisivamente a possibilidade de a RN formar uma maioria e controlar o governo. No entanto, nem a NFP nem o Juntos de Macron conseguiram maioria.

A Assembleia Nacional já vive um impasse desde 2022, quando Macron perdeu sua maioria nas eleições legislativas daquele ano.

A convocação da eleição deste domingo foi feita pelo presidente justamente para tentar recuperar sua maioria – uma aposta fracassada, como se viu neste segundo turno, já que na realidade Macron até viu seu número de deputados diminuir em relação a 2022 e ainda se deparou com crescimento dos seus rivais de esquerda e ultradireita.

Ainda que a ultradireita tenha sido barrada, o aumento da fragmentação da Assembleia Nacional, com nenhum bloco tendo a maioria, ainda tem potencial de provocar uma paralisia semelhante a que vem marcando a casa desde 2022.

Neste caso, o Legislativo francês arrisca ficar travado por pelo menos um ano – prazo mínimo para a convocação de uma nova eleição.

O resultado da eleição legislativa, a princípio, não afeta diretamente a permanência de Macron na Presidência. Seu mandato vai até 2027.

Esquerda no comando do governo? E como?

Os números permitem prever que a esquerda, detentora agora da maior bancada, tentará indicar o novo primeiro-ministro.

O político de esquerda Jean-Luc Mélenchon, um dos líderes da NFP, afirmou neste domingo, após a divulgação das primeiras projeções, que sua aliança está “pronta para governar”.

Restará saber como a NFP pretende organizar esse governo e quem será o indicado para o cargo de primeiro-ministro.

A NFP foi formada às pressas logo após Macron convocar a eleição legislativa, em 9 de junho. O grupo é formado pelos partidos A França Insubmissa (LFI), de esquerda radical; o tradicional Partido Socialista (PS); o Partido Comunista; e Os Verdes.

Mas, apesar do sucesso neste domingo, a NFP transpareceu várias divisões internas durante a campanha. Em contraste com outras coligações, ela não indicou em nenhum momento durante a campanha quem era seu candidato ao cargo de primeiro-ministro.

Além da incógnita sobre o nome, ainda restará saber se a NFP liderará um governo de minoria (como o que vinha sendo liderado pelo macronista Gabriel Attal) ou se será capaz de formar uma coalizão com deputados do Juntos de Macron. Somadas, as duas bancadas alcançariam os 289 deputados necessários para formar um governo estável.

Já um governo de esquerda de minoria arriscaria instabilidade, ficando sujeito a votos de não-confiança por parte de blocos rivais, que, em caso de sucesso, poderiam derrubar a administração.

Em ambos os casos, Macron estaria sujeito a uma “coabitação”, quando o presidente e o primeiro-ministro são de blocos diferentes (ou mesmo rivais). Esse cenário já aconteceu três vezes (1986-1988, 1993-1995, e 1997-2002).

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