Sem prazo para acabar, operações contra incêndios dependem menos de água e mais de brigadistas para confinar chamas em perímetro seguro.
Por: Nádia Pontes | Crédito Foto: Andre Penner/AP Photo/picture alliance. Cena de aviões ou helicópteros despejando água nas chamas não é comum no Brasil
O poder e a duração das chamas desafiam o planejamento de combate aos incêndios na Floresta Amazônica nesta temporada. Sem previsão de chuva consistente no horizonte, a operação contra o fogo em várias regiões, que costumava ser encerrada no início de outubro, não tem data para acabar neste ano de seca recorde com sinais de agravamento da crise climática.
“Este tem sido o pior ano para o combate, para as operações. O comportamento do fogo está muito extremo, tem rajadas de vento muito fortes e as chamas mudam de direção toda hora”, afirma Ana Canut, chefe de operações do Prevfogo, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).
Canut falou com a DW direto da Terra Indígena do Xingu, Mato Grosso (MT). A missão dela é estabelecer as prioridades da operação, mobilizar as equipes e manter estratégia e tática de acordo com o planejado. No Xingu, pelo menos dois grandes incêndios estão ativos há quase um mês e o mais importante no momento é proteger as aldeias, já que existe o risco de elas serem atingidas.
É praticamente impossível apagar o fogo na Amazônia com trabalho humano direto. A alta temperatura impede que brigadistas cheguem muito perto, e despejar água da aeronave é pouco eficiente. A copa das árvores impede que água chegue em grande quantidade sobre as chamas de forma eficaz.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, estão mobilizados 3.518 profissionais em campo neste momento. A maior parte deles, 2.728, são do Ibama e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os demais integram as Forças Armadas e Força Nacional. Dão apoio às operações 29 aeronaves.
Linha de defesa na Amazônia
Numa floresta úmida, como é o caso da Amazônia, o fogo consome o que está mais perto do solo. Ele é alimentado principalmente pelas folhas caídas no chão – material chamado de serrapilheira –, e pela vegetação rasteira. As chamas dificilmente chegam a consumir a copa das árvores por completo.
Quando o incêndio já está instalado, a estratégia mais usada de combate é a abertura de linhas de defesa na floresta. A técnica prevê a remoção da vegetação em volta da área crítica para “cortar” o combustível que mantém o incêndio.
“A gente chega, faz um reconhecimento e analisa o comportamento do fogo. Se ele está ‘pequeno’, a gente faz o combate direto. Quando ele está muito intenso, a gente fica mais longe e faz as linhas de defesa”, detalha Macsuel Juruna, brigadista em ação na Terra Indígena Capoto Jarina (MT), no baixo Xingu.
A linha de defesa interrompe a ligação entre o material seco disponível – folhas, galhos, vegetação seca – e o fogo. “Se o fogo chegar ali, ele não vai passar. E se passar, o brigadista está ali cuidando e vai combater. Por isso é fundamental a vigilância na linha de defesa”, detalha Marivaldo Gonçalves, combatente do Prevfogo de Rondônia com 13 anos de experiência.
Depois que o fogo é confinado numa área, o trabalho é de controlar o perímetro do incêndio, extinguir as chamas menores e monitorar a área até que não haja mais possibilidade de reignição.
Quando há tempo para planejar ações, a estratégia é construir aceiros, que é a “limpeza” da vegetação seca que alimenta o fogo. “Ela é feita antes do incêndio, quando se quer proteger uma área. A largura do aceiro é feita na proporção dos incêndios na região: pode ter um dois, quatro metros”, explica Marcio Yule, que atua no Prevfogo desde 1995.
Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/como-o-brasil-combate-inc%C3%AAndios-florestais/a-70426664
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