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Por que região de MG se tornou exportadora de migrantes

Governador Valadares ganhou fama pela grande quantidade de moradores que foram para os Estados Unidos. Nem mesmo Trump deve ser capaz de fazer valadarenses desistirem de sonho americano.

Por: Jéssica Moura / Maurício Cancilieri | Crédito Foto: Romilson Carvalho/DW. História ajuda a explicar onda migratória de Governador Valadares

O leste de Minas Gerais é um dos principais polos de exportação de imigrantes brasileiros para os Estados Unidos. Embora o presidente dos EUA, Donald Trump, tenha endurecido a política migratória, essa mudança não deve ter grande impacto no influxo clandestino de brasileiros, avaliam especialistas e autoridades. E o sonho americano continua em alta na região de Governador Valadares.

“Há uma demanda das pessoas que querem tentar a vida nos Estados Unidos. Tentam entrar de forma legalizada, a princípio, mas não conseguem o visto de trabalho e terminam caindo nas redes criminosas. Por isso não acho que uma política migratória mais dura vai ser capaz de frear essa demanda. Na verdade, vai aumentar a clandestinidade”, diz o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Alexandre Chaves, que investiga o contrabando de imigrantes.

O epicentro dessa exportação de imigrantes no país são cidades do interior mineiro, como Sobrália, São Geraldo da Piedade e Fernandes Tourinho. Elas lideram o ranking do IBGE entre os municípios de onde mais saem brasileiros rumo aos Estados Unidos, em relação ao tamanho da população. A lista de 2010 desconsidera as capitais. As três cidades estão no entorno de Governador Valadares – local de onde partiram os primeiros imigrantes brasileiros que foram para os EUA.

Ao longo de mais de 60 anos, o intercâmbio cultural e econômico consolidou entre a população valadarense a ambição de perseguir o sonho americano. “O contato com quem foi para lá, esse movimento migratório criou essa ideia de que nos Estados Unidos é possível realizar grande parte dos sonhos, independente das políticas e das condições, sempre vai existir esse sonho de que lá é possível ter uma melhora na qualidade de vida”, explica Sueli Siqueira, socióloga da Universidade Vale do Rio Doce (Univale).

As marcas da exaltação dessa cultura de imigração estão espalhadas por Governador Valadares: desde uma estátua de um homem com uma mochila nas costas na praça do Emigrante, até outdoors em apoio às campanhas de Donald Trump e Kamala Harris à presidência dos Estados Unidos. Um dos empreiteiros americanos que fundou o primeiro Rotary Club da cidade e impulsionou o intercâmbio de pessoas, Mister Simpson, dá nome a um viaduto.

Guerra e economia

A relação entre Washington e Governador Valadares se estreitou durante a Segunda Guerra Mundial com a instalação de empresas americanas na cidade, que empregavam moradores locais na extração e beneficiamento da mica – minério que era usado como isolante térmico para aviões de combate e submarinos.

Para escoar essa produção aos países do Eixo, o então presidente Getulio Vargas firmou acordos com os Estados Unidos, os quais previam que empreiteiros americanos reformassem a estrada de ferro que corta a região.

A extração da mica proporcionou um período de rápido crescimento econômico, com a abertura de negócios paralelos como siderúrgicas e serrarias, além de levar ao crescimento da população, que saltou de 80 mil, em 1960, para 124 mil, em 1970. No entanto, uma vez que a pujança estava baseada na extração de recursos naturais, a economia entrou em declínio com a devastação da floresta e da redução da capacidade do solo.

Com o declínio econômico, a população da cidade passou a emigrar em busca de alternativas de trabalho e os Estados Unidos se tornam uma rota possível. “Queriam trabalhar, juntar uma poupança, retornar e abrir um negócio ou construir uma casa em Governador Valadares”, explica o historiador da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) Haruf Espíndola. “A busca por alternativas de trabalho, combinada com o dólar valorizado favoreceu a imigração.”

 

Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/por-que-regi%C3%A3o-de-minas-gerais-se-tornou-exportadora-de-migrantes-para-os-eua/a-71537040

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