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Mídias indígenas: por uma comunicação intercultural

O poder da comunicação para os povos indígenas no compartilhamento de saberes, reflexões e demandas das comunidades

Por Thaís Brito

Se os indígenas são especialistas em fim de mundo, como sugere o conhecido antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, não haveria momento mais adequado – e urgente – para ouvir os indígenas e refletir a partir das suas experiências. Nesse momento de crise planetária, as Ideias para adiar o fim do mundo, compartilhadas por Ailton Krenak, tornam-se imprescindíveis.

Ao questionar-se como os povos originários do Brasil lidaram com a colonização que tentou acabar com o seu mundo, e sobreviveram a ela, Krenak lembra que os indígenas resistiram expandindo sua subjetividade e não aceitando a ideia de que somos todos iguais. Afinal, existem aproximadamente 350 etnias diferentes no território brasileiro, que falam cerca de 170 línguas. “Tem quinhentos anos que os índios estão resistindo. Eu estou preocupado é com os brancos, como vão fazer para escapar dessa”, afirma o ambientalista e líder indígena no livro citado.

A provocação de Krenak remete, de alguma forma, às palavras de outro pensador ameríndio contemporâneo, o xamã yanomami Davi Kopenawa e sua elaborada e precisa definição sobre aqueles que chama o povo da mercadoria. Sim, nós mesmos. Na perspectiva apresentada pelo yanomami em “A Queda do Céu”, os brancos possuem um desejo desmedido pelas mercadorias e, se pudessem escutar outras palavras que não as relacionadas a essa mercadoria, “não teriam tanta gana de comer nossa floresta”.

Como expressa Kopenawa, “os brancos dormem muito, mas só sonham com eles mesmos”, são “gente de pensamento curto” e este pensamento está “cheio de esquecimento e vertigem”, pois permaneceram “cravados nos minérios e nas mercadorias por tempo demais”. Ainda ao tratar sobre o povo da mercadoria, Kopenawa afirma que, “por manterem a mente cravada em seus próprios rastros, os brancos ignoram os dizeres distantes de outras gentes e lugares”. “Não há dúvidas de que eles têm muitas antenas e rádios em suas cidades, mas estes servem apenas para escutar a si mesmos”, enfatiza.

Ao fazermos uma reflexão em diálogo com o pensamento do xamã yanomami, podemos nos perguntar qual é o papel dos meios de comunicação nesse cenário de crise planetária, uma vez que não conseguem se comunicar com outros povos que poderiam pensar soluções (ou reformular perguntas) diversas daquelas que temos até o momento. As nossas supostas soluções não estariam servindo mais para aprofundar a crise do que qualquer outra coisa? Além disso, é possível uma comunicação intercultural? E que espaços a etnomídia ocupa no cenário midiático global?

 Saiba mais em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/midias-indigenas-por-uma-comunicacao-intercultural/

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