Apenas alguns Distritos de Saúde Indígena receberam testes rápidos para o coronavírus, pouco precisos. Médicos relatam medo de contaminar indígenas e questionam necessidade de manter atendimento regular nas aldeias.
As equipes médicas vinculadas à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) que atuam nas aldeias não estão sendo testadas clinicamente para o novo coronavírus. Alguns Distritos de Saúde Indígena (DSEIs) receberam testes rápidos – que não oferecem a precisão necessária para detectar todos os casos assintomáticos. Profissionais que atuam na linha de frente da saúde indígena relataram à DW Brasil terem medo de transmitir o vírus aos indígenas e provocar uma tragédia.
O quadro é especialmente preocupante entre os povos de recente contato, que ainda viviam isolados da sociedade até pouco tempo atrás. Por não terem sido expostos a “doenças de branco”, como a gripe, seus corpos não possuem memória imunológica e têm grande dificuldade para responder a uma infecção viral com efeitos tão graves como os decorrentes da covid-19, a doença respiratória causada pelo novo coronavírus.
Ante essa vulnerabilidade, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou, neste mês, que a Sesai se estruture para realizar testes clínicos, do tipo PCR, antes da entrada dos profissionais de saúde em áreas indígenas. Em resposta ao MPF, a secretaria disse não ter capacidade de processar kits de exames laboratoriais algo que só é feito pelos laboratórios de referência do Sistema Único de Saúde (SUS).
O procurador federal Gustavo Kenner (MPF-PA), que assina a recomendação, admite dificuldades logísticas para a realização dos testes clínicos. No Pará, estado onde atua, somente a capital, Belém, dispõe de laboratório para processamento. Apesar das limitações, Kenner defende a implementação de estruturas que possibilitem, ao menos, a coleta dos exames nos locais atendidos pelos DSEIs.
“Isso precisa ser garantido, inclusive para evitar que os indígenas precisem se deslocar das aldeias até as cidades quando precisarem ser testados, o que aumenta o risco de exposição”, afirma o procurador. “O teste rápido é um grande problema hoje. A testagem negativa ainda tem muita falha. Sendo assim, uma pessoa infectada pode ser liberada para entrar na aldeia por um resultado falso.”
Procurada pela reportagem da DW Brasil para comentar a recomendação do MPF, a Sesai limitou-se a afirmar que enviou 10.380 unidades de testes rápidos para covid-19 aos 34 DSEIs. A Secretaria informou que a prioridade é testar os profissionais que vão entrar em áreas indígenas e que isso tem sido feito à medida que as equipes são destacadas para atuar nas aldeias.
A DW Brasil apurou, nos últimos dias, que faltavam testes rápidos em diversos DSEIs da região Norte. Mesmo assim, as equipes continuavam a entrar nas aldeias. Há locais que receberam os testes, mas pararam de usar, por constatarem o risco de falso diagnóstico. Profissionais denunciam, ainda, a ausência de planos de contingência para a pandemia.
Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/sem-serem-testadas-para-covid-19-equipes-que-atendem-ind%C3%ADgenas-temem-trag%C3%A9dia/a-53286113
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