Foram derrubados 566 mil hectares entre agosto de 2019 e abril de 2020, quase o dobro em relação ao último período. Só no Xingu, devastados 9 mil hectares de áreas protegidas. Casos de covid-19 avançam junto com catástrofe
Por Instituto Socioambiental
No ano passado o Brasil registrou a maior taxa de desmatamento na Amazônia Legal dos últimos dez anos e este cenário tende a piorar. Já foram desmatados 566 mil hectares apenas entre agosto de 2019 e abril de 2020, o que revela, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), uma tendência de aumento de 94% em relação ao período anterior.
Seis organizações da sociedade civil alertam para a escalada do desmatamento em documento enviado hoje (17/06) ao Ministério Público Federal. O documento também foi entregue ao Ministério Público Estadual e ao governo do Pará, epicentro da destruição da floresta: dos dez municípios mais desmatados no ano passado, seis estão ali. O estado contabiliza um aumento de 170% da taxa de desmatamento no período de agosto de 2019 a abril de 2020, com 233 mil hectares desmatados. [Leia na íntegra]
O documento, assinado pela Rede Xingu +, Greenpeace Brasil, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e Instituto Socioambiental (ISA), pede que sejam tomadas ações efetivas e urgentes a nível federal e estadual para coibir o desmatamento.
O texto alerta para a interiorização do Arco do Desmatamento, que desponta ao longo de rodovias como a Transamazônica, BR-163 e PA-279 e pressiona Terras Indígenas e Unidades de Conservação. As Áreas Protegidas da bacia do Xingu, entre os estados do Pará e Mato Grosso, figuram entre as regiões mais vulneráveis, com quase nove mil hectares desmatados só neste ano, 56% a mais do que o mesmo período de 2019. Vale ressaltar que quase a totalidade do desmatamento em TIs e UCs, 99%, ocorreu na porção paraense da bacia.
Desmatamento deve piorar crise de Covid-19
Ações de fiscalização e controle são imperativas com o fim da estação das chuvas na Amazônia, época em que o desmatamento tende a crescer e, por consequência, as queimadas e incêndios florestais. Levantamento do Inpe revela que 78,4 mil focos de queimadas foram detectados entre agosto e abril, 20% a mais do que o período anterior.
As queimadas provocam aumento do material particulado emitido para a atmosfera, degradando a qualidade do ar, e, consequentemente, aumentando a incidência de doenças respiratórias na população Amazônica. A sobrecarga dos sistemas de saúde, que já operam em capacidade máxima por conta da pandemia de Covid-19, é iminente.
“A poluição do ar provocada pelas queimadas pode agravar ainda mais a situação das populações locais, e até do sudeste, provocando doenças respiratórias para as quais não teremos médicos nem hospitais em meio à pandemia e agravando o quadro de saúde daqueles já acometidos pela Covid-19”, destaca o estudo.
Além de destruir a floresta e a ameaçar a integridade das populações tradicionais que ali vivem, o desmatamento ilegal representa mais uma ameaça: a contaminação de ribeirinhos, indígenas e quilombolas.
“As ações de combate ao desmatamento fazem-se ainda mais urgentes e necessárias em meio à pandemia da Covid-19, uma vez que os criminosos ambientais podem contagiar as populações mais distantes de qualquer atendimento médico, especializado ou não, e com sistema imunológico mais vulnerável, como as indígenas e, sobretudo, povos isolados”, alerta o documento.
As organizações que subscrevem o documento pedem providências ao Ministério Público federal e estadual e ao governo do estado do Pará para combater as organizações criminosas que promovem o desmatamento e a apropriação de terras e de recursos, como madeira e ouro.
No texto, ressaltam que o Ministério Público precisa estruturar as promotorias e procuradorias que atuam na bacia do Xingu para o combate ao crime organizado, a partir de investigação de inteligência e acúmulo de conhecimento e experiência, a exemplo da Força Tarefa Amazônia (MPF) e das promotorias regionais agrárias (MPE). Pedem, ainda, que o governo do estado do Pará promova uma atuação coordenada entre seus órgãos para combater o desmatamento, a apropriação ilegal de terra pública e a comercialização de produtos oriundos de áreas ilegalmente desmatadas.
Saiba mais em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/amazonia-os-dados-que-anunciam-a-tragedia/
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