Áudios e mensagens de texto com ataques a indígenas do município de General Carneiro, no interior de Mato Grosso, se tornaram alvos do Ministério Público Federal (MPF). Os comentários ofensivos foram compartilhados nas últimas semanas em um grupo de WhatsApp destinado aos moradores da cidade.
Vinicius Lemos
Nos áudios e nas mensagens de texto, os indígenas são apontados por alguns moradores como os principais responsáveis por propagar a covid-19 no município mato-grossense.
Os comentários ofensivos começaram, principalmente, após os moradores notarem que a maioria dos casos de covid-19 na cidade, até o momento, tinham sido registrados nas aldeias da região.
“Ô, companheiro, isso daí só é índio, rapaz… não é gente, não (…). Dentro de General mesmo, o número de infectados é muito pouquinho, graças a Deus. Agora os índios… esse povo aí é sem cultura, sem religião, quem dá conta desse povo aí?”, disse um homem em um dos áudios compartilhados no grupo.
A cidade mato-grossense tem 5,5 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Parte da população é composta por indígenas pertencentes aos povos bororo e xavante.
“Ô, companheiro, isso daí só é índio, rapaz… não é gente, não (…). Dentro de General mesmo, o número de infectados é muito pouquinho, graças a Deus. Agora os índios… esse povo aí é sem cultura, sem religião, quem dá conta desse povo aí?”, disse um homem em um dos áudios compartilhados no grupo.
A cidade mato-grossense tem 5,5 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Parte da população é composta por indígenas pertencentes aos povos bororo e xavante.
Os áudios
No grupo, intitulado “General Notícias Regiões”, alguns moradores utilizaram termos ofensivos ao se referir aos indígenas. “Palhaçada esse tanto de casos positivos (de covid-19) em General. Estou vendo que essa ‘porra’ desse lugar vai fechar por causa desses índios (…). Não estou aguentando esses capetas desses índios na porta de casa pedindo comida 24 horas”, disse uma moradora do município.
A mulher ainda defendeu, no áudio, que os indígenas sejam “trancados” nas aldeias para que não tenham contato com os demais moradores da cidade.
Em outro áudio, um homem chamou os indígenas da região de “bichos” e disse que eles precisam ser isolados, para proteger os outros moradores. “Tem que fechar as aldeias, né? Chegar lá, colocar a polícia lá e travar tudo. Teriam que fechar as aldeias para esses ‘bichos'”, afirmou.
Essas foram algumas das ofensas propagadas no grupo. A reportagem apurou que foram, ao menos, cinco áudios ofensivos nas últimas semanas, além de diversas mensagens de texto.
As ofensas preocuparam os indígenas da cidade. Os bororo, que vivem na Terra Meruri, consideraram as declarações como “violência moral, psíquica, ética e cultural” e afirmaram que a situação representa um caso de “preconceito, injúria racial e racismo”.
Eles classificaram os áudios como “extremamente preocupantes e com teor criminoso, inadmissível em nossa sociedade e no regime jurídico brasileiro”. Em documento assinado por lideranças da região, relatam que os ataques ocorrem desde junho, “por conta do perambulo e permanência na cidade, onde os moradores estão atribuindo a disseminação da pandemia ao trânsito de indígenas”.
No documento, os indígenas afirmam que temem que os áudios culminem em agressões físicas contra o povo, “tendo em vista a quantidade de casos de violências graves a indígenas registrados no país”.
Ainda no documento, eles argumentam que a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas destaca que deve haver respeito à liberdade e igualdade a todos.
O documento, que será encaminhado à Funai e ao MPF, pede que as mensagens compartilhadas no grupo de WhatsApp sejam investigadas e que os responsáveis pelas declarações sejam responsabilizados na Justiça.
Os bororo pedem também que sejam feitas ações de conscientização na cidade sobre a questão indígena, para combater o preconceito e o racismo.
“Com o avanço da tecnologia e dos meios de transporte, nós, povos indígenas, temos participado mais da rotina das cidades e no município de General Carneiro. Temos fortalecido o comércio local, somos ativos na economia e também devemos ser valorizados (…). Não buscamos atrito com os moradores, mas sim que os indivíduos envolvidos sejam julgados de acordo com a lei e que daqui pra frente possamos construir uma nova história”, conclui o documento.
Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53541373
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