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Mais uma chantagem do Guedes

Por Paulo Kliass

A semana começou com algumas iniciativas e declarações do Ministro Paulo Guedes, dando a falsa ideia de que ele continua a pleno vapor. Na verdade, o que ocorreu foi exatamente o oposto. Todo mundo percebeu que ele tinha recolhido um pouco o time de campo. Guedes andou um pouco sumido das páginas dos jornais, das telas da televisões e até mesmo das “laivis”, que costumava entusiasticamente fazer com exclusividade para seus coleguinhas da nata do sistema financeiro. Esse recuo estratégico do “old chicago boy” até que é bem compreensível, pois qualquer observador da cena política percebe que a maré não está para peixe. Assim, na dúvida, ele preferiu se resguardar e se esconder.

Mas agora ele voltou à tona, justamente no momento que começou a esquentar o clima e o debate em torno da sucessão do comando no Congresso Nacional. No caso específico da discussão entre os candidatos à presidência da Câmara dos Deputados, a questão fica mais perceptível. Ali a contraposição ao governo Bolsonaro é explícita em vários dos proponentes, de maneira que o plenário tende a converter-se em uma espécie de caixa de ressonância do que se manifesta no interior da própria sociedade.

As pesquisas de opinião começam a refletir uma tendência de inversão das curvas e dos índices de popularidade do governo. Aos poucos começam a chegar os efeitos de toda essa trapalhada que ele promoveu na questão da saúde. As evidências passam a gritar mais alto, como no caso desse verdadeiro genocídio no trato da questão da pandemia, incluído a tragédia que ocorre em Manaus, com a falta de oxigênio no sistema hospitalar. Com isso, Bolsonaro começa a sentir as repercussões desse desleixo, que ele mesmo tem promovido e estimulado, no aumento de sua rejeição entre a população.

Bolsonaro sente o calorzinho.

O vai-e-vem na abordagem da questão das vacinas também contribui para tanto. A incompetência do General que ele nomeou para o Ministério da Saúde já começa a oferecer uma retaguarda desguarnecida para o próprio Presidente da República. Bolsonaro se dizia contra as vacinas e sempre ridicularizou de público a iniciativa do governador de São Paulo e sua parceria com a empresa chinesa. Pois agora, resolveu correr atrás do tempo perdido e pretende surfar nas imagens dos imunizantes. A questão é saber se a população se deixará enganar mais uma vez nesse quesito.

Ao que tudo indica, o núcleo duro do governo já percebeu essa importante mudança na conjuntura. Assim, aparentemente começa a ser convencido da necessidade de promover alguma alteração de rota. Por pressão da opinião pública e mesmo de parlamentares de sua base aliada, os conselheiros de Bolsonaro perceberam que não tem como ele continuar sendo criticado, sem promover alguma reativação de mecanismo de proteção social. Afinal, ao contrário do que prometia a equipe de Paulo Guedes, a segunda onda chegou, se apresenta ainda mais forte do que a primeira e os efeitos sociais econômicos estão aí presentes no cotidiano para quem quiser ver.

Portanto, volta ao centro da agenda política a questão do auxílio emergencial. Aquele mesmo ao qual o Paulo Guedes se opunha desde o início, ainda nos primeiros sinais da pandemia em 2020. À época, ele propunha uma única parcela de R$ 200 e o governo foi derrotado no Congresso Nacional, uma vez que a proposta da oposição de um benefício a ser pago mensalmente no valor de R$ 600 foi aprovada em abril. Depois, em setembro, Paulo Guedes conseguiu convencer Bolsonaro a reduzir esse valor pela metade e mesmo esses R$ 300 tinham prazo de validade até 31 de dezembro. E assim foi feito: terminou o ano, acabou o auxílio.

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