O freio ao capitalismo sem limites depende, antes de tudo, da mobilização cidadã, segundo o economista Thomas Piketty
Por Leneide Duarte-Plon
“Defendo o controle do capital e a superação do capitalismo. Só assim nos projetaremos no século XXI.”
A frase é do mais lido e debatido economista do mundo, o francês Thomas Piketty, no documentário “Le Capital au XXIe siècle”, que está passando em Paris há algumas semanas.
O filme resume – em imagens de filmes de ficção, cenas de documentários e entrevistas em diversos países – 400 anos de capitalismo e as principais teses do livro homônimo, best-seller mundial lançado em 2013. A obra transformou Thomas Piketty no mais respeitado crítico do sistema capitalista.
Por que o capitalismo precisa ser superado ? Simplesmente porque como seu denso livro de mil páginas demonstra em detalhes, o sistema capitalista é, por natureza, uma máquina de fabricar desigualdades.
Millionaires for Humanity
No ritmo atual, segundo o economista, as sociedades ocidentais reproduzirão em pouco tempo as abissais desigualdades de um século atrás. Elas haviam sido atenuadas, com maior ou menor intensidade, graças à luta dos trabalhadores e sindicatos e também a políticas de Estado, como o New Deal de Franklin Roosevelt, que lançou numerosos projetos públicos subvencionados pelo Estado federal, reformas financeiras e regulamentação, com o objetivo de superar a crise econômica e social de 1929.
Recém-eleitos, Trump e Macron – como Reagan fizera na década de 1980 – deram verdadeiros presentes fiscais, diminuindo os impostos dos milionários. Menos egoístas, 83 milionários do mundo assinaram, há duas semanas, uma carta aberta publicada no site « Millionaires for Humanity » pedindo para pagar mais impostos, a fim de financiar parte dos estragos da crise do Covid-19. Eles querem que os mais ricos paguem mais, « imediatamente », « de maneira permanente », a fim de contribuir com a retomada da normalidade econômico-social pós-Covid-19.
Essa carta foi publicada antes da reunião dos ministros de Finanças do G20 e da cúpula europeia extraordinária sobre a retomada do crescimento da União Europeia. No texto, eles pedem que os governos « aumentem os impostos de gente como nós. Imediatamente, substancialmente e de maneira permanente. »
Nenhum milionário brasileiro assinou a carta.
Brasil tem desigualdade da Belle Époque europeia
Realizado por Justin Pemberton e Thomas Piketty, o documentário tem entrevistas com especialistas como o economista Joseph Stiglitz (Prêmio Nobel de Economia), o economista francês Gabriel Zucman, o cientista político Ian Bremmer, a jornalista do “Financial Times”, Gillian Tett, além do próprio Piketty.
O filme faz uma retrospectiva da evolução das sociedades ocidentais em direção a patamares cada vez menores de desigualdade. O crescimento de uma classe média no pós-guerra, as conquistas sociais dos trabalhadores e a criação do salário mínimo permitiram grandes avanços.
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