Governo afirma que medida vai reduzir preço do alimento no mercado interno argentino. Preços subiram 65,3% no último ano. Produtores criticam medida e convocam greve.
O governo da Argentina anunciou nesta terça-feira (17/05) que vai suspender por 30 dias as exportações de carne bovina enquanto finaliza “medidas emergenciais” contra o aumento dos preços no mercado interno. A decisão gerou polêmica e levou organizações agrícolas a convocar uma greve.
“Não podemos continuar vendo como os preços da carne sobem sem justificativa. O mais impressionante é que o preço da carne cresce e o consumo cai. Não é que o preço sobe porque a demanda cresce. Hoje consumimos o nível mais baixo de carne. E os preços crescem sem parar”, disse o presidente Alberto Fernández.
O presidente ainda considerou que “a questão da carne saiu do controle” e afirmou: “O que temos que fazer é colocar o preço da carne novamente em linha com a possibilidade de compra de um argentino, não com o poder de compra daqueles que exportam do exterior”.
O Ministério de Desenvolvimento Produtivo da Argentina informou que “em decorrência do aumento sustentado do preço da carne bovina no mercado interno” foi decidido implementar um conjunto de medidas “emergenciais” destinadas a “ordenar o funcionamento do setor”.
A Argentina é um dos países com maior consumo de carne bovina, mas a demanda caiu ao mínimo histórico devido à situação econômica – a inflação acumulada nos primeiros quatro meses do ano foi de 17,6%. Os argentinos consomem em média 49,2 quilos de carne bovina por ano, contra o pico de 69,3 quilos registrado em abril de 2009, segundo a Câmara de Indústria e Comércio de Carnes.
Os preços dos diferentes cortes de carne bovina aumentaram 65,3% em abril no país, na comparação com o mesmo mês em 2020, segundo o Instituto de Promoção da Carne Bovina Argentina (Ipcva).
O ministério também informou que a medida foi tomada para “restringir as práticas especulativas, melhorar a rastreabilidade das exportações e evitar a evasão fiscal no comércio exterior”.
A Comissão de Ligação das Entidades Agropecuárias, que reúne as associações que representam produtores e empresários do setor, rejeitou de maneira categórica a medida.
Em comunicado, a associação anunciou “a interrupção da comercialização de todas as categorias de gado a partir de zero hora de quinta-feira 20 de maio até as 24 horas de sexta-feira 28 de maio”.
Em 2020, as exportações argentinas de carne e couro bovinos alcançaram US$ 3,368 bilhões, uma queda de 16,5% na comparação com 2019. Os principais destinos foram China, Alemanha e Israel, segundo o instituto de estatísticas Indec. A Argentina é o quarto maior exportador mundial de carne bovinas, atrás de Brasil, Austrália e Índia, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Fernández já havia expressado preocupação com os aumentos dos preços no país, fundamentalmente dos alimentos.
“Estou muito preocupado com os aumentos dos preços, são inexplicáveis. Estou decidido a atacar este tema. Me preocupa muito porque é inexplicável. Sinceramente, não há nenhuma razão, além do aumento do consumo, para explicar os aumentos que aconteceram em março e abril”, declarou em uma entrevista no domingo ao canal C5N.
O presidente afirmou que “celebra” o fato de o país exportar carne, mas lamentou que isto provoque o aumento do preço para os argentinos.
A Argentina enfrenta uma recessão pelo terceiro ano consecutivo, agravada em 2020 pela pandemia da covid-19, que provocou uma queda de 9,9% do PIB. A pobreza alcança 42% da população.
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