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Campeãs nacionais conduzem a globalização

Por Marcio Pochmann | Créditos da foto: (Reprodução/Linkedin)

A consolidação da globalização desde o fim da Guerra Fria (1947-1991) estabeleceu as bases pelas quais emergiu a nova ordem econômica mundial. Resumidamente, três aspectos principais demarcam o ciclo sistêmico atual de acumulação da riqueza a impactar profundamente as relações hierárquicas no interior do centro econômico dinâmico mundial.

O primeiro aspecto decorre do aprofundamento do processo de monopolização competitiva nas estruturas de mercados que deslocou o comércio externo entre nações para predominante intracomplexos empresariais que também concentram investimentos e inovação tecnológica. As atuais grandes corporações transnacionais, embora se diferenciem da sua origem, ainda durante a segunda Revolução Industrial de Tecnológica no final do século 19, parecem mais se aproximar do poder e atribuição que a antiga Companhia Holandesa das Índias Orientais detinha em pleno século 15, quando havia a era dos grandes descobrimentos.

Naquela época, as grandes empresas recebiam apoio de reis para ampliar o comércio externo, podendo lançar bônus e ações direcionados ao financiamento do seu modelo de negócio de ocupação vastos territórios e populações no mundo. Nos dias de hoje, o gigantismo empresarial conta com receita e valor patrimonial privado que superam o Produto Interno Bruto (PIB) de diversos países, desconhecendo fronteiras territoriais e rompendo com soberania política e econômica das populações.

Na Coreia do sul, por exemplo, a 10a maior economia do mundo, o domínio da estrutura oligopolista pelos chaebol permite que apenas uma empresa com a dimensão da Samsung responda por cerca de 20% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do país. O novo mapa da estrutura do poder econômico no mundo responde por um conjunto de 43,1 mil maiores corporações transnacionais que controladas por menos de 150 empresas respondem por mais de 40% da riqueza global, sendo a maioria dominada por instituições financeiras (Goldman Sachs, JPMorgan, Barclays Bank, Chase Bank).

Sem paralelo na trajetória histórica do capitalismo, a concentração da propriedade privada assentada no poder de investidores institucionais (bancos, fundos de pensão, seguros e sociedades de investimento) se intensificou ainda mais desde a crise financeira de 2008. Com a ascensão incomparável de poucas e cada vez maiores corporações transnacionais a conduzir a trajetória da globalização, a relação hierárquica no interior do centro dinâmico passou a ser profundamente reconfigurada.

A começar pela centralização da riqueza financeira que permite, por exemplo, a maior controladora de ativos do mundo (BlackRock) deter, somente em sua carteira de gestão, a soma de mais de cinco trilhões de dólares equivalem ao PIB do Japão, a terceira economia mais rica do mundo. Ao se considerar a lista Bloomberg das 50 maiores corporações transnacionais do mundo, constata-se que no ano de 2020 elas adicionaram conjuntamente como valor a preço de mercado correspondente a 28% do PIB mundial, enquanto em 1990 não atingia a 5% do PIB do planetário.

O segundo aspecto principal referente ao atual ciclo sistêmico da acumulação de capital responde pela mudança na natureza da riqueza que decorre do modelo de negócio dominante. Com a emergência da economia dos dados, um pequeno grupo de corporações concentradas nas empresas de tecnologia (big techs) passou a monopolizar a estrutura geradora de uma nova fonte da riqueza no mundo.

Com suas escalas gigantescas de serviços inovadores e disruptivos de dimensão global, esses novos conglomerados privados operam plataformas digitais dominadoras economicamente a partir de imenso conjunto de dados gratuitamente disponibilizados por empresas, governos, famílias e indivíduos. Dessa forma, o modelo de negócio predominante se expressa por generalizado uso de técnicas sofisticadas (algoritmos) que interferem no cotidiano, mudando comportamento, quando não o dirigindo, como no caso exemplar da redução média de impostos governamentais obtidos pelas grandes corporações transnacionais de 35,5%, em 1990, para 17,4%, em 2020.

Nas últimas três décadas, a concentração de poder aberta pelo modelo de negócio das grandes corporações tecnológicas foi muito intensa, capaz de alterar a própria hierarquia de absorção da riqueza privada no mundo. No ano de 2020, por exemplo, a lista da Bloomberg das 50 maiores empresas do mundo continha 14 corporações transnacionais de tecnologia, enquanto em 1990 eram apenas 2.

Das 10 maiores empresas do mundo cotadas em bolsa ou mercados de balcão no ano de 2020 (Apple, Microsoft, Saudi Aramco, Amazon, Alphabet Google, Facebook, Tencent, Tesla, Berkshire Hathaway e Alibaba), sete pertenciam ao setor de tecnologia, uma petroleira, uma automobilística e uma de manufatura. Trinta anos antes, em 1990, as 10 maiores empresas do mundo (General Motors, Royal Dutch/Schell, Exxon, Ford Motor, IBM, Toyota Motor, Istituto per la Ricostruzione Industriale – IRI, British Petroleum, Mobil Oil e General Eletric) era, constituídas de quatro petroleiras, três automobilísticas, duas manufatureiras e uma de tecnologia.

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