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A Índia está à beira de uma catástrofe – e o governo de extrema-direita será o responsável

O premiê Narendra Modi investiu mais em defesa do que em saúde em seu governo e não tomou as medidas preventivas necessárias contra a pandemia da COVID-19, o que levará o já sucateado serviço de saúde do país ao colapso. Intelectuais e militantes pedem a libertação dos presos políticos que estão em prisões superlotadas, onde 67% dos presos ainda aguardam julgamento.

Por Asif Bukhari Tradução Rafael Limongelli

A Índia tinha, até 4 de abril, 2.902 casos confirmados de coronavírus e 68 mortes. Isso pode não parecer especialmente alto para um país com mais de um bilhão de pessoas, mas a primeira resposta séria do governo à disseminação global do vírus só ocorreu em 22 de março, mais de três semanas após os primeiros casos terem sido relatados: todos eram de Kerala e envolveram estudantes que haviam retornado de Wuhan.

Um mês antes, o primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, reuniu nada menos que 125.000 pessoas em um estádio em Ahmedabad para dar a Donald Trump uma espécie de boas-vindas reais em sua visita ao país. Modi e seus aliados justificaram a extravagância deste evento com o argumento de que ele levaria a grandes acordos comerciais entre a Índia e os Estados Unidos.

Sem previsões

Claro, nada aconteceu. Mas a reunião também sublinhou a falta de seriedade que caracteriza a abordagem do governo ao desastre iminente da saúde, apesar dos avisos repetidos. Trump, no momento em que estava sendo festejado em Gujarat, estava pedindo ao Congresso US $ 1,25 bilhão para reforçar os preparativos dos EUA para a crise. No entanto, em 12 de março, o Ministério da Saúde da Índia ainda anunciava publicamente que a crise do COVID-19 não representava uma “emergência de saúde”.

Essa total falta de previsão e preparação forçou Modi a uma série de medidas evidentemente retóricas, como apelar – orquestrar, em vias de fato – um fechamento de um dia (chamado de “toque de recolher”) seguido na mesma noite por panelaços e celebrações na rua. Modi então ordenou um confinamento repentino, anunciado rapidamente, em todo o país no dia 24 de março – com apenas quatro horas de antecedência, sem nenhum aviso ou preparação real, muito menos um plano cuidadosamente pensado para milhões de trabalhadores informais, migrantes e suas famílias. Milhões que seriam forçados a uma repentina perda de renda e abrigo dos postos de trabalho metropolitanos onde trabalhavam.

O bloqueio nacional desencadeou enormes inversões de fluxos populacionais em relação a mão-de-obra, com milhares de famílias de trabalhadores inundando as principais estações de ônibus ou caminhando centenas de quilômetros a pé para voltar aos seus povoados. Muitos foram forçados a parar nas fronteiras dos Estados e foram pulverizados com desinfetantes químicos pelas autoridades policiais. As repetidas manifestações de brutalidade policial contra esses trabalhadores não puderam deixar de relembrar eventos de um mês antes na capital do país, quando a polícia de Délhi se recusou a oferecer proteção às vítimas muçulmanas, e participou ativamente, de uma série de pogroms, isto é, ataques coordenados e massivos, entre civis, contra minorias étnicas.

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