A edição dominical dos grandes jornais costuma conter espaços para artigos de maior densidade e capacidade de análise.
Por Paulo Kliass/ Créditos da foto: (Pedro Ladeira/Folhapress)
A edição dominical dos grandes jornais costuma conter espaços para artigos de maior densidade e capacidade de análise. Apesar das profundas transformações incorporadas pelos avanços tecnológicos, o fato é que mesmo em meio digital encontramos por ali momentos de maior reflexão nos finais de semana.
Pois a Folha de São Paulo do domingo 16 de agosto trouxe para seus leitores um artigo, sob a forma de um abaixo assinado, onde algumas dezenas de economistas se manifestavam a respeito de seus receios quanto ao quadro atual e futuro da economia e da sociedade brasileiras. Compreensível a preocupação. Afinal, quem não se sente incomodado com o avanço da pandemia e com as evidentes e sucessivas incompetências do governo em lidar com o tema tão grave quanto urgente?
Naquele mesmo dia, os registros oficiais do próprio Ministério da Saúde escancaravam a tragédia de 108.879 mortes provocadas pela covid 19. Esse deveria ser mesmo o centro da preocupação de todos aqueles e aquelas sinceramente envolvidos em apontar soluções para a crise que o Brasil atravessa atualmente. Como minorar o drama das dezenas de milhões de famílias que não contam com renda suficiente para suportar o necessário confinamento social? Como encontrar soluções para o quadro iminente da grande maioria das micro, pequenas e médias empresas no País, que não contam com capital de giro e condições operacionais para seguir em frente e atravessar o período de dificuldades?
Financismo: mais do mesmo.
Seria mesmo razoável que esses economistas colocassem sua cabeça a funcionar e buscassem alternativas para superar a tragédia de mais de 13 milhões de desempregados no mercado de trabalho, para além das péssimas condições de remuneração daqueles que ainda conseguem alguma ocupação na informalidade e na precariedade. Quem, em sã consciência, não lançaria mão de toda sua experiência e capacidade para formular políticas que apontassem para a busca de recursos tão exíguos na área da saúde, da educação e outros domínios das políticas sociais?
No entanto, nem tudo aquilo que a maioria da população considera como razoável ou racional passa pela cabeça obtusa de setores das elites tupiniquins. Infelizmente, mais uma vez, aqueles que ocupam o andar de cima de nossa injusta e desigual estrutura social vêm a público vomitar toda a sua sanha contra as necessidades da maioria da população. Na verdade, são os mesmos que vociferavam seu ódio contra programas de transferência de renda como o Bolsa Família ou contra as consequências de políticas – tímidas, inclusive – de redução da desigualdade, a exemplo da recuperação real do poder de compra do salário mínimo. Quem não se lembra das preconceituosas praguejadas contra os “aeroportos transformados em verdadeiras rodoviárias” ou os direitos proporcionados às empregadas domésticas ou as cotas introduzidas nos processos de acesso às universidades públicas. Ou? Ou? Ou? A lista dos incômodos é enorme.
Mas não! O documento não manifesta um único ponto de preocupação com essas questões tão fundamentais para o presente e para o futuro de nossa sociedade. O grande temor dos que assinaram o manifesto da vergonha é com o risco, segundo eles, de ser colocado em xeque um dos elementos basilares da austeridade fiscal destruidora em nosso tempos. O documento foi elaborado com a missão de tentar salvaguardar a Emenda Constitucional nº 95, número com que foi recepcionada a famigerada PEC do Fim do Mundo. Para quem não se lembra, no dia 13 de dezembro de 2016, no apagar das luzes do ano que foi marcado pelo impedimento de Dilma Roussef, a dupla Temer & Meirelles conseguiu convencer o Congresso Nacional a aprovar uma proposta que introduzia no texto constitucional uma amarra destruidora. Estava decretado o congelamento dos gastos orçamentários não financeiros pelo longo período de 2 décadas. Uma loucura!
Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia-Politica/A-vergonhosa-sugestao-do-financismo/7/48476
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