Publicação da Rede Amazônica de Informação Socioambiental – Raisg traz dados atualizados sobre a situação do bioma em perspectiva com a primeira edição do documento publicada em 2012
Por Ricardo Machado
Foi divulgado no dia 8 de dezembro pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada – Raisg o Atlas – Amazônia sob pressão. O documento, que teve sua primeira versão publicada em 2012, traz uma série de indicadores que fazem um raio-x da atual situação do bioma. O estudo tem como marco temporal, para a maioria dos levantamentos, o período entre 2000 e 2018, e traz dados classificados, em diferentes graus, como “pressões e ameaças” e “sintomas e consequências”.
“Como pressões e ameaças consideramos obras de infraestrutura, como estradas e hidrelétricas, atividades extrativas como petróleo e mineração (incluindo o garimpo) e, por fim, a atividade agropecuária, incorporada ao Atlas de 2020. Além das pressões e ameaças, temos dados que chamamos de ‘sintomas e consequências’, a saber: o desmatamento, as queimadas e a variação da densidade de carbono, este último incorporado recentemente nas análises da Raisg”, explica a geógrafa e pesquisadora Júlia Jacomini, em entrevista por telefone à IHU On-Line.
“Percebemos que nas últimas décadas há um ritmo muito acelerado de crescimento das pressões e ameaças, bem como dos sintomas e consequências das atividades humanas na Amazônia. Se na primeira análise em 2012 já mostrava um quadro complicado, agora essas questões todas se agravam. Infelizmente não existe uma ameaça que deixou de existir. O que podemos observar, ao contrário, é que as ameaças estão em ritmo crescente”, complementa.
O documento aponta que, a partir de 2012, houve uma retomada na alta do desmatamento, com intensificação acelerada entre os anos de 2015 e 2018, quando triplica a área afetada. “Os resultados finais mostram que, entre 2000 e 2018, foram desmatados mais de 500 mil quilômetros de floresta na Amazônia, um território correspondente à Espanha. Entre as principais pressões que levam a este desmatamento temos a atividade agropecuária, responsável por 84% do total”, descreve Júlia. “Todas essas ameaças vão se sobrepondo, levando ao número de que 30% da Amazônia está sob pressão alta ou muito alta. Isso significa que, além da avaliação de cada tema separadamente, buscamos fazer uma análise integrada destes dados”, acrescenta.
Se de um lado o cenário em nada inspira esperança, o que é verdadeiro, por outro, a experiência histórica das áreas naturais de proteção e dos territórios indígenas são ótimos indicadores do que fazer para proteger o bioma. “Temos algo importante a destacar que são os territórios indígenas e as áreas naturais de proteção. Quase 90% do desmatamento, nestes 18 anos, ocorreu fora dos territórios indígenas e das áreas naturais protegidas”, ressalta a entrevistada.
Júlia Jacomini é pesquisadora no Instituto Socioambiental – ISA e na Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada – RAISG. Geógrafa pela Unesp-Rio Claro, é especialista em Geoprocessamento Aplicado pela UFSCar e mestre em Integração da América Latina pelo Prolam/USP.
Confira a entrevista.
Quais são os indicadores estudados e apresentados no Atlas – Amazônia sob pressão?
A Rede Amazônica de Informação Socioambiental – Raisg é uma rede de organizações da sociedade civil de seis países amazônicos. Uma das grandes contribuições da publicação do Atlas – Amazônia sob pressão 2020 é apresentar uma análise regional que vai além das fronteiras político-administrativas dos países. Na maioria das vezes acabamos vendo estudos em escala nacional, e esse tipo de estudo da Raisg permite uma perspectiva integral da Amazônia.
A Raisg surgiu em 2007 sempre disposta a fazer essa análise regional e em 2012 publicou o primeiro Atlas de pressões na Amazônia. Nos anos seguintes foram publicados alguns mapas, mas análises mais aprofundadas só foram publicadas em 2020, na atual versão do documento. Nesse contexto era importante fazer um comparativo, mas de lá para cá alguns temas novos foram incorporados às análises e, também, novas metodologias foram desenvolvidas, razão pela qual as comparações precisam de alguns cuidados.
Como pressões e ameaças consideramos obras de infraestrutura, como estradas e hidrelétricas, atividades extrativas como petróleo e mineração (incluindo o garimpo) e, por fim, a atividade agropecuária, incorporada ao Atlas de 2020.
Além das pressões e ameaças, temos dados que chamamos de “sintomas e consequências”, a saber: o desmatamento, as queimadas e a variação da densidade de carbono, este último incorporado recentemente nas análises da Raisg.
Percebemos que nas últimas décadas há um ritmo muito acelerado de crescimento das pressões e ameaças, bem como dos sintomas e consequências das atividades humanas na Amazônia. Se na primeira análise em 2012 já mostrava um quadro complicado, agora essas questões todas se agravam.
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