Clipping

Bolsonaro ameaça expor quem compra madeira ilegal do Brasil enquanto afrouxa fiscalização para coibir prática

Discurso do presidente durante cúpula dos BRICS aponta hipocrisia de países que criticam a política ambiental do país, embora seu Governo tenha facilitado a madeireiros que exportassem sem vistoria.

Por Heloísa Mendonça

Criticado mundo afora pelas políticas ambientais adotadas em seu Governo, Jair Bolsonaro decidiu contra-atacar seguindo o modus operandi que o caracteriza de fazer diplomacia de confronto. O presidente afirmou, nesta terça-feira, que irá divulgar nos próximos dias os nomes de países que importam madeira extraída de forma ilegal do Brasil. O anúncio foi feito durante cúpula virtual dos Brics, grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Bolsonaro disse que o Brasil sofre “com injustificáveis ataques” sobre o aumento do desmatamento e que nações que o criticam importam madeira brasileira ilegalmente da Amazônia.

“Estaremos revelando nos próximos dias países que têm importado madeira extraída de forma ilegal da Amazônia. E alguns desses países são os mais severos críticos ao meu Governo no tocante a essa região amazônica”, disse Bolsonaro. Ainda segundo o presidente, depois dessa divulgação, a prática diminuirá muito. “Porque daí sim estaremos mostrando que esses países, alguns deles que muito nos criticam, em parte têm responsabilidade nessa questão”, completou. Há três anos anos, a operação Arquimedes da PF resultou na apreensão de 120 contêineres com 2.400 m³ de madeira extraída ilegalmente e que seria vendida para Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Portugal e Reino Unido. Nos anos seguintes, a operação teve novas etapas

Alemanha e França são alguns dos países mais críticos à política ambiental bolsonarista. No ano passado, o presidente francês Emmanuel Macron chamou a onda de incêndios na Amazônia de “crise internacional” e neste ano chegou a frear o acordo entre União Europeia e Mercosul, colocando a preocupação com os desmatamento na mesa de negociação. Já a Alemanha, uma das principais doadoras junto com a Noruega do Fundo Amazônia ―que financia projetos de preservação na região ― congelou as contribuições depois do Governo ter alterado a gestão do fundo.

O bode na sala de Bolsonaro seria eficiente para dividir a culpa e tirar de cima o peso de ter virado ‘vilão do meio ambiente’ não fosse por um detalhe. Seu Governo reduziu a fiscalização da venda ilegal de madeira neste ano, justamente o que poderia coibir a prática criminosa. Em março deste ano, quando o coronavírus começava a chegar ao Brasil, o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos (Ibama), Eduardo Bim, anulou a regra que definia que a autarquia deveria autorizar a saída de todos esses carregamentos do país. A norma servia para reforçar o controle sobre a exportação de madeira, na tentativa de coibir o contrabando de produtos.

Para o deputado Rodrigo Agostinho (PSB/SP), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, entende que não adianta o presidente ameaçar ou retaliar países que compram madeira brasileira, se o Brasil é o principal responsável por controlar o desmatamento ilegal. “O Ibama sempre teve uma série de vistorias e inspeções para ver se a madeira é extraída legalmente e se o que estava no documento para ser exportado correspondia à realidade”, diz ele . “Mas o Governo Bolsonaro acabou com essas vistoria, afrouxou as regras. Ele pode até constranger esses países, mas isso não tira a sua própria responsabilidade”, afirma Agostinho.

Saiba mais em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-11-18/bolsonaro-ameaca-expor-quem-compra-madeira-ilegal-do-brasil-enquanto-afrouxa-fiscalizacao-para-coibir-pratica.html

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