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Com explosão de casos de covid-19, indígenas do Pará recorrem a socorro de voluntários

Em pouco mais de três semanas, no sudeste do Pará, o coronavírus já matou 22 indígenas, entre anciões, adultos, jovens e crianças nas últimas semanas, além de ter infectado pelo menos 638 outros integrantes de 12 povos.

Eduardo Reina

Lideranças nas aldeias reclamam que não há estrutura suficiente para atender a essa população de pouco mais de 12 mil indivíduos nessa área do Estado.

Há uma crise que vem sendo acentuada pela falta de estrutura para o atendimento aos doentes e para a prevenção. O problema se agrava ainda mais com a escassez de alimentos em alguns locais.

O apoio a esses povos vem sendo promovido por um coletivo voluntário denominado Rede de Apoio Mútuo Indígena do Sudeste do Pará, formado por pesquisadores, indigenistas, missionários e militantes ligados à Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), à Universidade do Estado do Pará (UEPA), ao Instituto Federal do Pará (IFPA), ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), à Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), além de moradores da região.

Integrantes da Rede de Apoio avaliam que a proximidade das aldeias com as cidades de Marabá, São Domingos, Brejo Grande e São Geraldo do Araguaia, além da passagem intensa em rodovias nesse quadrilátero e ação de mineradores, fazem aumentar a vulnerabilidade dos povos indígenas.

As terras dos Aikewara Suruí, da Terra Indígena (TI) Sororó; dos Trocarpa, dos Assurini do Tocantins – Estado vizinho -, e dos Xikrin do Cateté são cortadas pela Transamazônica e pela BR-153 (Belém-Brasília), além de outras estradas regionais. As aldeias dos Gavião, na TI Mãe Maria, também são cortadas por rodovias, mas recebem impacto das linhas de transmissão da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, da Eletronorte, e da estrada de ferro Carajás, da mineradora Vale.

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) tem demorado muito para fazer teste com a população que apresenta os sintomas da covid-19, alertam os voluntários.

A Prefeitura de Marabá realizou testes rápidos em algumas aldeias da região. Somente na TI Sororó, dos Aikewara, foram identificadas 134 pessoas com coronavírus, de um total de 211 testes. Enquanto a Sesai informa que no dia 15 de junho havia identificado somente oito casos de covid-19 na TI Sororó.

Levantamento organizado pela Rede de Apoio mostra que em pouco mais de três semanas – entre os dias 25 de maio e 18 de junho – os casos de infectados passaram de 44 para 638; e o número de óbitos, de quatro para 22.

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não divulga publicamente dados por terra indígena, mas apenas por Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs).

Procurados pela BBC News Brasil, integrantes da Sesai e DSEI nessa região não se pronunciaram.

A Funai limitou-se a informar por meio de nota que “tem reforçado as ações de prevenção ao contágio da covid-19 entre a população indígena no Estado do Pará. O trabalho é realizado em conjunto com a Sesai e órgãos locais”.

A nota acrescenta que a Funai tem promovido a permanência dos indígenas nas aldeias durante a pandemia, para evitar contágio e vem trabalhando “para garantir a segurança alimentar das comunidades em situação de vulnerabilidade social”.

Para isso, afirma ter entregado a famílias indígenas em todo Pará mais de 5 mil cestas de alimentos, e deverá distribuir outras 11 mil cestas nos próximos dias. Mas não informa quando.

Também distribuiu, segundo a nota, 4 mil kits de higiene e limpeza a comunidades indígenas em todo território paraense.

Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53173757

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