Redução pontual devido ao confinamento não compensa décadas de aumento das emissões que provocam a mudança climática, segundo a Organização Meteorológica Mundial
Por Manuel Planelles
As medidas de confinamento mundiais ante a covid-19 quase não terão impacto na pronunciada curva de crescimento das concentrações na atmosfera do dióxido de carbono (CO2), causador da mudança climática. E a paralisação da economia mundial não significará uma redução no acúmulo de gases que esquentam o planeta, informou nesta segunda-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Como consequência, níveis recordes serão novamente atingidos.
A OMM, vinculada às Nações Unidas, apresentou de forma virtual o boletim anual sobre a evolução dos três principais gases do efeito estufa: CO2, metano e óxido nitroso. Embora o documento se concentre nos dados fechados de 2019 ―quando as concentrações atmosféricas desses três gases voltaram a crescer―, a OMM já ofereceu algumas estimações para 2020.
O organismo lembra que os cálculos preliminares indicam que as emissões de CO2 feitas pelo ser humano diminuirão entre 4,2% e 7,5% este ano, ainda que a incerteza seja grande, pois falta saber se os confinamentos serão mais endurecidos na reta final de 2020. Em qualquer caso, a OMM afirma que, “em escala mundial, uma redução das emissões dessa magnitude não permitirá diminuir a concentração de dióxido de carbono atmosférico”. A redução apenas fará com que a concentração aumente “a um ritmo ligeiramente menor”.
Essa desaceleração será similar às “flutuações normais no ciclo do carbono produzidas de um ano para outro”. Ou seja: no curto prazo, “o impacto das medidas de confinamento aplicadas em virtude da covid-19 não pode se diferenciar da variabilidade natural”, explica a OMM.
Cerca de metade do CO2 emitido pelo homem acaba se acumulando na atmosfera (a outra metade é capturada pela vegetação e pelos oceanos). Portanto, esse gás permanece concentrado na atmosfera durante séculos. As emissões antropogênicas têm crescido desde o século XVIII, na época pré-industrial. E se acentuaram nas últimas décadas. O ritmo foi tão elevado que “a última vez em que se registrou na Terra uma concentração de dióxido de carbono comparável foi entre três e cinco milhões de anos atrás”, afirmou nesta segunda-feira Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.
As emissões históricas acumuladas, somadas à permanência do gás durante séculos na atmosfera, explicam, em parte, por que os confinamentos que levaram a reduções pontuais das emissões (não estruturais) quase não serão percebidos nas concentrações atmosféricas. O boletim da OMM explica que somente quando as emissões geradas pela queima de combustíveis fósseis se aproximarem de zero será possível começar a reduzir a concentração desse gás na atmosfera. “A pandemia de covid-19 não é uma solução para a mudança climática. No entanto, oferece uma oportunidade para que adotemos medidas climáticas mais sustentáveis e ambiciosas”, resumiu Taalas.
Saiba mais em: https://brasil.elpais.com/sociedade/2020-11-23/dioxido-de-carbono-na-atmosfera-batera-novo-recorde-em-2020-apesar-da-pandemia.html
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