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Milton Santos, pandemia e real fragmentado

A globalização, ensinava ele, subverte escalas e nos aparta ainda mais da Natureza. A ciência, hiperespecializada, tornou-se cega a fenômenos complexos. A pandemia, sem contexto, reduz-se a espetáculo. Como voltar, agora, à totalidade?

Por Fran Alavina

Talvez a Geografia – mais do que outros saberes das humanidades, como a História e Filosofia – possa nos ajudar a entender certos aspectos que se dão quase sem se notar em tempo pandêmico e globalizado: que, por vezes, parece mais fabuloso que trágico. De fato, diferentemente de outros estudos humanísticos, a Geografia em sua constituição e desenvolvimento sempre teve que lidar com a questão do que seja a Natureza e de como tal saber concebe seu objeto, uma vez que se inicia como descrição da paisagem e do meio. Disto dependeria até sua classificação como uma ciência humana ou ciência natural. Para nós, tal debate é desprovido de sentido, uma vez que todo saber, justamente por ser humano, não pode ser natural, ainda que seu objeto seja a Natureza: física ou biológica. A Natureza não produz saberes, nem constitui ciências. Somos nós que os construímos a partir de nossas necessidades.

Ora, uma das nossas maiores necessidades no momento está em tentar tecer redes de relações conceituais para compreendermos este acontecimento – a Pandemia – que nos parecia inaudito, impossível, moldado pelo espanto e o medo. Um espanto que não seria apenas dos indivíduos, mas também das ciências. Donde a surpresa e as incapacidades enfrentadas até aqui. Ademais, ainda que a pandemia seja um acontecimento grandemente complexo para os saberes e as ciências, estes parecem não terem entendido que tal complexidade não pode ser abarcada apenas dentro de seus feudos disciplinares, isto é, na compartimentação fragmentária dos diversos objetos de cada ciência. Não se trata apenas de interdisciplinaridade, porém do real que nunca se realiza por simples ajuntamento de particularismos.

A cultura da especialização acelerou os conhecimentos e apressou os resultados técnicos, porém fez de cada ciência uma fronteira inalcançável, incapaz de enxergar além de seus próprios limites. Quantos de nós, com formações especializadas conseguimos pensar e entrar em diálogo com outros saberes e ciências? A cultura da especialização meramente técnica é um teatro de monólogos paralelos sem espectadores.

Desse modo, é preciso se voltar uma vez mais para a totalidade: dizia Milton Santos em um de seus últimos e mais acalorados debates! Mas será, talvez, no artigo “Globalização e Redescoberta da Natureza”, fruto de uma aula inaugural proferida pelo geógrafo em 1992 que encontraremos, em síntese, elementos que jogam luz sobre o nosso atual estado de coisas – o texto pode ser encontrado no site sobre o autor.

Saiba mais em:https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/milton-santos-pandemia-e-real-fragmentado/

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