Um ano depois de escapar do atentado que matou Paulo Paulino Guajajara, seu primo e também “guardião da floresta” Tainaky Tenetehar relata medo e aumento de invasões à Terra Indígena Arariboia, no Maranhão.
Sem apoio e com poucos recursos, os chamados “guardiões da floresta”, da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, costumavam passar dias em ronda na mata para impedir a entrada de invasores. Foi durante uma dessas imersões, em 1º de novembro de 2019, que Paulo Paulino Guajajara foi assassinado a tiros.
Tainaky Tenetehar, que acompanhava o primo Guajajara, sobreviveu. Gravemente ferido, ele conseguiu avisar os indígenas na aldeia sobre o crime e passou meses se recuperando.
“Com essa situação, o clima é de medo, medo da morte”, diz Tenetehar em entrevista à DW Brasil sobre a situação na terra indígena desde então.
Segundo Tenetehar, o roubo de madeira e invasões aumentaram desde o atentado, apesar de diversas denúncias entregues pelos indígenas aos órgãos competentes. “Por isso os invasores retornam, porque sabem que não vai ter punição”, avalia.
DW Brasil: Um ano depois do ataque que matou Paulo Paulino Guajajara e que deixou você gravemente ferido, você está recuperado?
Tainaky Tenetehar: Fisicamente eu estou bem. Mas, desde o ocorrido, o sentimento continua igual, de tristeza, pelo o que aconteceu com o meu parente, o guerreiro Paulo, que era meu parente de sangue, meu primo.
Eu estou aqui, pronto para continuar a luta de novo. Eu estou recuperado depois desse tempo. Eu fui alvejado por disparo de arma de fogo no braço e nas costas, fiquei três meses me recuperando, já que o ferimento foi muito grave. Acho que não vou ficar com nenhum tipo de sequela.
Já sinto que estou pronto para voltar a lutar, apesar das dificuldades, das mortes. Não podemos fraquejar. É muito triste a morte dos nossos parentes, mas temos que continuar nossa luta.
Você está satisfeito com a investigação do assassinato e com os resultados?
Eu não sei exatamente como funciona o trabalho da Justiça. Mas pelo o que eu sei e vejo, os criminosos que tiraram a vida do meu parente continuam livres até hoje. Estão soltos, talvez estão ainda retirando madeira, fazendo a exploração ilegal dentro da nossa área.
Vejo a impunidade. Não sei o que vai acontecer daqui pra frente, já faz um ano. Nossa terra continua sendo invadida por madeireiro, por caçador, que continuam lá explorando nossa terra. E, até, agora não temos resposta para nada.
A situação na Terra Indígena Arariboia, depois desse um ano, melhorou ou se agravou?
Depois da morte do Paulo, as coisas começaram a piorar de novo. Antes da morte dele, as invasões estavam diminuindo com o nosso trabalhado de guardião. A gente conseguiu fazer isso mesmo sem apoio do Estado. Depois do crime, a gente parou com esse trabalho dentro da floresta, a Justiça ficou investigando a morte do Paulo.
Depois disso, os madeireiros se sentiram livres, já que nada acontece, eles sentem que não serão punidos e estão retornando, invadindo a nossa terra, roubando madeira. Eles continuam dentro da floresta, devastando tudo. Quem realmente está dentro da floresta e vê o problema somos nós.
Vocês sabem quem são esses invasores, ou para quem eles trabalham?
Muitas vezes nós sabemos. Quando a gente fazia o trabalho de guardião, a gente identificava as pessoas. A gente identificava os donos dos caminhões que transportam as madeiras. E a gente passava esses dados para a Funai (Fundação Nacional do Índio), para órgãos como o Ministério Público Federal. Fizemos várias denúncias, mas, até agora, nada foi feito, ninguém foi punido por esse tipo de crime.
Vocês já fizeram denúncias aos órgãos competentes?
Sim, e nada aconteceu. A gente já levou os invasores que a gente pegou dentro da floresta, em flagrante, já apresentamos essas pessoas diretamente para a Polícia Federal em Imperatriz, a cidade onde tem uma sede. Mas, no dia seguinte, os invasores estavam soltos de novo, prontos para voltar à ativa.
A gente não entende como isso funciona. Acho que não tem punição para o crime ambiental no nosso país. Por isso os invasores retornam, porque sabem que não vai ter punição.
Como estão os indígenas que moram no território, eles se sentem seguros?
A maioria dos parentes vive com medo. Eles têm medo de fazer denúncia. A maioria das comunidades teme pela vida dos guardiões porque o que eles veem acontecer é isso: o guerreiro que se levanta para proteger a floresta, para proteger o povo, acaba sendo morto por pistoleiros, a mando de grandes empresários que querem destruir da floresta para aproveitar os recursos naturais.
Com essa situação, o clima é de medo, medo da morte.
Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/o-ind%C3%ADgena-que-tenta-proteger-a-floresta-acaba-sendo-morto-por-pistoleiros/a-55470996
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