Mas serão perigosos nos próximos meses
Por Paul Krugman
O que Braxton Bragg significa para Donald Trump, ou Trump para Braxton Bragg?
Sempre foi estranho (e ultrajante) ter bases militares americanas batizadas em homenagem a traidores – como generais confederados que se rebelaram contra a União para defender a escravidão. E os líderes militares parecem dispostos a mudar os nomes dessas bases. Mas Trump se recusa.
Por que adotar essa posição em um momento em que os americanos brancos finalmente parecem reconhecer a injustiça que os afro-americanos enfrentam sistematicamente, e quando o apoio ao movimento Black Lives Matter só cresce? O mais inteligente, certamente, seria imitar grande parte das corporações americanas: fazer alguns gestos fáceis em favor da justiça social sem mudar nada fundamental. Vejam bem, até a NASCAR anunciou que vai proibir a bandeira confederada em seus eventos. E rebatizar bases militares seria algo muito barato.
Mas Trump, evidentemente, não consegue fazer nem mesmo uma demonstração simbólica de empatia. E tentar entender sua incapacidade ajuda a explicar o que é o Trumpismo – e, na realidade, o conservadorismo moderno como um todo.
O próprio Trump diz que se trata de honrar “uma história de conquista, vitória e liberdade”. É mesmo?
Essas bases homenageiam homens que defendiam a escravidão, o oposto da liberdade; e, por acaso, duas das maiores bases têm nomes de generais famosos não por vitórias, mas por derrotas. Bragg, cujo exército sofreu uma derrota épica em Chattanooga, foi um dos generais menos respeitados da Guerra Civil. John Bell Hood desperdiçou as vidas de seus homens em ataques fúteis em Atlanta e Franklin, e o que restava de seu exército foi aniquilado em seguida em Nashville.
Trump, obviamente, não sabe nada disso. Mas por que, afinal, um cara que cresceu no Queens se preocuparia com a tradição confederada?
A resposta é que Trump, e a maior parte de seu partido, são reacionários. Ou seja, como explica o teórico político Corey Robin, são motivados, acima de tudo, por “um desejo de resistir à libertação das populações marginalizadas e sem poder”. E a iconografia confederada se tornou um símbolo da reação nos EUA.
Isso explica por que alguns republicanos no Maine se opuseram a transformar uma música sobre o 20º Maine – o regimento de voluntários cuja heroica defesa de Little Round Top teve um papel crucial na batalha de Gettysburg – em música oficial do estado. Seria ofensivo, disseram, “dizer que somos melhores do que o sul”. Hmm, mas o sul defendia a escravidão.
O impulso reacionário também explica, creio, por que alguns homens brancos privilegiados, desde o editor do influente Journal of Political Economy até o (agora ex) diretor do CrossFit, não conseguiram controlar explosões de raiva autodestrutivas em que atacavam os protestos do movimento Black Lives Matter.
Afinal, do ponto de vista de um reacionário, as últimas três semanas foram um pesadelo. Pessoas marginalizadas “que deveriam saber seu lugar” não estão apenas se levantando e exigindo justiça, mas estão vencendo, por ampla vantagem, a batalha pela opinião pública. Não é assim que as coisas deveriam funcionar!
Uma resposta a este pesadelo do reacionário tem sido a negação. Trump continua tuitando “LEI E ORDEM!” como se repetindo a frase mágica muitas vezes pudesse fazer o relógio voltar para 1968. A campanha de Trump, reagindo a uma pesquisa da CNN desfavorável, em vez de levar em conta sua mensagem, exigiu que a rede retratasse a pesquisa e pedisse desculpas.
Outra resposta tem sido dar asas às teorias da conspiração. À direita, é dado como certo que as manifestações populares de massa foram orquestradas por radicais antifa, embora não haja nenhuma evidência nesse sentido. E Trump, como se sabe, sugeriu que um homem de 75 anos de idade que foi empurrado pela polícia – todos vimos o vídeo dele sangrando na calçada – era um provocador antifa, que de alguma forma teria armado seu próprio ataque.
Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Os-reacionarios-estao-tendo-um-mes-ruim/6/47865
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