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Transição energética e ecológica: a necessidade, a utopia, e a vontade, por José Luís…

Mas apesar do aparente consenso internacional, todos os dados indicam que a humanidade está longe de conter o aquecimento global, e que, pelo contrário, a situação piorou nos últimos três anos

Por José Luís Fiori

As utopias tradicionais – clássica e moderna – tinham uma coisa em comum: propunham uma determinada visão do fim da história, uma sociedade que seria a ideal. A utopia ecológica diz que o importante é que a história continue, é criar condições de possibilidade para que as gerações seguintes continuem a ter as suas utopias.

Marques, V. S. Na utopia ecológica, o importante é que a história continue. Instituto Humanitas Unisinos, 18 jan. 2016.

O debate do século XXI sobre a “transição energética” de baixo carbono parte de três hipóteses formuladas no século passado: i) sobre a possibilidade do esgotamento das reservas mundiais de petróleo no prazo de algumas décadas; ii) sobre a grande responsabilidade dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) pelas mudanças climáticas e pelo deterioro ecológico do século XX; e finalmente, III) sobre a possibilidade de um “desenvolvimento sustentável”, ou “alternativo”, com energia renovável e limpa, dentro do próprio regime de produção capitalista, construído pela vontade coletiva dos indivíduos e das nações.

A primeira vez que se previu o fim da “era do petróleo” foi em 1874, quando o governo da Pensilvânia advertiu os norte-americanos de que só disporiam de petróleo para garantir a iluminação a querosene de suas grandes cidades, por mais quatro anos. Não é necessário dizer que esta previsão foi superada pelos fatos, e hoje as reservas de petróleo dos Estados Unidos são estimadas em 68,9 bilhões de barris, e sua produção diária é de cerca de 17 milhões de barris. Mesmo assim, no início da década de 70, o Clube de Roma[2] voltou a prever o esgotamento final das reservas mundiais do óleo num prazo máximo de 20 a 30 anos, no seu famoso relatório “Os limites do crescimento”, transformado numa espécie de bíblia malthusiana moderna que foi sendo sistematicamente negada pelos fatos. Mesmo assim, hoje, quando se olha para trás com a perspectiva do tempo passado, se compreende melhor o pessimismo do famoso relatório do Clube de Roma em 1972, no início da chamada “crise da hegemonia americana”, marcada pelo fim do “padrão dólar”, pela explosão do preço do petróleo, pela alta das taxas de juros e pela crise final do “desenvolvimentismo keynesiano” do pós-Segunda Guerra.

Mais tarde, em 1996, os geólogos Colin J. Campbell e Jean H. Laherrere utilizaram a técnica de extrapolação de recursos finitos – a Curva de Huppert – para calcular que o volume das reservas mundiais era de 850 bilhões de barris e que 50% do petróleo disponível no mundo já teriam sido extraídos por volta da mesma década de 70; portanto, só restariam mais 150 bilhões de barris para serem descobertos em todo o planeta. Depois essa projeção foi corrigida, e o deadline foi transferido para 2050/2060, mas até hoje todas essas previsões apocalípticas têm sido sistematicamente negadas e superadas pelos fatos. Mais do que isto, desde a década de 70, as reservas mundiais de petróleo não pararam de crescer, e hoje estão estimadas em 1,7 trilhão de barris, apesar de que o consumo mundial flutue entre 90 e 100 bilhões de b/d no início da terceira década do século XXI. Além disto, hoje, os avanços tecnológicos das “energias alternativas” foram compensados por avanços tecnológicos simultâneos, na indústria do petróleo e do gás. E os preços do óleo, ao contrário do que previu o Clube de Roma, não cresceram sistematicamente, tendo flutuado nestes últimos 50 anos.

De forma paralela e inteiramente independente, realizou-se no mesmo ano de 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, a “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente”, reunindo 113 países e mais de 400 organizações governamentais e não governamentais para discutir, em conjunto, o novo desafio mundial da destruição ecológica e das mudanças ambientais. Nessa reunião foram debatidos os temas da água, da desertificação do globo e do uso de pesticidas na agricultura, e falou-se pela primeira vez do desafio colocado pelas mudanças climáticas. Não houve consenso nem acordo final, devido à oposição, sobretudo naquele momento, dos países mais ricos e desenvolvidos.

Saiba mais em: https://poliarquia.com.br/2020/11/12/transicao-energetica-e-ecologica-a-necessidade-a-utopia-e-a-vontade-por-jose-luis/

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