Cresce a busca por um cardápio que não seja o principal fator de mortes no mundo. Que não desmate, polua rios e o mar e desarranje o clima. Não condene 2 bilhões à obesidade e 800 milhões à fome. Acredite: muitos querem sair desse beco
Não é exatamente novidade que a dieta contemporânea não é saudável nem ecologicamente equilibrada. Mas um extenso estudo, realizado em 195 países, e publicado no início de 2019 na revista Lancet, achou bom saber a quantas anda a temeridade global em termos de alimentação, descobrindo que ela foi responsável por mais mortes, em 2017, do que qualquer outro fator. Existe muito interesse nesse tipo de informação, atualmente.
Muitos países e grandes equipes acadêmicas, financiadores globais e a ONU procuram meios de alterar a paisagem lúgubre que hoje se observa no mundo. Enquanto mais de 2 bilhões de pessoas estão acima do peso ou são obesas, outras 811 milhões não estão obtendo calorias suficientes das refeições que podem fazer, com a renda que auferem. A revista Nature conta histórias interessantes em seu artigo do dia 1º/12.
Como o experimento de Lora Iannotti, pesquisadora de saúde pública da Universidade de Washington. Com colegas quenianos, ela incentiva os povos das aldeias da região de Kilifi, ao norte de Mombasa, no Quênia, a alimentar seus filhos com mais peixes, especialmente espécies locais abundantes e de rápido crescimento. O experimento é controlado e seu objetivo é entender quais são frutos do mar saudáveis tanto para o ecossistema quanto na dieta local.
Mais amplamente, a revista relata o resultado de pesquisas detalhadas, como o amplo estudo mencionado acima: Efeitos dos riscos dietéticos sobre a saúde em 195 países, 1990–2017. Ou o trabalho da Comissão Lancet sobre Comida, Planeta, Saúde – consórcio de 37 nutricionistas, ecologistas e outros especialistas de 16 países –, que em 2019 propôs uma ampla mudança ambiental e alimentar. E apresentou um cardápio diversificado, baseado principalmente em vegetais, em princípio capaz de resolver o problema. Está aberto a críticas e apoios, desde então.
Há muitas críticas. Mas muitos cientistas, relata Nature, dizem que a dieta é excelente para as nações ricas, onde uma pessoa come em média 2,6 vezes mais carne do que os povos dos países de baixa renda. E é até difícil não criticar – o menu mais frequente no planeta, o que é produzido pelo sistema alimentar industrializado, é lastimável. Ele responde por um quarto das emissões de efeito estufa. Também é responsável pelo consumo de 70% da água doce planetária, 40% da cobertura do solo, e depende de fertilizantes que destrambelham o ciclo de nitrogênio e fósforo e entulham de poluição rios e costas.
De todo modo, o debate e a crítica são essenciais, e o entusiasmante, nesse movimento, é a produção de pesquisa de qualidade e a constituição de grandes fóruns internacionais de discussão e de tomada de decisões. O objetivo desse movimento – menciona o diário The New York Times a respeito de orientações recentes da Associação Americana do Coração – é possibilitar uma boa nutrição para todos. A associação preocupa-se essencialmente com a saúde norte-americana e em convencer os estadunidenses – sem proibições, o que não têm funcionado – a apreciar outras gastronomias, mais diversas.
Mas indiretamente os médicos também remetem suas questões às da “saúde ecológica” visto que sempre se trata de escapar da armadilha da nutrição ultraprocessada. A variedade que busca, nas palavras do jornal norte-americano, implica em tirar da mesa o excesso de “açúcares, gorduras que obstroem artérias, amidos refinados, carne vermelha e sal”. E descobrir os sabores dos “vegetais, frutas, nozes, feijão e grãos inteiros, ricos em nutrientes, que podem ajudar a prevenir doenças cardíacas, diabetes e câncer”.
Veja em: https://outraspalavras.net/outrasaude/alimentacao-come-o-que-te-faz-bem-e-ao-planeta-tambem/
Comente aqui