Mary Simon, líder dos povos Inuit, será a representante da rainha Elizabeth 2ª no país. Nomeação ocorre em meio à revolta da população após descoberta de centenas de ossadas em antigos internatos de crianças indígenas.
O Canadá anunciou nesta terça-feira (06/07) que pela primeira vez na história terá uma indígena como governadora-geral, representante oficial do chefe de estado do país, atualmente a rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra.
Em uma coletiva de imprensa, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou para o cargo Mary Simon, uma importante líder da comunidade Inuit, um dos povos que já habitava o Canadá antes da colonização europeia.
A nomeação de Simon ocorre em meio à crescente revolta da população canadense após a descoberta de restos mortais de 1.100 pessoas localizados onde funcionavam internatos de crianças indígenas.
Centenas de túmulos não marcados foram encontrados em um espaço de cinco semanas em internatos na Columbia Britânica e em Saskatchewan que eram financiados pelo governo – 70% deles eram dirigidos pela igreja católica.
Até 1996, o governo canadense separava à força as crianças indígenas de suas famílias e as obrigava a viver em internatos. Muitos deles eram mal construídos, frios e pouco higiênicos. Há vários relatos de maus-tratos, desnutrição e abuso físico e sexual.
Após as descobertas, ao menos oito igrejas foram queimadas e uma estátua da Rainha Victoria e outra da Rainha Elizabeth 2ª foram derrubadas em Winnipeg. Além disso, vários eventos alusivos ao dia do Canadá, celebrado em 1º de julho, foram cancelados ou substituídos por protestos.
Simon, de 73 anos, já foi embaixadora na Dinamarca. Ela dedicou a vida à defesa dos direitos da população indígena. Em 1986, foi eleita presidente da Conferência Circumpolar Inuit (ICC), organização criada em 1977 para defender os direitos desses povos nos países com territórios no Ártico. Ela também já foi presidente da Inuit Tapiriit Kanatami, organização canadense que protege e promove os direitos e interesses dos Inuit.
Nascida no norte de Quebec, Simon disse que foi criada para manter uma conexão ativa com sua cultura e herança Inuit.
Ela afirmou que sua nomeação “histórica” foi “um passo importante no longo caminho para a reconciliação” e para “construir uma sociedade canadense mais inclusiva e justa”.
Simon substituirá a astronauta Julie Payette, que renunciou em janeiro após quatro anos no cargo, em meio a acusações de assédio no local de trabalho. Desde a renúncia de Payette, o cargo foi assumido provisoriamente pelo Chefe de Justiça do Canadá, Richard Wagner.
Monarquia constitucional
O Canadá é uma monarquia constitucional, cujo chefe de estado é o monarca inglês, que delega suas funções ao governador-geral do país.
O nome do governador-geral é proposto pelo primeiro-ministro canadense à rainha (ou rei) da Inglaterra, que deve aprovar a indicação. Desta forma, o nome de Simon teve o aval de Elizabeth 2ª antes de ser anunciado.
O cargo de governador-geral é essencialmente formal, embora todas as leis canadenses exijam sua assinatura para entrar em vigor.
Como representante da rainha no Canadá, a governadora-geral desempenhará muitas funções em sua ausência. Entre seus poderes estão o de suspender o parlamento, de fazer o juramento do primeiro-ministro e de ser a comandante-chefe das Forças Armadas canadenses.
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