Vinícius de Andrade, que se dedica a ajudar jovens de baixa renda a se prepararem para exames pré-vestibulares e para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), diz que muitos estudantes de escola pública costumam enfrentar não um, mas dois processos seletivos na tentativa de entrar em universidades.
Paula Adamo Idoeta
“Tem o processo seletivo em si e tem o fato de tudo ser muito abstrato e muito distante deles”, explica Andrade.
“O desafio começa na inscrição. Já vi alunos que tentaram se inscrever, tiveram dificuldades e desistiram. Já vi outros que simplesmente não viam sentido em se inscrever, pois não se achavam capazes e, no fundo, simplesmente não entendiam o que era o Enem. Há um muro entre eles e o ensino superior, especialmente em universidades públicas, e o Enem simboliza esse muro.”
Nesta edição do Enem, o muro parece ter ficado ainda mais alto.
A prova para os 5,7 milhões de inscritos, prevista inicialmente para novembro, foi remarcada para 17 e 24 de janeiro por causa da pandemia e tem sido alvo de pressões por novo adiamento. E, depois de um ano de escolas fechadas e de tantos problemas e desigualdades envolvendo as aulas remotas, muitos alunos em situação vulnerável se veem ainda mais distantes do sonho da ascensão social propiciado pela entrada na universidade.
Segundo cinco professores ou coordenadores de projetos comunitários e cursinhos populares entrevistados pela BBC News Brasil, jovens desistiram das aulas preparatórias em volume acima do de anos anteriores. Entre os que ficaram, uma parte está “mais pilhada”. Outra, no entanto, está com as expectativas abaladas.
“Começamos o ano com quase 30 alunos. Só duas alunas chegaram até o final e vão fazer o Enem, mas não sei se com o mesmo ânimo do começo”, conta Letícia Marcelino da Silva, coordenadora do pré-vestibular Construindo Caminhos, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.
“Nem chegamos nem a ter aula presencial, só uma inaugural para explicar o que é o Enem. Daí veio a pandemia. O número de alunos foi diminuindo: eles foram desistindo de estudar em casa e não conseguiam assistir às aulas”, acrescenta.
Na Vila Cruzeiro, também no Rio de Janeiro, “tivemos que deixar de ensinar conteúdo para cuidar da segurança alimentar dos nossos alunos, que perderam emprego e às vezes não tinham nem celular nem ambiente saudável para estudar em casa”, relata Marcelo Martins, coordenador do projeto Estudando para Vencer, de cursinho pré-vestibular gratuito.
Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55596202.amp
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