[Vídeo] Em sua videocoluna para a DW, Pepe Mujica afirma que o mercado mundial já estava instalado à época da independência dos países latino-americanos e que os portos serviam para a comunicação com a Europa e não entre as novas nações. “A América Latina não conseguiu convergir num pacto federal para construir uma grande unidade, como alguns de nossos libertadores sonhavam”, frisa.
Pepe Mujica afirma que os latino-americanos surgiram após a conquista colonial por parte de duas potências que saíram pelo mundo com o feudalismo às costas. “Nos campos de Castela, na Espanha, a revolução burguesa não teve sucesso. É muito diferente da colonização inglesa, onde o feudalismo tinha sido derrotado e que saiu para colonizar o mundo – para não dizer pilhar, porque não quero ser ofensivo”, conta Mujica. “Uma nação burguesa que repartia os recursos e a terra de acordo com o critério burguês: o necessário para viver em família.”
E nas sete colônias iniciais foi rapidamente criada uma classe média que demandou e desenvolveu um mercado interno. E quando chegou o período de nossa independência, o mercado mundial já estava sendo instalado, e não é surpreendente que quase todas as capitais latino-americanas comecem em um porto, para se comunicar com a Europa ou com o mundo desenvolvido, e não para se comunicarem umas com as outras. “Mesmo assim, os latino-americanos têm uma margem de unidade somática importante: falamos a mesma língua e temos secularmente uma certa tradição cristã por todo o continente”, explica.
Ele frisa que a América Latina é, no fundo, uma nação frustrada que não conseguiu convergir num pacto federal para construir uma grande unidade, como alguns dos libertadores sonhavam. E o problema, para Mujica, é como podemos sustentar tanta soberania quanto possível tentando estar conectados, mas não exclusivamente unidos por uma única dependência.
“Será que a Europa perceberá o que está em jogo? Ou permanecerá adormecida em suas contradições de velhos Estados que não conseguem globalizar sua forma de pensar e de ver neste tempo de revolução digital e de expansão fenomenal das forças do capital?”, questiona Mujica. “Mais uma vez, nos falta uma direção política.”
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