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O novo velho continente e suas contradições: Europa, dúvidas e desastres

O fim da Segunda Grande Guerra viu crescer em importância a luta dos partidos de esquerda, principalmente os comunistas. Eles foram a espinha dorsal da resistência à dominação nazifascista e ressurgiram depois da guerra como partidos de massas. Representaram uma pressão de grande força para as reformas sociais que os governos sociais-democratas foram obrigados a realizar em favor dos trabalhadores

Por Celso Japiassu | Créditos da foto: (UK National Archives/Handout/Reuters)

Cenário de encarniçadas e infindáveis guerras, conflitos permanentes e intermináveis lutas de classe, o velho continente tem historicamente sido palco privilegiado do embate ideológico. Desde a Revolução Francesa e a queda do regime aristocrático a Europa se defronta consigo mesma, suas contradições e as dúvidas sobre seu próprio destino.

O Século 20 foi testemunha da aguda crise social que conduziu a duas grandes guerras, o crescimento do nazifascismo e sua derrota posterior, o início e o fim da experiência comunista. E ainda permanecem sob a superfície as mesmas condições da crise que conduziu aos desastres anteriores.

Mais uma vez a direita política agita o ambiente, contesta a existência da tentativa de paz que a União Europeia significa, defende o isolamento da Europa e o seu papel coadjuvante dos Estados Unidos. Constrói a ideia de barricadas ideológicas em defesa do capital e de uma sociedade baseada no domínio de uma classe sobre outra.

Faz-se uma divisão no entendimento do que significam a direita radical e a extrema direita. A primeira prega uma reforma do sistema político-econômico dentro do processo democrático ao passo que a extrema direita se coloca contra a existência da própria democracia.

O cego guiando o cego, de Pieter Bruegel, o Velho, 1568 (Wikimedia Commons)

A esquerda

O fim da Segunda Grande Guerra viu crescer em importância a luta dos partidos de esquerda, principalmente os comunistas. Eles foram a espinha dorsal da resistência à dominação nazifascista e ressurgiram depois da guerra como partidos de massas. Representaram uma pressão de grande força para as reformas sociais que os governos sociais-democratas foram obrigados a realizar em favor dos trabalhadores.

 A própria social-democracia nasceu como uma solução de compromisso para, através de concessões aos trabalhadores, enfrentar o crescimento e o prestígio das organizações comunistas. Recebeu forte apoio da Igreja Católica por seu medo ao comunismo que identificava com o materialismo filosófico. O fim do socialismo soviético, no entanto, foi o fator determinante que enfraqueceu o movimento comunista e levou ao desaparecimento vários dos seus partidos.

E a direita, à imagem de um cinematográfico Jason Voorhees, volta a surpreender ao ritmo da crise do capitalismo e das contradições advindas de um sistema que reage ao fim do seu papel histórico.

Embora exista uma extrema direita na Europa, como atesta o surgimento de vários novos partidos nazifascistas, o mesmo não acontece no campo da esquerda. Pois não existe uma extrema esquerda atuante nos partidos existentes. A antiga nomenclatura já não traduz a realidade atual. Mesmo o mais antigo dos partidos comunistas, o PCP-Partido Comunista Português, aparece em coligação com partidos de centro e na defesa de eventuais propostas sociais democratas. Seria conveniente para a retórica da direita que existisse uma prática extremista de esquerda, pois isto legitimaria a sua radicalização e práticas políticas. Mas tal não ocorre. Agora mesmo, nas muito próximas eleições alemãs, aponta-se um certo e surpreendente “favoritismo da esquerda”, quando o que se observa é o crescimento social democrata nas pesquisas de preferência de voto.

Há superficialidade em atribuir denominação de extrema esquerda a partidos com assento nos parlamentos que defendem moderadas teses sociais democratas. É o mesmo jogo de ilusionismo político que se verifica no Brasil, em que se procura definir Lula e Bolsonaro como os extremos de esquerda e de direita. Embora a definição possa estar e está correta em relação a Bolsonaro, não se aplicaria às posições moderadas de Lula. Quando são denominados “os dois extremos” verifica-se intencional tentativa de manipulação da opinião pública em benefício de uma solução eleitoral pela direita.

Manifestação da juventude contra o ódio e a FN, França, 29 de maio de 2014 (Reprodução/Esquerda.net)

A solução que se procura definir como “de centro” é a que defende a exploração dos trabalhadores pelo capital, o fim de serviços públicos em benefício dos interesses privados, o corte nos salários e pensões, a privatização das empresas públicas e o individualismo. Confunde e procura vender como sinônimos os conceitos de democracia e neoliberalismo.

Veja em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-novo-velho-continente-e-suas-contradicoes-Europa-duvidas-e-desastres/4/51591

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