Por José Raimundo Trindade
1. Introdução
Neste texto buscamos debater a formação do capitalismo contemporâneo, considerando a interação entre o Imperialismo enquanto formação social e econômica e sua interação com as sociedades dependentes latino-americanas, especialmente brasileira. Partimos do clássico trabalho de Lenin: “Imperialismo fase superior do Capitalismo”, publicado em abril de 1916, com base nele se problematiza os aspectos históricos de formação do capitalismo do século XX e sua forte influência sobre o capitalismo presente. No momento seguinte busca-se visualizar o imperialismo na atual conformação capitalista, tendo em David Harvey[1] e Eric Hobsbawm[2] duas referências para lidarmos com as contradições e intensidade global do “novo-imperialismo”. Por fim, na seção final, trata-se das relações de dependência e interferência do imperialismo nas sociedades periféricas, especialmente o caso brasileiro, para tal nos utilizamos principalmente de Theotônio dos Santos[3]. Fazemos aqui a devida homenagem a Theotônio como um lutador, rebelde e formador de muitas gerações de pesquisadores e construtores de futuro no Brasil e na América Latina.
2. A formação do capitalismo contemporâneo
A superioridade do pequeno opúsculo escrito por Lenin na primavera de 2016 é ressaltada por Lukács[4], pois o mesmo fez a “articulação concreta da teoria econômica do imperialismo com todas as questões políticas do presente, transformando a economia da nova fase do capitalismo no fio condutor para todas as ações concretas na conjuntura que se configurava naquele período”. A preocupação do cientista social, ali externado por Lenin não era somente compreender a realidade, sua função fundamental era transformar o mundo, seguindo os passos já trilhados por Marx.
A natureza econômica do imperialismo é tratada por Lenin[5] desde o reconhecimento que a produção capitalista passava na virada do século XIX para o XX a se dar na forma de monopólios e empresas oligopolizadas, resultante do processo de concentração e centralização dos capitais, ou seja, o maior controle da economia por um pequeno número de grandes empresas. O capitalismo na sua fase contemporânea (imperialista), conduz à socialização quase integral da produção nos mais variados aspectos, mas a “apropriação dos ganhos continua a ser privada”.
Essa característica do capitalismo se acelera no século XX e agora no XXI, inclusive sob o aspecto do controle de vastos territórios nacionais por empresas que pertencem a um punhado de grandes capitalistas associados. Por exemplo, em estudo publicado pelo Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne em 2011, na Suíça, utilizando-se de modernas técnicas de garimpagem de dados e modelos econômicos de redes neurais, tendo como base dedados 37 milhões de empresas e investidores em todo planeta, revelou que 147 “super-empresas” (integradas em uma ampla rede de holdings) controlam aproximadamente 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo, sendo que, finaliza o referente estudo, que menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira de empresas globais, sendo a maioria delas bancos[6].
A partir do processo de concentração e centralização do capital emerge uma oligarquia financeira que controla os pequenos capitais, subordinando-os aos grandes capitais. Essa oligarquia resulta em uma modificação dos papéis dos bancos, que deixam de atuar como simples intermediários bancários e passam a financiar e controlar grandes empresas, entrelaçando os interesses do capital bancário com o capital industrial, fundamentalmente através da compra de ações de grandes empresas.
Essa fusão entre os capitais bancários e industrial constitui o principal processo da mudança de fase do capitalismo concorrencial para monopolista e dá surgimento ao atual capital financeiro. Este, por sua vez, submete de forma crescente a indústria e os demais setores da economia e do poder de Estado, tornando-se hegemônico no processo de acumulação do capital[7].
A frase de Lenin no referido opúsculo, poderia ser proferida nos dias de hoje, ele nos diz: “o desenvolvimento do capitalismo chegou a um ponto tal que, ainda que a produção de mercadoria continue reinando (…) os lucros principais vão parar nas mãos de gênios das maquinações financeiras”, o que hoje são os fundos de especulação controlados por senhores como George Soros ou Paulo Guedes, por exemplo.
A mudança da fase concorrencial do capitalismo (caracterizada pela exportação de mercadorias) para a fase monopolista (caracterizada pela exportação de capitais) tem como objetivo último o aumento dos lucros monopolistas, via empréstimos ou através de investimentos estrangeiros diretos em nações periféricas, onde o capitalismo se estabelece em bases estruturais diferentes, subordinadas ao regramento das relações de poder imperialistas. Essa dinâmica do capital impõe à busca de novos espaços que permitam a expansão do raio de atuação desse capital, fazendo com sua ampliação alcance maior plenitude.
Este processo se caracteriza por cinco pontos, a saber: a) a exportação de capitais; b) a produção e distribuição centralizada em grandes empresas; c) a fusão de “capital bancário” com “capital industrial” na forma de “capital financeiro”; d) a “disputa geopolítica entre as potências capitalistas”; e e) as guerras como fenômeno recorrente dessa disputa. Lenin afirma que a concentração da produção se conecta com uma fase monopolista que será a fase superior do capitalismo, a qual será chamada de Imperialismo.
Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FPensamento-subdesenvolvimento-e-geopolitica-na-historia%2F4%2F50174
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