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Pesquisa reúne experiência de negros com racismo na Alemanha

Dois terços dizem ser avaliados desfavoravelmente em locais de ensino, e 56% já foram indagados se vendiam drogas. Mais de 90% afirmam ser desacreditados ao relatar racismo. Estudo não representativo ouviu 6 mil negros.

Por Volker Witting

O pai de família Adegbayi B. caminhava com sua filha de um ano de idade em Berlim, no bairro Fennpfuhl, na última sexta-feira (26/11). Repentinamente, o homem de origem nigeriana foi atingido por uma cuspida de uma mulher, que também o insultou violentamente de forma racista. Ele filmou o incidente e relatou o ataque à polícia.

A mulher foi presa pouco tempo depois. Em entrevistas, Adegabyi B diz que o racismo é uma companhia constante na Alemanha. Ele é insultado racialmente de duas a três vezes por mês. Segundo Adegabyi B., sua filha está traumatizada desde o incidente da semana passada.

Não é um caso isolado. Com frequência, pessoas negras têm seus cabelos tocados sem serem perguntadas. Ouvem pedidos de drogas ou são abordadas de forma sexista. A polícia as revista com mais frequência do que pessoas brancas. Conseguir alugar um apartamento pode ser mais difícil para os negros.

Muitos negros na Alemanha já tiveram essas experiências. Cerca de 6 mil deles as relataram em uma pesquisa anônima e voluntária realizada em julho a setembro de 2020. Um relatório de 300 páginas apresentado nesta terça-feira resume os resultados.

“Foi um caminho muito longo. Foi uma luta”, diz Daniel Gyamerah, pesquisador sobre racismo da organização Each One Teach One, ao apresentar a pesquisa. Ele menciona “relatos dolorosos”.

Gyamerah diz que o governo federal não deu muita atenção à coleta desses dados, “como seria de fato a sua obrigação em matéria de direitos humanos”. “O racismo contra negros não é nosso problema. Não fomos nós que o inventamos ou o criamos, o problema é estrutural”, ele ouviu.

Falta de dados sobre racismo na Alemanha

A pesquisa não é representativa, mas mostra tendências e descreve experiências amargas de pessoas que ainda são discriminadas na Alemanha. Ela foi realizada por um projeto conjunto da Each One Teach One e da Citizens for Europe, organizações da sociedade civil que defendem a diversidade e a democracia.

O projeto foi financiado com cerca de 150 mil euros (R$ 958 mil) da agência antidiscriminação do Ministério da Família, Idosos, Mulheres e Juventude da Alemanha. Bernhard Franke, diretor interino da agência, afirma que “os resultados do Afrocenso mostram de forma impressionante as manifestações e os efeitos da discriminação e do racismo contra negros na Alemanha”.

“Qual é o problema afinal? Vocês existem mesmo?” Diversas vezes ele ouviu essas perguntas, também de políticos, diz Gyamerah à DW. Isso o estimulou a prosseguir com o projeto.

Sim, eles existem. Há mais de um milhão de negros vivendo na Alemanha. São jornalistas, músicos, pesquisadores, faxineiros, aposentados e muitos outros. Muitos se sentem em desvantagem e expostos ao racismo em órgãos públicos e na vida cotidiana. Mais de 42% dos participantes da pesquisa vivenciam isso.

Foto externa mostra em primeiro plano rapaz negro com o punho erguido. Ao fundo, pessoas em manifestação em cidade na Alemanha.
Racismo opera por três mecanismos na Alemanha: atribuição de exotismo, sexualização e criminalizaçãoFoto: picture-alliance/dpa/S. Willnow

Nunca foi feita uma pesquisa como o Afrocenso na Alemanha, onde o registro estatístico de cidadãos de acordo com critérios étnicos é incomum. Isso também tem a ver com a história colonial do país e a era nazista.

Gyamerah refuta críticas à pesquisa com esta resposta: “Há sempre o medo de que a pesquisa crie essas comunidades”, diz. “Mas nós estamos aqui. Somos parte da sociedade e não podemos ser renegados”.

Experiências de discriminação e racismo

Os pesquisadores chegaram à conclusão que o racismo contra negros na Alemanha opera por três mecanismos. A atribuição de exotismo é provavelmente o mais importante: 90% dos respondentes disseram ter tido seus cabelos tocados sem serem perguntados. Mas a sexualização dos negros também é uma experiência comum. Quase 80% dizem ter recebido comentários sexualizados em aplicativos de namoro sobre a sua aparência ou “origem”.

A criminalização também tem um papel. Cerca de 56% dos entrevistados dizem ter sido perguntados se vendiam drogas. Percentual semelhante também já foi parado pela polícia sem motivo aparente. Dois terços dos entrevistados do Afrocenso (67,6%) acreditam que são avaliados de forma menos favorável do que seus colegas de escola ou universidade por conta de avaliações racistas.

Quando negros, africanos e pessoas da diáspora africana resistem à discriminação, com frequência vivenciam más experiências. Mais de 90% dizem que são desacreditados quando mencionam casos de racismo, e 75% dos afetados sequer reportariam casos de racismo. Além disso, muitas vezes é dito a eles para não fazerem tanto alarde.

De acordo com a associação Opferperspektive, sediada em Potsdam, de três a quatro pessoas na Alemanha são vítimas de violência de extrema direita por dia. Cerca de dois terços de todos os ataques têm motivos raciais.

Afrocenso, apenas um começo

Bernhard Franke, da agência anti-discriminação do governo, está satisfeito com o Afrocenso. E ele elogia o futuro governo federal, que pretende nomear delegados para atuar em casos de discriminação.

Para os autores do Afrocenso, o estudo foi apenas um começo. Eles querem continuar a pesquisa e publicar os resultados em inglês e francês. Eles também pedem mais centros comunitários, centros de aconselhamento e planos governamentais para combater o racismo contra os negros. O ataque racista em Berlim mostra que isso é necessário.

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