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Se Joe Biden está se movendo para a esquerda, agradeça à esquerda

Joe Biden assinou uma série de decretos no dia da sua posse que são surpreendentemente progressistas. E nós sabemos quem agradecer: a esquerda organizada, que tem ajudado a transformar a política nos EUA.

Por Liza Featherstone / Tradução Guilherme Ziggy

Joe Biden, sejamos francos, é uma figura bem improvável de sustentar uma agenda política que mire na transformação. Ele está implicado profundamente em muito do que há de errado com os Estados Unidos e o mundo de hoje: já trabalhou feliz da vida com segregacionistas nos anos 1970, depois virou um criminoso parlamentar, fato que resultou em encarceramento em massa, e foi também um campeão da guerra do Iraque, que matou dezenas de milhares de civis iraquianos e soldados estadunidenses. Em Yesterday’s Man (Verso, 2020), o novo livro do meu colega de Jacobin, Branko Marcetic, você pode conhecer mais sobre essa deprimente figura pública do conservadorismo.  

Vale perguntar por que, então, dado este histórico e contexto, a nova agenda política de Biden parece surpreendentemente decente? Parte disso se explica com a tentativa de desfazer o estrago e as falhas críticas dos últimos quatro anos; sabemos que seu antecessor, um aspirante a ditador adorado por fascistas ao redor do mundo, acabou com qualquer parâmetro. Entretanto, esta não é toda a história. 

Ontem, durante seu primeiro dia de mandato, Biden assinou uma série de decretos executivos. Alguns deles acenam para o que qualquer democrata faria, mas ainda assim, são dignos de nota, já que são cruciais para a sobrevivência humana: ele assinou um decreto que obriga o uso de máscaras em todos as propriedades públicas, retornou ao acordo de Paris e a Organização Mundial da Saúde (OMS), e restaurou a capacidade deste governo de lidar com a pandemia de maneira coordenada.

Também deu fim à comissão racista e anti-intelectual de Trump, a Comissão 1776, e colocou os imigrantes mais próximos da residência permanente de novo. Os outros decretos visam reverter o ataque bárbaro à classe trabalhadora internacional empregado pelo governo Trump: o fim do “banimento muçulmano” (impedimento de entrada de pessoas de certos países, todos muçulmanos), a retomada dos requerimentos para vistos destes países, em um movimento para reunir famílias separadas na fronteira, criar proteções contra a discriminação racial, parar com a construção do muro, e reinserir não-cidadãos estadunidenses no Censo nacional.

Ainda, alguns desses decretos foram mais longe ainda, incorporando um afastamento mais decidido da política econômica bipartidária da era Reagan do que esperamos. Ele interrompeu o oleoduto Keystone, revogou permissões de combustível e gás em todos os monumentos nacionais, estendeu ordens de despejo e encerrou moratórias, pausou o pagamento de empréstimos estudantis e congelou as regulações contra o meio-ambiente de Donald Trump.

Sua agenda legislativa também se afasta da austeridade que muitos de nós esperávamos dele um ano atrás. Qualquer democrata em sã consciência – torcemos – rejeitaria a besteira anticientífica e machista que foi a resposta de Trump à pandemia e ao menos tentaria um estímulo econômico meia-boca para enfrentar a recessão.

A coisa é que Biden está propondo gastar dinheiro de verdade com essas urgências. E pediu ao Congresso 1.9 trilhões de dólares para vacinar todos o mais rápido possível, investir no auxílio às famílias estadunidenses, ajudar escolas a abrirem em segurança, os governos estaduais a sanar problemas públicos vitais, e aumentar o salário mínimo para 15 dólares/hora. Ele nomeou Janet Yellen para a secretaria do Tesouro e não um urubu capitalista qualquer. Biden parece aberto à ideia de taxar os ricos. Diz ele que quer expandir o acesso à saúde. 

Ele também colocou uma ênfase sem precedentes na mudança climática, mesmo em meio à outras crises que naquele momento os eleitores considerassem mais urgentes, e nomeou um time de especialistas no clima para sua equipe na Casa Branca, estabelecendo a meta de descarbonizar o sistema elétrico em quinze anos, ação que surpreendeu tanto a indústria de combustível fóssil quanto ativistas climáticos. 

Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2021/01/se-joe-biden-esta-se-movendo-para-a-esquerda-agradeca-a-esquerda/

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