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Vacinação na América Latina começa lenta, desigual e envolta por desconfiança

Início é marcado por falta de infraestrutura, dúvidas sobre a eficácia e em relação aos acordos de cooperação, que, ao que tudo indica, são tardios e incompletos

Jorge Galindo

Um ano depois das primeiras notícias sobre o novo coronavírus, a América Latina se pergunta se a vacinação maciça será a única saída para a pandemia ―e isso em meio a uma nova onda de contágios, possivelmente favorecida pelas férias, encontros e deslocamentos de dezembro. E não só em termos individuais: a vacina parece ser hoje a única aposta de Governos que não conseguiram ―ou quase nem tentaram― restringir ao máximo o movimento de seus cidadãos, sobretudo em economias com altos índices de informalidade.

A maioria dos países da região ainda não começou a administrar a vacina. Apenas Argentina, Chile, Costa Rica e México têm programas já iniciados e com números minimamente significativos, embora todos ainda estejam abaixo de 0,2% da meta ―alguns milhares de pessoas.

Número de vacinados por 100.000 habitantes em cada país

Chile se destaca dos demais países da região por seus acordos bilaterais com os laboratórios produtores. Ao mesmo tempo, é notável também a diferença que existe, por exemplo, entre o México e a Venezuela ou El Salvador. Isso para não falar de países onde não há registro de compras específicas: em alguns, como o Uruguai e o Paraguai, porque as negociações para isso ainda não foram concretizadas, embora pareçam estar próximas da sua conclusão; em outros, como Cuba, porque cientistas locais vêm desenvolvendo iniciativas próprias. E, em outros mais, por aparente falta de recursos. Nestes, na falta de confirmações sobre a aquisição, o acesso às vacinas depende por enquanto de mecanismos multinacionais de compra, especialmente o chamado Covax.

Esse acordo, promovido pela OMS para garantir o acesso de todos os países à vacina, provavelmente acabará sendo usado por todos os países da região. As autoridades da Colômbia e Peru, por exemplo, salientaram sua intenção de completar os programas de cobertura de suas populações graças à vacina obtidas através desse mecanismo. As autoridades peruanas esperam que parte dos 13,2 milhões de dose adquiridas por esta via comecem a chegar no primeiro trimestre do ano. Na Colômbia, os planos do Covax alcançam 20 milhões de doses. Na Guatemala, são esperadas 6,7 milhões de doses por essa via (as únicas confirmadas até agora); 1,9 milhão a Honduras, que também planeja aquisições bilaterais (quase outros 2 milhões da AstraZeneca). Nesses dois países centro-americanos, que estão entre os mais pobres da região, a imunização dependerá da manutenção do acordo e chegará de qualquer forma com atraso em relação aos vizinhos.

Doses de vacina adquiridas por habitante em compras bilaterais

A maioria de Governos está, portanto, desenvolvendo uma estratégia mista em que as vacinas adquiridas por sua conta em negociações diretas com os laboratórios representarão apenas uma parte da imunização. Mas por enquanto essas são as únicas vacinas para as quais há dados disponíveis e programas em andamento nos quatro países mencionados. A origem dessas doses é variada. A Argentina está usando a vacina desenvolvida pela AstraZeneca com a Universidade de Oxford (de dose dupla e com uma eficácia estimada em 65%), mas também a Sputnik V, produzida pela Gamaleya sob o guarda-chuva do Governo de Vladimir Putin. Segundo as autoridades russas, sua eficácia supera 90%, similar à da Pfizer (também de dose dupla, e a mais habitual atualmente no continente: Chile, Costa Rica e México a estão empregando, e a Colômbia espera começar com ela em fevereiro) e da Moderna (que, por seu elevado custo unitário, ficou de fora dos pacotes adquiridos na América Latina).

Saiba mais em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-12/vacinacao-na-america-latina-comeca-lenta-desigual-e-envolta-por-desconfianca.html

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