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Adesões a manifesto pró-democracia passam de 165 mil

Documento recebeu assinaturas de banqueiros e pesos-pesados do PIB brasileiro e foi divulgado em reação a ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral. Presidente reage com desdém, e ministro espalha desinformação

Crédito Foto: Reuters/P.Whitaker. Em desvantagem nas pesquisas, Bolsonaro tem multiplicado acusações infundadas contra o sistema eleitoral

Um manifesto em defesa da democracia organizado por nomes da Faculdade de Direito da USP angariou mais de 165 mil assinaturas em dois dias até a manhã desta quinta-feira (28/07). Divulgada na noite de segunda-feira, a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” foi elaborada em meio a um aumento da tensão política no país a menos de 70 dias da eleição presidencial. Embora não cite nominalmente Jair Bolsonaro, o texto é uma reposta à retórica golpista do presidente e à ofensiva do Planalto contra o sistema eleitoral do país.

Entre os signatários do documento estão banqueiros e empresários influentes, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), artistas e personalidades da sociedade civil. Uma leitura oficial do manifesto, pelo ex-ministro do STF Celso de Mello, está marcada para 11 de agosto, na sede da Faculdade de Direito da USP, no centro de São Paulo.

manifesto foi inspirado na chamada Carta aos Brasileiros de 1977, um texto de repúdio a ações da ditadura militar, redigido pelo jurista Goffredo da Silva Telles.

“Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, diz o documento, que adverte ainda que o país passa por um momento de “perigo para a normalidade democrática” e “risco às instituições da República”.

Signatários

Assinam o manifesto figuras como os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú-Unibanco, o maior banco privado do Brasil, e Candido Bracher, ex-presidente da instituição; os empresários Walter Schalka (presidente da Suzano, gigante do setor de papel e celulose); Pedro Passos e Guilherme Leal, da fabricante de cosméticos Natura, e o atual CEO da empresa, Fábio Barbosa; Eduardo Vassimon, presidente do conselho de administração do grupo Votorantim; e o bilionário Horácio Lafer Piva, da Klabin.

Entre os signatários também estão 12 ex-ministros do STF, como Celso de Mello, Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Carlos Ayres Britto e Eros Grau. Além disso, recebeu a adesão de dois ministros do Superior Tribunal de Justiça: Rogerio Schietti e Sebastião Alves dos Reis Júnior.

O manifesto não é um endosso à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está no topo das pesquisas. Alguns nomes que assinaram o documento, como o bilionário Roberto Setubal, chegaram a manifestar preferência nos últimos meses pela presença de um candidato de “terceira via” nas eleições deste ano. Outros, como o jurista Miguel Reale Jr., atuaram para aprovar o impeachment da petista Dilma Rousseff em 2016.

No momento, Bolsonaro está em desvantagem nas pesquisas, que apontam inclusive o risco de ele perder já no primeiro turno para Lula. Os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral têm se multiplicado conforme se aproxima a data da eleição, com o presidente fazendo seguidas acusações infundadas sobre a possibilidade de fraude no pleito ou que as urnas eletrônicas não são seguras.

O manifesto foi divulgado um dia após Bolsonaro usar a convenção do seu partido para convocar um novo ato no 7 de Setembro com o objetivo de insuflar sua base radical e tentar intimidar o Supremo Tribunal Federal (STF).

“Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral”, diz o documento.

“Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos”, prossegue a carta.

“Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições”, acrescenta o manifesto, numa clara referência às ameaças de Bolsonaro de não reconhecer uma derrota na sua campanha à reeleição.

Reação do Planalto

Bolsonaro abordou com desprezo o manifesto na quarta-feira, durante a convenção do PP, que oficializou apoio à sua chapa. “Não precisamos de nenhuma cartinha para falar que defendemos nossa democracia, para falar que cumprimos a Constituição, não precisamos de apoio ou sinalização de quem quer que seja para mostrar que nosso caminho é a democracia, a liberdade, o respeito à Constituição”, disse.

Em contraste com outros manifestos dos últimos anos, que reuniram principalmente figuras da oposição ou artistas de esquerda, a presença de nomes importantes do PIB nacional causou desconforto no Planalto. A reação dos aliados de Bolsonaro foi partir para o ataque e espalhar desinformação.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi o primeiro a lançar a ofensiva, acusando os bancos de estarem contra Bolsonaro por causa das perdas de receita com cobrança de serviços após o lançamento do Pix, o mecanismo de transferências bancárias gratuitas que entrou em operação em 2020.

“Então, presidente, se o senhor faz alguém perder 40 bilhões por ano para beneficiar os brasileiros, não surpreende que o prejudicado assine manifesto contra o senhor. Mas os beneficiários, presidente, as dezenas de milhões de beneficiários do PIX vão assinar o manifesto deles também, no dia da eleição, apoiando o seu nome”, disse Nogueira.

O ministro, no entanto, não explicou de onde tirou o valor de R$ 40 bilhões que os bancos teriam perdido com o Pix. Dados mais recentes apontam que a perda de receita dos bancos com a cobrança de transferências foi entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2,7 bilhões em 2021, número muito menor do que o citado por Nogueira.

Além disso, o lucro dos bancos aumentou no período, compensando em larga medida qualquer perda com o Pix – um aumento de 30% em relação a 2020.

O Pix também foi elaborado antes do governo Bolsonaro, durante a administração de Michel Temer. Em outubro de 2020, no dia do lançamento oficial da ferramenta, Bolsonaro também demonstrou que não sabia o que era o Pix. Ao falar com apoiadores, o presidente foi questionado sobre o mecanismo de transferências e pagamentos bancários e reagiu com surpresa: “Não tomei conhecimento.”

Veja em: https://www.dw.com/pt-br/ades%C3%B5es-a-manifesto-pr%C3%B3-democracia-passam-de-165-mil/a-62624009

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