Com a eleição de seu primeiro presidente de esquerda, a Colômbia vive uma revolução democrática. Uma vitória das ideias de Gustavo Petro para um país dos jovens, das mulheres e das minorias, opina José Ospina-Valencia.
Créditos da foto: Fernando Vergara/AP Photo/picture alliance. Celebração após vitória de Gustavo Petro, com Francia Márquez como vice
“É um propósito nacional unir a todos os colombianos”, disse o presidente eleito Gustavo Petro.
A tarefa é titânica: as feridas de 200 anos de discriminação contra negros, indígenas e os mais pobres; 70 anos de conflito armado; e 20 anos de uribismo deixaram 50 milhões de colombianos cheios de medo, ódio, luto e incerteza. E a pandemia elevou para 20 milhões o número de colombianos que passam fome. Não à toa, o presidente eleito popôs um “grande acordo nacional” para evitar o aprofundamento das divisões.
Mas Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia, ainda terá que convencer milhões de pessoas que foram capturadas por campanhas de ódio e estigmatização. A repulsa em relação a Petro e seu projeto de mudança social e econômica é tal que impediu esses milhões de entenderem que a Colômbia não pode e não se tornará uma segunda Venezuela, porque essa não é intenção de Petro e porque nem o Congresso, nem o Tribunal Constitucional, nem as Forças Armadas o permitiriam.
Aqueles que votaram em Petro votaram para que a Constituição de 1991 fosse plenamente cumprida. É também o que esperam aqueles que votaram em seu concorrente, Rodolfo Hernández, a quem agora cabe um assento no Congresso.
Hernández, que no TikTok fez as pessoas rirem, na vida real fez muitos se engasgarem com a possibilidade real de sua vitória. Muitos temiam um verdadeiro retrocesso. O desdém de Hernández pelas vias democráticas fez com que Gustavo Petro parecesse o garantidor da institucionalidade.
Louvável foi o reconhecimento por parte de Hernández da derrota e sua oferta de “apoio para cumprir as promessas de mudança a favor das quais a Colômbia votou”.
Em tempos em que alguns políticos cometem crimes no Congresso, ministérios e prefeituras, e depois enredam e atacam os órgãos que os investigam, as instituições democráticas nunca estiveram tão firmes como agora. É incrível, mas é uma realidade na Colômbia. Tranquilizadora, para dizer o mínimo.
Tudo isso permitiu uma eleição civilizada, apesar de a campanha eleitoral ter sido a mais suja de todas. A coalizão Pacto Histórico, de Petro, também utilizou o descrédito e a estigmatização contra seus adversários. Há muito tecido social a ser reparado.
Esta é uma revolução democrática, como aquela em que o próprio Gustavo Petro acreditava há 30 anos, quando se desmobilizou do grupo guerrilheiro M-19. Era agora ou nunca, diziam alguns.
A promessa de resgatar milhões de jovens sem educação ou perspectivas é a grande aposta. O fato de, após os protestos de 2021 por uma bolsa de estudos e por trabalho, pessoas terem sido alvo de violência, perdido seus olhos ou nunca mais tenham voltado para casa é um dos aspectos inaceitáveis da Colômbia violenta que deve ser erradicado.
A Colômbia vive nada menos que uma revolução democrática, também porque chega à vice-presidência a ambientalista Francia Márquez, líder das lutas dos afro-colombianos e de lideranças comunitárias – dos assassinados e daqueles que sobreviveram à matança sem fim na Colômbia.
O fato de Gustavo Petro ter chegado vivo à sua eleição também conta como uma vitória na Colômbia.
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