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O que diziam as pesquisas na reta final de eleições passadas

Contrastando com pesquisas voláteis de setembro de 2014 e 2018, disputa de 2022 tem sido marcada pela estabilidade. De 2002 a 2010, a pergunta foi a mesma da deste ano: se o 1° colocado seria capaz de ganhar no 1° turno.

Por: Jean-Philip Struck. Em meados de setembro de 2018, Bolsonaro aparecia na liderança do Datafolha, com 26%, seguido por Hadadd e Ciro, empatados com 13%

A pesquisa Datafolha mais recente, divulgada em 9 de setembro, apontou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua com uma liderança confortável de 45% dos votos totais na disputa ao Planalto, 11 pontos à frente de Jair Bolsonaro, que conta com 34%. Nos votos válidos, que excluem brancos e nulos, Lula tem 48%, contra 36%.

Para Lula, é um cenário de vantagem parecido com o registrado há praticamente um ano. Em 17 de setembro de 2021, o petista aparecia com 44% dos votos totais, contra 26% do atual ocupante do Planalto. De lá para cá, estabilidade foi a principal marca da disputa eleitoral, com o cenário sofrendo poucas mudanças e sem novos fatos políticos decisivos ou a ascensão de um terceiro candidato capaz de embaralhar a corrida.

O número de indecisos nesta reta final, a pouco menos de três semanas do pleito, também é pequeno, de 3%, permitindo pouca margem de manobra para candidatos em desvantagem.

A eleição contrasta com os pleitos de 2018 e 2014, marcados por episódios inesperados, que sacudiram as pesquisas nas semanas que antecederam o primeiro turno, como a decisão da Justiça Eleitoral de barrar a candidatura de Lula, o atentado a faca contra Bolsonaro, a morte do ex-governador Eduardo Campos e a ascensão e queda meteóricas de Marina Silva.

As eleições de 2002, 2014 e 2018, por sua vez, foram marcadas por disputas mais dinâmicas que a atual pela segunda posição no primeiro turno.

Com os números estáveis há meses, e com o primeiro colocado contando com mais de dez pontos de vantagem, o cenário da reta final do primeiro turno de 2022 encontra paralelo com os levantamentos feitos em setembro de 2002, 2006 e 2010 – que levantavam como principal pergunta: o primeiro colocado será capaz de ganhar a eleição já no primeiro turno?

Em comum, as pesquisas da reta final do primeiro turno dos pleitos de 2002 a 2018 ainda mostram que os primeiros colocados nas três semanas anteriores à votação nunca sofreram uma virada de última hora.

Setembro de 2018: Haddad e Bolsonaro crescem

Jair Bolsonaro e Fernando Haddad
Com o apoio de Lula, Haddad passou de 13% para 22% em apenas duas semanas; Bolsonaro cresceu especialmente nos dias imediatamente anteriores ao primeiro turno

Datafolha (14/09/2018)

Jair Bolsonaro: 26%

Fernando Haddad: 13%

Ciro Gomes: 13%

Geraldo Alckmin: 9%

Marina Silva: 8%

Em 14 de setembro de 2018, Jair Bolsonaro (então no PSL) aparecia na liderança do Datafolha, com 26% das intenções de voto.

Na segunda posição, Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) apareciam empatados com 13%, seguidos por Geraldo Alckmin (então no PSDB), que tinha 9%, e Marina Silva (Rede), com 8%. O percentual de indecisos chegava a 8%.

Era um cenário que já havia sofrido reviravoltas e que ainda iria mudar significativamente até o primeiro turno.

Ao longo de agosto e setembro, dois acontecimentos bagunçaram a disputa. No primeiro, Lula, que era apontado como  favorito, com 39% das intenções de voto no Datafolha de 21 de agosto, teve sua candidatura barrada e acabou sendo substituído por Haddad em 11 de setembro. Ainda em setembro, foi a vez de Jair Bolsonaro sofrer um atentado a faca, que acabou lhe garantindo mais espaço na cobertura jornalística.

Cerca de um ano antes, em 28 de setembro de 2017, Lula era favorito, aparecendo com cerca de 35% das intenções nos cenários em que seu nome foi incluído. Bolsonaro já aparecia com entre 15% e 19%.

À primeira vista, a pesquisa Datafolha de 14 de setembro de 2018 mostrava que a disputa para quem iria ao segundo turno com Bolsonaro parecia mais aberta.

No entanto, ela já cristalizava uma tendência final: tanto Haddad quanto Bolsonaro estavam em trajetórias de crescimento em relação a levantamentos anteriores, enquanto Marina Silva via seu apoio erodir, e Alckmin permanecia empacado.

Com o apoio de Lula, Haddad passou de 13% para 22% em apenas duas semanas, deixando Ciro, Alckmin e Marina para trás. Já Bolsonaro cresceu especialmente nos dias imediatamente anteriores ao primeiro turno.

No dia da votação, Haddad acabaria conquistando 29,86% dos votos válidos, contra 46,03% de Bolsonaro. No período entre o primeiro e o segundo turno, o petista nunca conseguiu ultrapassar o atual presidente nas pesquisas.

Setembro de 2014: Dilma na liderança, Marina perde fôlego e começa a ser ultrapassada por Aécio

Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves
Pleito de 2014 foi marcado por disputa acirrada na reta final. Em setembro daquele ano, Marina chegou a ultrapassar Aécio e ameaçar Dilma, mas acabou fora do primeiro turno. Foto: Reuters

Datafolha (18/09/2014)

Dilma Rousseff: 37%

Marina Silva: 30%

Aécio Neves: 17%

No Datafolha de 18 de setembro, o cenário apontava liderança da então presidente Dilma Rousseff, com 37% das intenções de voto. A ex-ministra Marina Silva tinha 30%, seguida de Aécio Neves (PSDB), com 17%. Os indecisos somavam 7%.

Embora o cenário se desenhasse para um segundo turno entre Dilma e Marina, a pesquisa já vinha captando duas tendências: uma erosão das intenções de voto de Marina e o início de uma subida paulatina de Aécio, que pouco mais de duas semanas depois acabaria passando para a segunda rodada com a presidente.

Em 3 de setembro, Marina já havia atingido seu teto de intenções de voto, aparecendo com 34% no Datafolha, empatada tecnicamente com Dilma, que tinha 35%. Aécio contava com 14%. Outros candidatos não ultrapassavam 1%.

Ao longo de setembro, uma intensa campanha de desconstrução da imagem de Marina pelo PT e em menor escala pelo PSDB acabou contribuindo para desgastar o apoio a ex-ministra, que também passou a penar com pouco tempo de TV – um fator de bastante peso em 2014.

Um dia antes do primeiro turno, em 4 de outubro, o Datafolha captou a virada na segunda colocação, com Aécio aparecendo com 26% dos votos válidos, contra 24% de Marina. Dilma tinha 44%. No final, o instituto conseguiu confirmar dentro da margem de erro os percentuais de Dilma e Marina, mas a votação de Aécio foi maior: ele conseguiu 33,55% dos votos.

A arrancada de Aécio e a derrocada da campanha de Marina não haviam sido as únicas reviravoltas que marcaram o primeiro turno. A própria presença de Marina na corrida já havia sido inesperada. Ela havia sido alçada à cabeça da sua chapa após o candidato original, o ex-governador Eduardo Campos (PSB), morrer em um acidente aéreo em 13 de agosto.

Nas pesquisas Datafolha e Ibope realizadas antes de sua morte, Campos nunca ultrapassou 9% das intenções de voto. Já Marina estreou com entre 21% e 29% nos dois institutos poucos dias depois de assumir a cabeça de chapa, ganhando impulso com a comoção causada pela morte de Campos.

No entanto, como se viu depois, a ascensão de Marina duraria pouco, e a eleição acabou se desenhando para mais uma polarização entre PT e PSDB, que seria a mais acirrada entre os duelos dos dois partidos: no segundo turno, Dilma derrotou Aécio por uma vantagem de apenas 3,26 pontos nos votos válidos.

Setembro de 2010: Eleição caminhava para ser liquidada no primeiro turno

Datafolha (15/09/2010)

Dilma Rousseff: 51%

José Serra: 27%

Marina Silva: 11%

O Datafolha de 16 de setembro de 2010 apontava que a então ex-ministra Dilma Rousseff (PT), que contava com apoio decisivo do popular presidente Lula, caminhava para vencer a eleição já no primeiro turno.

Na pesquisa, Dilma contava com 51% das intenções de voto totais, contra 27% do segundo colocado, o ex-governador paulista José Serra (PSDB). Ambos eram seguidos por Marina Silva (então no PV), com 11%. Eleitores indecisos chegavam a 7%. Considerando apenas os votos válidos, Dilma tinha 57%.

Em dezembro de 2009, era Serra que aparecia como favorito, com 38% dos votos, enquanto Dilma ainda solidificava a construção da sua imagem junto ao eleitorado com o apoio de Lula, já conseguindo 26% das intenções de voto no Datafolha.

A virada foi detectada pelo instituto ainda na segunda quinzena de maio daquele ano, quando Dilma alcançou Serra, e os dois apareceram empatados com 36%. No final de agosto, a petista já aparecia 20 pontos à frente do tucano.

No entanto, na reta final, Dilma perdeu um pouco da sua vantagem. Em 22 de setembro, ela havia oscilado negativamente de 51% para 49% dos votos totais. Serra oscilou de 27% para 28%. Dilma ainda matinha chances de ganhar no primeiro turno, mas um repentino crescimento de Marina Silva na reta final acabaria lhe tirando votos.

De acordo com o Datafolha, Marina subiu de 11% para 14% nas três semanas que antecederam o pleito, enquanto Dilma oscilou negativamente para 47%.

O resultado do primeiro turno confirmou a ascensão de última hora de Marina, ela terminou com 19,33% dos votos válidos, sendo apontando à época como um dos principais fatores que impediram a vitória de Dilma ainda no primeiro turno.

A petista obteve 46,91% dos votos válidos, passando para a segunda rodada com Serra, que teve 32,61%. O tucano, porém, nunca ameaçou seriamente Dilma no segundo turno, terminando por perder para a petista por 12 pontos de diferença.

Setembro de 2006: Eleição também se desenhava para ser liquidada no primeiro turno

Lula e Alckmin
Lula e Alckmin em 2022. Em 2006 eles eram adversários. Foto: Evaristo Sa/AFP

Datafolha (12/09/2006)

Luiz Inácio Lula da Silva: 50%

Geraldo Alckmin: 28%

Heloisa Helena: 9%

No Datafolha de 12 de setembro de 2006, Lula, que concorria à reeleição, aparecia com 50% das intenções de votos totais, contra 28% de Geraldo Alckmin (então no PSDB, e hoje candidato a vice na chapa do petista). Os dois eram seguidos por Heloisa Helena (Psol), com 9%. Cristovam Buarque (então no PDT), tinha 1%. Os indecisos somavam 6%.

Com um cenário que pouco se alterava nas pesquisas, a questão era se Lula seria capaz de ganhar ainda no primeiro turno. Pelo levantamento de 12 de setembro, o petista teria 56% dos votos válidos. A pesquisa seguinte, em 19 de setembro, mostrou um cenário parecido, com Lula mantendo os mesmos 50% dos votos totais e 56% dos válidos e Alckmin oscilando positivamente para 29% na votação total.

Esse último levantamento havia sido realizado logo após o chamado “escândalo dos aloprados”, quando um grupo de petistas de baixo escalão foi preso tentando comprar um dossiê que seria usado contra candidatos tucanos.

O escândalo não afetou imediatamente a campanha do petista, mas nos dias que antecederam o pleito, dois fatos políticos acabaram custando votos a Lula.

Em 28 de setembro, durante o último debate presidencial do primeiro turno, que não contou com participação de Lula, Alckmin, Buarque e Helena exploraram a ausência do petista e usaram o programa para dirigir críticas ao governo.

No dia seguinte, 48 horas antes do primeiro turno, um delegado da Polícia Federal vazou para a imprensa fotos de uma pilha de dinheiro que havia sido apreendida com os petistas presos quase duas semanas antes. As imagens circularam amplamente.

Na véspera do primeiro turno, Lula marcou 50% dos votos válidos no Datafolha, contra 38% de Alckmin. Pelo levantamento, o petista ainda mantinha uma chance de ganhar, mas a contagem acabou lhe dando 48,61% dos votos totais. Alckmin passou para a segunda rodada com 41,64%.

No entanto, Alckmin nunca ameaçou Lula no segundo turno. Em um levantamento realizado 16 dias após a primeira rodada, o petista já havia aberto 19 pontos de vantagem. No final, Lula foi reeleito com 60,83% dos votos válidos. Alckmin, por sua vez, teve 39,17%, conseguindo a proeza rara em eleições presidenciais de receber menos votos do que na primeira rodada.

Setembro de 2002: Lula liderava com folga e campanha tinha dança das cadeiras pelo segundo lugar

Datafolha (21/09/2002)

Lula da Silva: 44%

José Serra: 19%

Anthony Garotinho: 15%

Ciro Gomes: 13%

Ao longo do mês de setembro, o Datafolha mostrou que Lula permaneceu em trajetória ascendente, sempre acima de 38%, enquanto houve uma troca de posições na segunda colocação. Ciro Gomes (então no PPS) aparecia em segundo lugar no início daquele mês, com 20%, empatado tecnicamente com o tucano José Serra, que tinha 19%. Anthony Garotinho (então no PSB) aparecia com 10%.

Em 21 de setembro, as posições no segundo lugar haviam se invertido. Serra continuava com 19%, mas melhorou sua posição com a derrocada de Ciro, que caiu para 13%, e acabou ultrapassado até mesmo por Garotinho, que somava 15%. Lula tinha 44%.

Lula chegou à véspera do primeiro turno com 48% das intenções de votos válidos, pouco abaixo do suficiente para já vencer. A disputa pelo segundo lugar permanecia em aberto, com Serra e Garotinho tecnicamente empatados.

Na contagem final, Lula obteve 46,44% dos votos válidos, contra 23,2% de Serra. Garotinho terminou com 17,87%, seguido de Ciro, com 11,97%.

No segundo turno, Lula recebeu apoio de Garotinho e Ciro, deixando Serra isolado. O tucano nunca ameaçou a liderança do petista, que terminaria vencendo o pleito com 61,27% dos votos válidos, contra 38,73%.

 

Veja em: https://www.dw.com/pt-br/o-que-diziam-as-pesquisas-na-reta-final-das-elei%C3%A7%C3%B5es-passadas/a-63125404

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