Muitos ainda duvidam que o aquecimento global seja real ou não creem que ele seja produzido pela ação humana. O que dizem as pesquisas científicas? A DW mostra algumas respostas baseadas em fatos.
Por: Kathrin Wesolowski |Crédito Foto: WDR. Maior frequência de eventos extremos, como as cheias na Alemanha em 2021, é indício do aquecimento global
Uma seca severa em Monterrey, uma catástrofe causada por uma ruptura da geleira no pico Marmolada na Itália, uma onda de calor iminente em grande parte da Europa. Estes são apenas alguns dos exemplos recentes de acumulação de fenômenos naturais extremos, que os ambientalistas consideram evidência óbvia de que o planeta está se aquecendo rapidamente.
No entanto, ao redor do mundo ainda existe quem questione que o clima esteja mudando. Numa sondagem realizada em 2022 na Alemanha pelo instituto de pesquisas YouGov, 5% dos 2.059 participantes disseram não acreditar no aquecimento global.
Nos Estados Unidos, de acordo com um estudo do mesmo YouGov de junho de 2022, com 1.487 entrevistados, 9% não acreditam e 23% não têm certeza. A pesquisa registra um crescimento do número de céticos do clima nos EUA: em julho de 2021, apenas 6% dos 1.496 entrevistados não acreditavam nas mudanças climáticas, 15% não tinham certeza.
Segundo o psicólogo cognitivo Klaus Oberauer, da Universidade de Zurique, acreditar ou não no aquecimento global não depende do nível de educação. Ele descreve a negação da mudança climática como uma “estratégia política refinada”, em que uma questão científica é definida como uma questão de visão de mundo ligada à identificação a uma determinada orientação política.
Ele afirma, entretanto, que a questão de saber se a mudança climática existe ou não não é uma questão de sentimento ou visão de mundo, mas de fatos.
A DW reuniu alguns dos principais fatos em torno das principais alegações dos negacionistas do clima.
As mudanças climáticas são comprovadas cientificamente?
Sim, o aquecimento global e as mudanças climáticas são cientificamente comprovados há décadas. Pesquisadores descobriram que o fenômeno começou há mais de 180 anos, no início da Revolução Industrial.
Num relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cientistas de 195 países escrevem que há evidências crescentes de fenômenos climáticos extremos, como ondas de calor, chuvas fortes, secas e ciclones tropicais e, em particular, de sua relação com a influência humana.
Para seus relatórios climáticos, os especialistas analisam dezenas de milhares de estudos. Já em 1995, o painel concluía: “As evidências sugerem que há uma clara influência humana no clima global.”
O Consórcio Climático Alemão (DKK) também explica que todas as partes do sistema climático, ou seja, oceanos, gelo, terra, atmosfera e biosfera, se aqueceram significativamente nas últimas décadas – e o ar na superfície da Terra já está mais de 1ºC mais quente, na média global, do que na era pré-industrial.
Segundo especialistas, o objetivo deve ser limitar o aquecimento global a 1,5ºC até 2100. Caso contrário, as consequências das alterações climáticas vão se tornar cada vez mais prejudiciais para todo o planeta, o nível do mar poderá continuar a subir, e as condições meteorológicas se tornarão cada vez mais extremas.
Segundo Claas Teichmann, cientista do Climate Service Center Germany, isso quer dizer que muitas regiões apresentarão no verão um aumento de temperatura de alguns graus, já que o aquecimento de 1,5ºC almejado é considerado como uma média global de aquecimento.
As mudanças climáticas são causadas pelo homem?
Centenas de instituições de pesquisa de todo o mundo concordam que a mudança climática é causada pelos seres humanos. Num estudo americano, concluiu-se que mais de 99% dos 88.125 relatórios climáticos analisados concordavam que as mudanças climáticas são causadas pelos humanos.
Modelos são usados para simular como o clima teria se desenvolvido sem influências antropogênicas, e como ele se desenvolveu de fato. Além disso, a Nasa publicou um estudo em 2021 no qual pesquisadores provaram, por meio de observações de satélite da radiação terrestre, que a mudança climática não é natural, mas sim provocada pelo homem.
Se, por exemplo, combustíveis fósseis como carvão, petróleo ou gás natural são queimados, é liberado dióxido de carbono, gás que contribui para o efeito estufa. Juntamente com outros gases-estufa, ele bloqueia a radiação de calor, fazendo com que a Terra aqueça. “Em 2020, a concentração média anual de CO2 foi quase 50% maior do que antes do início da industrialização”, registra o site do DKK.
Em 12 de julho de 2022, o valor médio global do CO2 atmosférico era de 417 ppm (partes por milhão). A última vez que houve tanto CO2 na atmosfera foi há vários milhões de anos, quando os humanos modernos ainda não existiam e o nível do mar era, em média, 30 metros mais alto. Na época, de acordo com os pesquisadores, o planeta era muito mais quente no geral e havia menos gelo.
“Basicamente, por razões estatísticas, não se deve inferir uma mudança global no clima, ou seja, uma mudança de longo prazo, a partir de um único evento”, ressalva Andreas Becker, chefe do departamento de monitoramento climático do Serviço Meteorológico Alemão, em entrevista à DW. “Mas podemos calcular com probabilidades.”
Marie-Luise Beck, gerente do DKK, confirma por e-mail: “Devido às mudanças climáticas, os eventos extremos estão mudando em termos de frequência e intensidade,, ou seja, estão se tornando mais frequentes e mais fortes.”
Um exemplo: de acordo com um estudo internacional em que o Serviço Meteorológico Alemão (DWD) também esteve envolvido, a probabilidade de chuvas extremas, como as que levaram a inundações na Alemanha, Bélgica, Holanda e Luxemburgo em 2021, por exemplo, aumentou por um fator 1,2 para nove. Ainda assim, trata-se de intervalos enormes, explica Becker, pois o evento ainda é muito raro, mesmo com a mudança climática.
“Estamos falando de várias centenas de anos. Sem as mudanças climáticas, chuvas como essas só ocorreriam a cada 20 mil anos”, diz a meteorologista. “O estudo também mostra que a intensidade desses eventos extremos de precipitação aumentou entre 3% e 19% na região, devido ao aquecimento global causado pelo homem”, acrescenta um comunicado sobre o estudo.
O meteorologista-chefe e especialista em clima da emissora americana WFLA News, Jeffrey Berardelli, menciona outro exemplo: “Recentemente, a onda de calor no primeiro semestre desse ano na Índia e no Paquistão, que causou inundação por transbordamento de lago glacial, tornou-se 30 vezes mais provável devido às mudanças climáticas.”
Conclusão: Há quase 100% de consenso científico de que o clima está mudando – e que os humanos são responsáveis. Associado a isso, aumentam os eventos climáticos extremos estatisticamente mensuráveis, que são uma ameaça a vidas humanas e de toda a Terra.
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