Investimento nas refinarias. Resgate da BR Distribuidora. Extração no território do Pré-Sal. Transição energética, com o potencial solar e eólico do Brasil. Tudo o que a estatal precisa fazer antes de perfurar área ambientalmente sensível
Por: Vinicius Konchinski |Imagem: Reprodução/Petrobras
O presidente da Petrobras, ex-senador Jean Paul Prates (PT), anunciou na noite de quinta-feira (25) que a estatal recorreu da decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) que lhe negou a licença para perfurar um campo de petróleo na foz do rio Amazonas. O anúncio confirmou a intenção da empresa em investir na exploração de petróleo numa nova fronteira, a região chamada Margem Equatorial – iniciativa que vem sendo criticada por ambientalistas.
A tal margem fica em território marítimo de estados do extremo Norte do Brasil, como o Amapá. Descrita pelo próprio Prates como um “novo pré-sal”, a região pode conter até 30 bilhões de barris de petróleo, o que seria suficiente para elevar o Brasil de oitavo a quarto maior produtor do mundo, atrás de Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia.
Uma das maiores petroleiras do mundo, a Petrobras está de olho nessas reservas. Atualmente, cerca de 70% dos lucros que a empresa obtém vêm da exploração e produção de petróleo. Perfurar poços em novos e promissores campos daria à empresa fortes chances de manutenção de sua produtividade e rentabilidade mesmo após o início do declínio da produção dos campos do pré-sal, previsto para 2030.
Mahatma dos Santos, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), ponderou que a Margem Equatorial não é a única alternativa brasileira ao pré-sal. Ele, que defende uma ampla discussão sobre a viabilidade ambiental da exploração da foz do Amazonas, afirmou que geólogos já apontam que outras áreas no país podem ser estudadas e eventualmente exploradas. Nenhuma delas estaria numa região tão ambientalmente sensível como às vizinhas à Amazônia.
“Diversos geólogos falam da potencialidade do litoral da região Nordeste do Brasil: da Bacia de Jacuípe, na Bahia, e também da Margem Leste brasileira, que se estende do Norte do Espírito Santo até mais ou menos o Rio Grande do Norte”, disse ele. “Essa [Margem Leste] é uma área com baixo conhecimento geológico, que precisa ser estudada.”
Dos Santos ressaltou que a Petrobras é e seguirá sendo, ao menos no curto prazo, uma empresa muito forte. Ela terá, portanto, capacidade adaptar sua operação mesmo que o Ibama mantenha sua posição e não autorize a exploração da foz do Amazonas.
Transição energética
Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), também vê a Petrobras bem posicionada para superar o declínio natural da produtividade do pré-sal. Ele lembrou que a companhia lucrou R$ 188 bilhões no ano passado e distribuiu todo esse valor a seus acionistas em formas de dividendos. A partir de 2023, pode usar parte desses recursos para investir em atividades que garantam sua rentabilidade no futuro.
Côrtes, aliás, não acredita que essa rentabilidade virá do petróleo. Para ele, as mudanças climáticas e a evolução tecnológica reduzirão a dependência da sociedade do óleo e seus derivados. Levando isso em conta, produzir petróleo daqui a 10 ou 15 anos pode não fazer sentido economicamente.
“Novas possibilidades vão sendo apresentadas e o investimento elevado que poderia ser feito ao longo dos próximos anos talvez não venha se mostrar tão rentável quanto se imaginava por conta da transição energética, do surgimento de novas tecnologias”, disse.
Para Côrtes, a Petrobras deveria converter-se em uma grande empresa de energia, inclusive elétrica. Assim, a companhia dependeria cada vez menos da prospecção e exploração de novos campos de petróleo e, ainda por cima, atenderia uma demanda crescente de consumo local: eletricidade.
O professor vê uma série de alternativas à empresa: painéis solares, energia eólica (a vento), biocombustíveis, hidrogênio verde, entre outras.
“A Petrobras tem que deixar de ser uma empresa exploradora de petróleo para se transformar numa empresa de energia, aumentando a cada ano sua na geração de energias renováveis”, disse ele. “O Brasil é um país que depende muito de geração de energia elétrica. Inclusive, independente do desejo do governo, pode ser que a gente tenha aqui uma frota significativa de veículos elétricos no médio ou longo prazo.”
O atual plano estratégico da estatal prevê investimentos de cerca de R$ 15 bilhões para exploração da Margem Equatorial. Por outro lado, prevê R$ 3 bilhões em investimentos no programa BioRefino, que prevê produzir combustíveis menos poluente.
Durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a Petrobras vendeu participações em projetos de energia eólica e de biocombustíveis.
Visão ambiental
Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), afirmou que o investimento em petróleo e na produção de combustíveis fósseis não faz sentido no contexto de aquecimento global e mudanças climáticas. Por isso, ele também defende que a Petrobras avance mais rápido em sua transição energética.
“Estamos perdendo tempo. Estamos reeditando certos modelos econômicos que não funcionam mais neste atual contexto civilizatório”, disse Bocuhy.
Prates já afirmou que pretende preparar a Petrobras para a transição energética durante sua gestão na estatal. “Se ninguém pode afirmar com precisão até quando a indústria tradicional convencional de petróleo e gás será dominante, é indiscutível que o momento está cada vez mais próximo”, disse, na sua primeira reunião com investidores.
Nessa reunião, Prates ponderou que essa transição não acontecerá do dia para noite. Por isso, a Petrobras continuará focada na exploração de petróleo, até para que possa usar parte dos recursos advindos de lá para financiar novos projetos. “Se você simplesmente para de um lado e começa em outro, você muda totalmente de atividade. É outra empresa. É como se você fechasse a empresa, começasse outra.”
Na mesma ocasião, o ex-senador defendeu a exploração da Margem Equatorial. Disse, inclusive, que a exploração da área é uma necessidade energética do país.
“A Margem Equatorial é uma nova fronteira brasileira com um potencial grande. Não vamos deixar de atuar ali porque no curto e médio prazo nós precisamos, sim, abastecer o país quanto e financiar a própria transição energética”, afirmou.
Veja em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/a-petrobras-nao-precisa-da-foz-do-amazonas/
Comente aqui