Clipping

Acordo UE-Mercosul: Como a Europa recebeu o ultimato de Peña

Presidente do Paraguai afirmou que pretende priorizar negociações com outros países se europeus não agirem para concluir acordo comercial até 6 de dezembro. Bruxelas evitou comentar, mas Berlim vê pressão como necessária

“Duro, mas necessário”

Em contrapartida, um representante da coalizão do governo alemão em Berlim parece quase grato pela pressão do Paraguai. “O ultimato do presidente do Paraguai é duro, mas necessário”, disse à DW Reinhard Houben, porta-voz de política econômica do grupo parlamentar do Partido Democrático Liberal (FDP) no Bundestag alemão. “Mais de 20 anos devem ser suficientes para aprovar um acordo de livre comércio.”

De fato, as primeiras conversas sobre um acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul começaram já em 1999. Durante um longo tempo, pouco aconteceu, até que, em 2019, foi anunciado um “acordo inicial”. Um esboço do texto, porém, foi rejeitado no início de 2020 devido à resistência da Áustria e da França.

Gado belga
Pecuaristas belgas temem concorrência com o gado da América do Sul. Foto: Lucia Schulten/DW

Na Europa, os principais críticos do acordo são os países com grande produção agrícola. Eles temem que a concorrência leve a uma guerra de preços, e ao mesmo tempo, que ainda mais florestas tropicais sejam destruídas na América do Sul.

A tentativa do Paraguai de exercer pressão política com um ultimato não surpreendeu Pekka Pesonen, secretário-geral das associações europeias de agricultores e cooperativas.

“Isso apenas confirma nossa percepção desse acordo e seu impacto sobre a agricultura. Da forma como está agora, o acordo é inaceitável. Isso diz respeito ao acesso ao mercado de algumas commodities agrícolas, mas também à falta de compromissos concretos sobre clima e sustentabilidade por parte dos países do Mercosul.”

Destruição da floresta amazônica
A destruição da floresta amazônica é um dos pontos em debate. Foto: Imago Images

Por que o acordo é polêmico?

Nos últimos meses, a UE impôs exigências adicionais para fortalecer a proteção ambiental e os direitos humanos, algo que acabou gerando críticas na América do Sul.

No Brasil, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou as recentes conquistas do atual governo, que viu o desmatamento na Amazônia cair em quase 50% somente neste ano. Em entrevista à DW em meados de setembro, ela também defendeu a assinatura do acordo de livre comércio.

A organização ambiental Greenpeace, por outro lado, adverte contra medidas precipitadas. “Em vez de avançar com um acordo feito para as grandes corporações, a UE e os países do Mercosul deveriam pensar em como formulá-lo de modo que a natureza e os direitos humanos sejam mais importantes do que a destruição do nosso planeta em nome do lucro privado”, disse Lis Cunha, do Greenpeace, à DW.

Uma questão geopolítica

Javi López, eurodeputado social-democrata e comissário da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana (EuroLat), enfatiza a importância geopolítica do acordo. “O acordo entre a UE e o Mercosul seria um verdadeiro divisor de águas e fortaleceria as relações com a região.”

Javi López durante uma sessão plenária do Parlamento Europeu
Javi López durante uma sessão plenária do Parlamento Europeu. Foto: European Union

Phil Hogan, que atuou como comissário de Comércio da UE até 2020, também é favorável ao acordo. Como argumento, ele aponta para os desejos de”diversificação” da UE, que busca maior independência de países como a China ou a Rússia. “Não devemos perder essa oportunidade. Este é um mercado de 270 milhões de pessoas que está sendo negociado há anos.”

Para Hogan, as condições atualmente discutidas para a proteção do clima e do meio ambiente não devem ser motivo para o fracasso das negociações. Nesse sentido, ele espera que um acordo seja alcançado até o final do ano. “Acho que a Europa precisa disso e a América do Sul também.”

O eurodeputado López também descarta a possibilidade de fracasso. “Entendo a frustração pelo fato de que, após 20 anos de negociações, ainda não haja um resultado final”, disse ele à DW. “Isso também diz respeito, portanto, à confiabilidade da União Europeia como negociadora de acordos internacionais.”

Comente aqui