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Alemanha e Brasil: os interesses em comum e as divergências

Governos dos dois países compartilham interesses como hidrogênio verde e reforma do Conselho de Segurança da ONU, mas têm posições distintas em temas como Ucrânia e conflito no Oriente Médio.

Posições que destoam

Guerra da Rússia contra a Ucrânia

Após um início hesitante, a Alemanha, que nas últimas décadas havia sido um dos maiores parceiros econômicos da Rússia, passou por uma mudança de curso para apoiar a Ucrânia na guerra de autodefesa que o país trava contra Moscou. Desde então, Berlim não só impôs sanções econômicas contra a Rússia e expulsou diplomatas russos, como também começou a fornecer grandes quantidades de armas para Kiev.

Em junho, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, também realizou um giro pela América Latina, incluindo o Brasil, para tentar convencer países da região a adotar uma posição mais ativa contra as ações da Rússia.

No entanto, em Brasília, a posição em relação ao conflito no leste europeu é bem diferente. O Brasil, que é associado à Rússia como parte do Brics, não aderiu ao regime de sanções.

A Alemanha também tentou negociar com o Brasil a compra de munições para um tipo de tanque de fabricação alemã que o Exército brasileiro tem em seus estoques e que Berlim pretendia repassar para os ucranianos. Brasília negou o pedido.

Entre 2022 e 2023, o Brasil chegou a votar a favor de resoluções na ONU que condenaram a agressão russa, mas tanto Bolsonaro quanto Lula evitaram antagonizar unilateralmente com o regime de Vladimir Putin. A posição brasileira foi alvo de críticas em alguns momentos pelo governo ucraniano.

Em janeiro, após um encontro em Brasília com Olaf Scholz, Lula condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas pouco depois destoou da posição alemã ao afirmar que “quando um não quer, dois não brigam”.

Hubertus Heil e Annalena Baerbock dão uma entrevista à imprensa
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, tentou convencer países da América Latina a adotar uma posição mais ativa contra as ações da Rússia. Foto: Kira Hofmann/photothek/IMAGO

Conflito Israel x Hamas

O Brasil e a Alemanha também têm adotado posições diferentes em relação ao atual conflito no Oriente Médio, que opõe Israel e o grupo radical islâmico Hamas.

Imediatamente após a ofensiva terrorista do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, o governo alemão se apressou em demonstrar solidariedade aos israelenses. Olaf Scholz também fez uma visita de apoio ao país poucos dias após a eclosão do novo conflito. “O lugar da Alemanha é ao lado de Israel”, disse Scholz, invocando ainda a responsabilidade alemã resultante do papel do país no Holocausto, afirmando que ela deixou a Alemanha com “uma missão perpétua de defender a segurança do Estado de Israel”.

Scholz chegou até mesmo a opinar na primeira quinzena de novembro que era contra um cessar-fogo imediato em Gaza, argumentando que uma interrupção poderia ajudar o Hamas a se reorganizar. Autoridades alemãs também têm evitado criticar a forma como os israelenses vêm executando suas operações em Gaza.

Em contraste com a Alemanha, a posição do governo Lula tem sido mais fluida. Brasília condenou as ações do Hamas, mas conforme as tropas israelenses passaram a avançar em Gaza, Lula também elevou o tom das críticas ao governo de Israel. Em declarações públicas, Lula afirmou que “Israel também está cometendo vários atos de terrorismo”.

No final de outubro, quando a Assembleia Geral da ONU finalmente aprovou uma resolução sobre Gaza, a Alemanha optou pela abstenção, alegando que o texto não era suficientemente claro em destacar o direito de Israel de se defender. O Brasil, por sua vez, votou a favor.

 

Veja em: https://www.dw.com/pt-br/alemanha-e-brasil-os-interesses-em-comum-e-as-diverg%C3%AAncias/a-67601264

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