Brasil está entre nove países amazônicos cujas reservas de água minguaram consideravelmente na última década. Derretimento de glaciares andinos também preocupa. Consequências vão de saúde a segurança alimentar.
Os nove países com floresta amazônica em seu território perderam 1 milhão de hectares de superfície de água na última década, segundo uma pesquisa científica inédita divulgada nesta quarta-feira (20/09) pela plataforma MapBiomas. Sua conclusão é que Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela estão à beira de uma mudança drástica em sua superfície hídrica.
“A média histórica de superfície de água nessa vasta região no período entre 2000 e 2022 é de 25,4 milhões de hectares. Mas na última década, todos os países amazônicos tiveram redução da superfície hídrica”, informou o relatório Água Países Amazônicos. “Ao comparar a média da última década com a média histórica do período, foram perdidos 1 milhão de hectares nos nove países amazônicos.”
A MapBiomas chamou atenção para o fato de que a perda se deu apesar do acréscimo de 747 mil hectares de superfície hídrica em 2022, em relação à média histórica. O Brasil, que representa 72% do total da superfície dos países amazônicos, foi o maior responsável por esse ganho, apresentando 910 mil hectares em 2022 acima da média histórica de 17,9 milhões de hectares. Em contrapartida, quem mais perdeu superfície aquática na década foi o Peru.
“De forma geral, no entanto, os nove países amazônicos passaram por uma série de transformações nos seus recursos hídricos nas últimas duas décadas, que resultaram numa tendência generalizada de retração da superfície hídrica”, consta da MapBiomas. Para Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, os anos 2013 a 2021 foram o período com menor superfície aquática na série histórica analisada.
“Há três países que apresentaram uma redução da sua superfície hídrica durante todo o intervalo entre 2000 e 2022, que são Equador, Peru e Bolívia. Os outros seis países apresentaram um período de aumento e outro de redução em relação à média histórica, que ocorreu entre 2013 e 2021”, informou Eva Mollinedo, da Fundação Amigos da Natureza (FAN-Bolivia) e integrante da equipe da MapBiomas Água Países Amazônicos.
Consequências da mudança climática
O relatório indicou que a redução da superfície aquática também fica evidente numa tendência sustentada de derretimento dos glaciares entre 1985 e 2022, quando todos os países andinos sofreram perda de águas glaciares. A maior extensão foi no Peru, mas a Venezuela, o país com menor cobertura glacial, sofreu a maior perda relativa.
“Essa diminuição pode ter impacto econômico nas populações dos Andes tropicais, com efeitos na agricultura, no abastecimento de água potável e na integridade dos ecossistemas”, alertou Juliano Schirmbeck da Geokarten, também integrante da Água Países Amazônicos.
Ele acrescenta que os glaciares são “uma espécie de termômetro da Terra, já que sua expansão ou redução está intimamente relacionada ao clima global”. E as perdas devem-se ao “aumento da temperatura causado pela aceleração das mudanças climáticas globais“.
Carlos Souza Júnior, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e que também integra a equipe, lembrou que isso agrava problemas de saúde e dificuldades de acesso a alimentos, prejudicando sobretudo as populações com menos recursos econômicos. Além disso, “a diminuição da superfície aquática contribui para a proliferação de incêndios florestais e emissões de gases com efeito de estufa, o que afeta tanto a biodiversidade como as comunidades locais”.
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