Em sete décadas, modelo monocultor do capitalismo reduziu a multiplicidade de habitats a zonas de guerras contra os invertebrados. Sem eles, entrarão em colapso a biosfera e o que Marx chamou de “metabolismo universal da Natureza”
Por: Ian Angus | Tradução: Maurício Ayer
“A questão é se alguma civilização pode travar uma guerra implacável contra a vida sem se autodestruir e sem perder o direito de ser chamada de civilizada.”[1]
Já se passaram seis décadas desde que Rachel Carson escreveu seu brilhante livro Primavera Silenciosa, frequentemente descrito como o trabalho fundador do movimento ambientalista moderno. O objetivo de Carson era impedir a matança de insetos, e muitas pessoas pensaram que sua causa tinha se encerrado com sucesso no momento em que se interrompeu o uso generalizado do DDT.
A vitória durou pouco.
Quando Primavera Silenciosa foi publicado, minha família havia se mudado há pouco para uma área rural no leste do estado de Ontário (Canadá). Como era um adolescente, não fiquei feliz por perder a vida social urbana, mas acabei me encantando com experiências que nunca teria na cidade. Em particular, no verão, um campo perto de nossa casa ficava cheio de borboletas monarcas durante o dia e de vaga-lumes à noite. Passava muitas horas apenas observando o espetáculo dos insetos.
Lis e eu ainda moramos na mesma casa, e aquele campo ainda está lá, crescendo selvagem, mas não vemos uma borboleta monarca ou um vaga-lume há décadas. O extermínio contínuo de animais de seis patas é hoje maior e mais prejudicial do que qualquer cenário que Rachel Carson possa ter imaginado.
Em 3 de fevereiro, um relatório abrangente mostrou que 80% das espécies de borboletas no Reino Unido diminuíram em abundância ou distribuição desde a década de 1970, e metade delas agora está listada como ameaçada ou quase ameaçada.[2] Como as borboletas são, de longe, os insetos selvagens monitorados de forma mais consistente, seu declínio é como o proverbial canário cujo colapso alertou os mineiros de carvão de que o gás mortal estava se acumulando. Se há menos borboletas, é provável que haja menos insetos de todos os tipos.
No mesmo dia, cientistas da Academia de Ciências Agrícolas da China relataram que, desde 2005, houve um declínio constante nas 98 espécies de insetos voadores que migram todos os anos sobre a baía de Bohai, entre a China e a Coreia. O número de insetos herbívoros diminuiu 8%, e os insetos predadores que os comem caíram quase 20%. Os autores dizem que os dados mostram “um declínio crítico na diversidade funcional (de insetos) e uma perda constante na resiliência ecológica em todo o Leste da Ásia”.[3]
Esses estudos, conduzidos em lados opostos do globo, aumentam a evidência crescente de um rápido declínio mundial da vida dos insetos. Embora a maioria dos grupos de conservação ilustre suas campanhas de arrecadação de fundos com fotos de pandas, tigres e pássaros raros, o declínio generalizado de insetos representa a maior ameaça a toda a vida no Antropoceno. Scott Black, Diretor Executivo da Xerces Society, uma organização sem fins lucrativos que enfatiza a proteção de insetos e outros invertebrados, resume o perigo nesses termos:
“Independente do quão rudemente tratemos o planeta, nós vamos desaparecer antes dos insetos. Mas o que será visível para nós é menos aves ou mesmo nenhuma ave no céu. Se você quer pássaros, precisa de insetos. Se você quer frutas e legumes, precisa de insetos. Se você quer solos saudáveis, precisa de insetos. Se você quer comunidades de plantas diversificadas, você precisa de insetos.”[4]
Os insetos são fundamentais para o que Karl Marx chamou de metabolismo universal da natureza, a constante reciclagem de energia e matéria que torna a vida possível. Artrópodes – principalmente insetos, mas incluindo aranhas, ácaros, centopéias e milípedes – polinizam 80% de todas as plantas, reciclam os nutrientes essenciais da vida, criam solos saudáveis e férteis, purificam a água e são o principal alimento de muitos pássaros e animais. Se eles desaparecessem completamente, a biosfera entraria em colapso e os humanos não durariam muito.
“A maioria dos peixes, anfíbios, pássaros e mamíferos entrariam em extinção quase simultaneamente. Em seguida iria a maior parte das plantas com flores e com elas a estrutura física da maioria das florestas e outros habitats terrestres do mundo. A terra apodreceria. À medida que a vegetação morta se acumulasse e secasse, estreitando e fechando os canais dos ciclos de nutrientes, outras formas complexas de vegetação morreriam e, com elas, os últimos remanescentes dos vertebrados. Os fungos remanescentes, depois de desfrutarem de uma explosão populacional de proporções estupendas, também pereceriam. Dentro de algumas décadas, o mundo voltaria ao estado de 1 bilhão de anos atrás, composto principalmente de bactérias, algas e algumas outras plantas multicelulares muito simples”.[5]
Para ser claro, o desaparecimento de todos insetos não é provável em um futuro previsível: de fato, alguns insetos provavelmente sobreviverão à humanidade. O que as evidências mostram é uma combinação de extinções definitivas e declínios populacionais radicais que alguns cientistas chamam de defaunação. “Se não for controlada, a defaunação se tornará não apenas uma característica da sexta extinção em massa do planeta, mas também um impulsionador de transformações globais fundamentais no funcionamento do ecossistema.”[6]
A maioria dos relatos sobre a vida na Terra se concentra em mamíferos, pássaros, peixes e répteis, mas, na verdade, a grande maioria dos animais é de insetos. Ninguém sabe exatamente quantos são, mas uma boa estimativa é de dez quintilhões — 10 seguidos de dezoito zeros, bem mais de um bilhão de insetos para cada ser humano. Juntos, eles pesam substancialmente mais do que todos os outros tipos de animais (incluindo humanos) combinados. Eles são imensamente variados: só nos EUA, existem cerca de 23.700 espécies de besouros, 19.600 espécies de moscas, 17.500 espécies de formigas, abelhas e vespas e 11.500 espécies de mariposas e borboletas. Em todo o mundo, 1 milhão de espécies de insetos foram catalogadas e acredita-se que outras 4 milhões ainda não tenham sido identificadas ou nomeadas. Nas taxas atuais, muitos desaparecerão antes mesmo que os humanos saibam que eles existem.
Com populações tão grandes, é difícil imaginar que todas ou mesmo uma proporção significativa delas possam estar em risco. Além das borboletas, que são bonitas, e das abelhas, que são lucrativas, até recentemente as ameaças à vida dos insetos raramente eram mencionadas nos relatos de perda de biodiversidade.[7] O premiado livro premiado de Elizabeth Kolbert A Sexta Extinção (2014), por exemplo, refere-se apenas brevemente ao declínio de insetos, como uma consequência, difícil de mensurar, do desmatamento na Amazônia. O livro Esquivando-se da Extinção, de Anthony Barnosky (também de 2014), menciona os insetos de passagem apenas duas vezes. Da mesma forma, o best-seller de David Wallace-Wells A Terra Inabitável (2019) contém apenas três parágrafos sobre insetos.
Esses autores não estavam ignorando arbitrariamente nossos parentes de seis patas: suas omissões refletiam uma longa lacuna na literatura científica. Embora os entomologistas tenham publicado muitos relatórios sobre a biologia e o comportamento de algumas espécies, poucos estudaram ou mediram as tendências das populações de insetos ao longo do tempo. Mesmo entre as abelhas, um dos grupos de insetos mais estudados, a Academia Nacional de Ciências dos EUA lamentou em 2007 que “faltam dados populacionais de longo prazo e o conhecimento de sua ecologia básica é incompleto”.[9]
Uma grande virada ocorreu em outubro de 2017, quando 12 cientistas europeus publicaram um relatório inovador sobre o declínio de insetos voadores em áreas de proteção ambiental na Alemanha. Por quase três décadas, membros da Sociedade Entomológica Krefeld, administrada por voluntários, capturaram e contaram insetos em 63 reservas naturais, usando armadilhas semelhantes a tendas. Uma análise de seus registros, publicada na revista PLOS One, revelou uma tendência chocante que afeta abelhas, vespas, borboletas, moscas, besouros e muito mais.
“Nossos resultados documentam um declínio dramático na biomassa média de insetos aéreos de 76% (até 82% no meio do verão) em apenas 27 anos para áreas naturais protegidas na Alemanha. […] O declínio generalizado da biomassa de insetos é alarmante, ainda mais porque todas as armadilhas foram colocadas em áreas protegidas destinadas a preservar as funções do ecossistema e a biodiversidade. Embora o declínio gradual de espécies raras de insetos seja conhecido há algum tempo (por exemplo, borboletas especializadas), nossos resultados ilustram um declínio contínuo e rápido na quantidade total de insetos aéreos ativos no espaço e no tempo”.[10]
Em 2018, outro grupo de cientistas mostrou que entre 2008 e 2017 houve declínios substanciais na diversidade, biomassa e abundância de insetos nas pastagens e áreas florestais alemãs, e um estudo publicado nos Anais da Academia Nacional de Ciências apontou que as populações de insetos nas florestas tropicais porto-riquenhas caíram até 98% desde a década de 1970.[11] Embora houvesse debates sobre números precisos e metodologia, agora havia, como escreveu o ecologista britânico William Kunin na prestigiada revista Nature, “provas robustas de declínio de insetos”.[12]
Essas descobertas levaram ecologistas e entomologistas de todo o mundo a examinar estudos e registros anteriores, em busca de dados que pudessem ser usados para medir as mudanças nas populações de insetos. Em 2019, a revista Biological Conservation apresentou uma revisão detalhada de 73 estudos publicados sobre declínios de insetos.
“A partir de nossa compilação de relatórios científicos publicados, estimamos que a proporção atual de espécies de insetos em declínio (41%) seja duas vezes maior que a de vertebrados, e o ritmo de extinção de espécies locais (10%) oito vezes maior, confirmando anteriores descobertas. Atualmente, cerca de um terço de todas as espécies de insetos está ameaçada de extinção nos países estudados. Além disso, a cada ano cerca de 1% de todas as espécies de insetos é adicionada à lista. Esses declínios de biodiversidade resultam em uma perda anual de 2,5% de biomassa em todo o mundo.”[13]
Desde então, como ilustram os estudos citados no início deste artigo, as pesquisas sobre populações de insetos explodiram. Em fevereiro de 2023, o Google encontrou mais de 30.600 entradas para “insetos ameaçados de extinção” e o Google Scholar encontrou mais de 1.000 trabalhos acadêmicos. Para relatos acessíveis das pesquisas mais recentes, recomendo fortemente dois livros recentes, Silent Earth [Terra Silenciosa] de Dave Goulman e The Insect Crisis [A crise dos insetos] de Oliver Milman. Ambos foram escritos por autores sérios, que evitam o sensacionalismo; no entanto, um se refere a um “apocalipse de insetos” e o outro descreve o declínio das populações de insetos como “uma situação terrível [que] mal pode ser compreendida”.[14]
Em The Cosmic Oasis [O oásis cósmico], uma história da biosfera publicada em 2022, os principais cientistas do Antropoceno, Mark Williams e Jan Zalasiewicz, alertam que é impossível exagerar a ameaça representada pelo declínio da vida dos insetos que pesquisas recentes confirmaram.
“Cerca de dois quintos das espécies de insetos do mundo podem estar ameaçadas de extinção dentro de algumas décadas; elas estão sendo amplamente exterminadas em paisagens urbanas e agrícolas e são dizimadas pela poluição em ambientes aquáticos. […] Como os insetos estão profundamente enraizados no funcionamento dos ecossistemas da Terra, uma grande perda em seu número e diversidade teria efeitos incalculáveis; na verdade, provavelmente causaria um colapso total dos ecossistemas, incluindo aqueles que nos sustentam”.[15]
Apocalipse dos Insetos no Antropoceno, Parte 2
Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, o capitalismo global multiplicou seu passo, com efeitos devastadores para a biosfera. Alimentado por combustíveis fósseis e petroquímicos, a Grande Aceleração encerrou 12 mil anos de relativa estabilidade ambiental e climática durante o período do Holoceno e iniciou a era do Antropoceno. Como apresentou em sua conclusão, em 2004, um relatório de síntese do Programa Internacional Geosfera-Biosfera (IGBP, na sigla em inglês):
“A segunda metade do século XX é única em toda a história da existência humana na Terra. Muitas atividades humanas atingiram pontos de decolagem em algum momento do século XX e aceleraram radicalmente no final do século. Os últimos 50 anos testemunharam, sem dúvida, a mais rápida transformação da relação humana com o mundo natural na história da humanidade”.[16]
O relatório do IGBP incluía gráficos que ilustravam aumentos sem precedentes na atividade humana e na destruição ambiental global, começando por volta de 1950.[17] Um deles, intitulado “Biodiversidade global”, rastreava a taxa de extinção de animais, que os autores estimam ser 100 a 1.000 vezes maior do que as taxas de extinção natural anteriores.[18] Uma medida da debilidade dos estudos sobre insetos é que a discussão sobre o declínio da biodiversidade mencione mamíferos, peixes, aves, anfíbios e répteis, mas não insetos ou quaisquer outros invertebrados.[19]
Como vimos, pesquisas recentes mudaram decisivamente esse quadro. Não apenas as populações de insetos estão em declínio, mas também estão diminuindo muito mais rapidamente do que outros animais. Os insetos compreendem metade de um milhão de espécies animais que os cientistas acreditam estar em extinção neste século.[20] Os insetos do mundo estão entre as principais vítimas da Grande Aceleração. Se continuar assim, o rápido declínio dos insetos estará entre as características mais mortais do Antropoceno.
Concentração e simplificação
O fator mais importante para o declínio dos insetos é a destruição do habitat – em particular, o papel da agricultura industrial na expulsão de inúmeras espécies de suas casas. Outros habitats de insetos foram desestabilizados e destruídos, mas as terras agrícolas são críticas por sua inigualável escala – a agricultura ocupa 36% da terra total do mundo e 50% da terra habitável. Dentro dessa enorme área, imensas parcelas estão engajadas no que pode ser razoavelmente descrito como uma guerra aos insetos.
Toda agricultura desestabiliza os ecossistemas locais e perturba a vida dos insetos, mas, como explica o ecologista Tony Weis, até recentemente uma agricultura bem-sucedida exigia trabalhar o máximo possível com ambientes naturais, não contra eles:
“Ao longo da história, a viabilidade de longo prazo das paisagens agrícolas dependeu da manutenção da diversidade funcional nos solos, variedades de cultivo (e germoplasma de sementes dentro das variedades), árvores, animais e insetos para manter o equilíbrio ecológico e os ciclos de nutrientes. Para esse fim, os agroecossistemas foram manejados com uma variedade de técnicas, como multiculturas, padrões de rotação, adubos verdes (transformando tecidos vegetais não decompostos em solos, geralmente a partir de leguminosas ricas em nitrogênio), pousio, cuidadosa seleção agroflorestal de sementes e a integração de pequenas populações de animais”.[21]
As décadas após a Segunda Guerra Mundial testemunharam o equivalente agrícola do que foi a revolução industrial do século XIX – uma mudança da pequena produção de commodities para a massiva produção em larga escala, dependente de combustíveis fósseis. Embora a maioria das fazendas ainda pertencesse a famílias, as decisões sobre o que cultivar e como cultivar eram cada vez mais tomadas em salas de reuniões de grandes corporações. Os ecologistas agrícolas Ivette Perfecto, John Vandermeer e Angus Wright descrevem a revolução metabólica na produção de alimentos:
“A capitalização da agricultura pós-Segunda Guerra Mundial foi realizada principalmente por meio da substituição de insumos gerados na própria fazenda por insumos fabricados fora da fazenda e que precisavam ser adquiridos. Desde a mecanização precoce da agricultura que substituiu a força animal por tração motorizada, até a entrada de fertilizantes sintéticos no lugar do composto e esterco, e a substituição do controle cultural e biológico por pesticidas, a história do desenvolvimento tecnológico agrícola tem sido um processo de capitalização que resultou na redução do valor que é agregado dentro da própria fazenda. Nas fazendas de hoje, o trabalho vem da Caterpillar ou John Deere, a energia da Exxon/Mobil, o fertilizante da DuPont e o controle de pragas da Dow ou Monsanto. As sementes, literalmente o germe que torna possível a agricultura, foram patenteadas e precisam ser compradas.”[22]
O boom do pós-guerra na produção agrícola baseou-se em uma ampla variedade de novas tecnologias, incluindo equipamentos mecanizados, ração animal produzida em massa, fertilizantes sintéticos e sementes proprietárias. Os novos insumos funcionaram muito bem, mas como aponta a historiadora agrícola Michelle Mart, “a revolução tecnológica na agricultura foi mais acessível para alguns do que para outros”.
“Muitos pequenos agricultores familiares não tinham condições de arcar com os altos investimentos necessários para as novas tecnologias, nem tinham as vastas extensões de terra que as viabilizariam economicamente. Em 1955, os custos operacionais totais para uma fazenda média haviam triplicado em relação a apenas 15 anos antes, precipitando um declínio no número de fazendas e no número de pessoas que trabalhavam na terra. De 1939 a 1950, o número de fazendas nos Estados Unidos caiu 40%, e o número caiu quase outros 50% de 1960 a 1970, enquanto o tamanho médio de uma fazenda aumentou 0,8 hectares a cada ano.”[23]
De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, em 2012, “36% de todas as terras cultivadas estavam em fazendas com pelo menos 800 hectares de terras agrícolas, acima dos 15% em 1987”.[24] Embora apenas cerca de 12% das fazendas dos EUA possam ser descritas como unidades com operações comerciais muito grandes, elas obtêm 88% da receita agrícola líquida anual.[25]
Na América do Norte e na Europa, grandes fazendas normalmente são criadas pela fusão de fazendas menores. No Sul global, o desmatamento desempenha o papel principal: cerca de 5 milhões de hectares de floresta por ano são desmatados e substituídos por fazendas e ranchos gigantes administrados por corporações.[26] Entre 1980 e 2000, mais da metade das novas terras agrícolas nos trópicos foi criada pelo desmatamento de florestas. Entre 2000 e 2010, o número foi de 80%.[27]
A gestão rentável de grandes fazendas com máquinas caras requer especialização. Cada cultura tem seus próprios requisitos específicos, portanto, em vez de comprar várias máquinas, os agricultores se concentraram em uma única variedade de cultivo: apenas milho, ou apenas trigo, ou apenas soja e assim por diante. A matriz de campos cultivados com diferentes culturas que caracterizava a agricultura tradicional foi substituída por imensas áreas de plantas geneticamente idênticas. A maioria das cercas, cercas vivas, bosques e pântanos – lar para pequenos mamíferos, pássaros e insetos – foi removida para maximizar a produção e permitir que as máquinas cobrissem facilmente toda a área.
Ainda existem milhões de pequenas fazendas que cultivam várias culturas, mas a produção e as vendas em todos os lugares são dominadas por um pequeno número de fazendas muito grandes, cada uma cultivando apenas uma ou duas espécies de plantas ou animais. Em todo o mundo, cerca de 75% das variedades de culturas vegetais desapareceram efetivamente dos mercados agrícolas, deixando apenas nove espécies de plantas que agora compreendem quase dois terços de todas as culturas. Como Michael Pollen comenta, isso tem implicações importantes para as dietas humanas: “o grande edifício de variedade e escolha que é um supermercado estadunidense acaba por se basear em uma base biológica notavelmente estreita, composta por um pequeno grupo de plantas, dominado por uma única espécie: Zea mays, a grama tropical gigante que a maioria dos americanos conhece como milho.”[28]
O historiador ecológico Donald Worster descreve a transformação da agricultura no século XX como uma “simplificação radical da ordem ecológica natural”.
“O que antes era uma comunidade biológica de plantas e animais tão complexa que os cientistas mal conseguem compreender, que foi transformada por agricultores tradicionais em um sistema ainda altamente diversificado para o cultivo de alimentos locais e outros materiais, tornou-se agora cada vez mais um aparato rigidamente planejado que compete em mercados generalizados para o sucesso econômico. Na linguagem de hoje, chamamos esse novo tipo de agroecossistema de monocultura, que significa que uma parte da natureza foi reconstituída para produzir uma única espécie, que cresce na terra apenas porque em algum lugar há uma forte demanda de mercado por ela.”[29]
Essa “desconexão dos processos naturais uns dos outros e sua extrema simplificação” é, como escreve John Bellamy Foster, “uma tendência inerente ao desenvolvimento capitalista”.[30] Para um sistema econômico que caminha constantemente para a simplificação e mercantilização de todas as coisas, os milhões de espécies de insetos são uma complicação desnecessária e indesejada.
Por si só, a mudança para a monocultura reduziu substancialmente a diversidade de insetos. Alguns insetos evoluíram para viver em qualquer lugar, mas muitos não podem sobreviver sem acesso a plantas específicas. As borboletas-monarca, por exemplo, só podem comer folhas de serralha e seus ovos não eclodirão se colocados em qualquer outra planta. A simplificação de milhões de hectares reduziu radicalmente o número de monarcas, junto com muitos outros insetos de habitat especializado. Para eles, milhares de hectares dedicados ao milho, soja ou trigo podem muito bem ser descritos como desertos, pela nutrição e o suporte à vida que fornecem.
A agricultura industrial, no entanto, não apenas retira passivamente a sustentação aos insetos: ela os ataca agressivamente.
Veja em: https://outraspalavras.net/terraeantropoceno/apocalipse-dos-insetos-no-antropoceno/
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