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Como ONG do Ceará ajuda a salvar espécie de ave da extinção

Projeto usando ninhos artificiais aumenta população dos periquitos cara-suja em 900% no período de 10 anos. Iniciativa une recuperação da mata a conscientização da população local.

Por: Evandro Almeida Júnior | Crédito Foto: Aquasis/Bruno Lindsey . Periquitos cara-suja na Serra do Baturité, no Ceará

Uma iniciativa de conservação ambiental no Ceará ajuda a recuperar a população do periquito cara-suja (Pyrrhura griseipectus) na Serra do Baturité, no interior do Ceará, a cerca de uma hora de Fortaleza.

O projeto Cara Suja, mantido pela ONG cearense Aquasis, com recursos internacionais da Loro Parque Fundación, da Espanha, e da alemã ZGAP, está salvando a espécie que está em sério risco de extinção, levando a população da ave a um crescimento de 900% nos últimos 10 anos.

Em 2010, apenas 100 representantes da espécie foram encontrados na região. Hoje, estima-se que haja pelo menos 1 mil indivíduos na natureza.

O trabalho, no bioma Mata Atlântica, conta com apoio da população local e com uma forte campanha de conscientização.

Filhote de periquito cara-suja na mão de uma pessoa
Filhote de periquito cara-suja. Foto: Aquasis/Bruno Lindsey

Caixas-ninhos

Um dos principais desafios encontrados pelos pesquisadores foi conseguir locais para que as aves pudessem para botar os ovos. Isso porque esse periquito usa espaços ocos nas árvores para fazer seus ninhos. Esses lugares são cada vez mais raros, devido ao desmatamento das matas do Nordeste.

A solução criada pela equipe do projeto foi desenvolver a chamada caixa-ninho, que imita as cavidades naturais dos troncos vegetais.

A reprodução do cara-suja ocorre apenas uma vez por ano, entre fevereiro e junho. A fêmea coloca em média seis ovos.

Apoio comunitário

O apoio da comunidade foi fundamental para esse trabalho. “As caixas-ninhos ficam em locais privados, e temos um processo de parceria com moradores locais. Pedimos autorização para a instalação e assim criamos um pacto com eles, inclusive de não capturar o cara-suja”, conta o biólogo Fábio Nunes, coordenador técnico do projeto Cara Suja.

Biólogo Fábio Nunes com periquito cara-suja na mão na Serra do Baturité no Ceará
Biólogo Fábio Nunes com um periquito cara-suja. Foto: Aquasis/Thiago Toledo

“Conscientizar as populações locais contra a captura e o tráfico de animais é um passo importante para atuar contra essas atividades. Assim como entender quais os motivos pelos quais as pessoas se envolvem nisso”, analisa Helga Corrêa, especialista em Conservaçao do WWF-Brasil.

Hoje, existem 180 caixas-ninhos espalhadas em sítios e em áreas da mata onde os periquitos são mais disseminados.

Os próprios donos dos sítios e chácaras ajudam no monitoramento. Eles veem se há ovos e mandam fotos para a equipe. Reportam também se outras espécies estão utilizando essas caixas, como corujas, por exemplo.

“Se outros animais usam esse artíficio é porque essas cavidades estão escassas na natureza, e isso preocupa. Esperamos que a Serra chegue a um ponto natural em que essas caixas não sejam mais necessárias, pois usamos esse recurso em uma situação emergencial”, pontua Nunes.

Entre 2010 e 2022, voaram aproximadamente 2,4 mil filhotes do periquito. “No último censo, no final de 2022, constatamos 828 ovos apenas nas caixas-ninho na Serra do Baturité, é algo para comemorar”, diz Fábio Nunes.

Periquitos cara-suja dentro de caixa de madeira com pequenas aberturas fixada em árvore
A caixa-ninho imita as cavidades naturais dos troncos vegetais, onde os periquitos colocam seus ovos. Foto: Aquasis/Bruno Lindsey

Desafios da conservação

Se no começo do trabalho do projeto Cara Suja os principais problemas eram o desmatamento das matas, juntamente com a caça e o tráfico da aves, hoje a especulação imobiliária é o maior desafio. “Baturité é muito buscada por conta do clima ameno, mais frio e não é longe da capital Fortaleza. As pessoas querem uma casa ali para fugirem do calor. Por conta disso, a especulação imobiliária cresceu muito”, diz o biólogo Fábio.

A Serra de Baturité é considerada Área de Proteção Ambiental (APA) desde setembro de 1990. Mesmo assim, a construção de imóveis continua na área. “As pessoas desmatam, destroem os lares e ninhos, pagam uma multa e seguem habitando ali”, conta Nunes. “É algo muito difícil de combater. Somos uma ONG e competimos com empreendimentos milionários”, revela o assistente Bruno Almeida.

O projeto da ONG cearense Aquasis é uma das duas únicas iniciativas no Brasil que conseguiram recuperar a população de uma espécie de ave. A outra é o projeto da arara-azul de lear, na Bahia.

 

Veja em: https://www.dw.com/pt-br/como-ong-do-cear%C3%A1-ajuda-a-salvar-esp%C3%A9cie-de-ave-da-extin%C3%A7%C3%A3o/a-64945633

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