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O papel do lítio na viagem de Scholz à América do Sul

Na corrida pela “matéria-prima do futuro”, vital para a transição energética, país europeu quer recuperar terreno perdido para China e EUA. Argentina, Chile e Bolívia possuem cerca de 57% dos depósitos mundiais do metal.

Por: Tobias Käufer Rio | Créditos da foto: Gaston Brito Miserocchi/Getty Images. Ouro Branco: material para a produção de carbonato de lítio

Cerca de 57% dos depósitos de lítio do mundo estão localizados no triângulo formado por Argentina, Bolívia e Chile. Trata-se de uma matéria-prima bastante requisitada, por sua utilização na produção de baterias para carros elétricos. Nesta concorrência acirrada, estão os chineses, que têm investido bilhões em todo o mundo para garantir uma posição estratégica de liderança. Ainda na frente dos europeus, também estão os EUA.

Por outro lado, a Alemanha, que é nação automobilística por excelência, está ficando para trás. Será necessário, portanto, correr atrás do prejuízo quando o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, viajar para Argentina, Chile e Brasil a partir deste fim de semana.

“Em comparação com a China, mas também com outros países, a Alemanha ainda não está muito presente no triângulo do lítio da América do Sul. Em todo caso, há iniciativas para mudar isso”, disse à DW Carl Moses, especialista econômico e consultor de Buenos Aires.

Vista aérea de piscinas de salmoura e áreas de processamento na mina de lítio da empresa chilena SQM (Sociedad Quimica Minera) no deserto de Atacama, no Chile
Vista aérea de piscinas de salmoura e áreas de processamento em mina de lítio. Foto: MARTIN BERNETTI/AFP

“Falta de coordenação”

No Chile e na Argentina, as empresas alemãs conseguiram estabelecer uma boa base inicial, mas a grande alavancada ainda não aconteceu. “Nesse tema de importância estratégica, sinto que falta uma mão reguladora ou pelo menos coordenadora, que só pode vir do Estado. Precisamos de consórcios alemães nos quais atores importantes trabalhem juntos em todas as etapas da cadeia de valor”, diz Moses, defendendo uma coordenação de esforços entre a indústria e o meio político da Alemanha.

A hegemonia chinesa é evidente sobretudo na Bolívia. A ideia era que uma joint venture germano-boliviana desembocasse em uma cooperação efetiva. Mas uma sucessão de erros, agitação política na Bolívia, desconfiança da população local e uma preferência pela China por parte do governo do presidente socialista Luis Arce, que tende a assumir uma postura mais crítica em relação à Europa, garantiram que o projeto morresse silenciosamente e que a Alemanha ficasse em segundo plano no país.

Há poucos dias, por outro lado, o consórcio chinês CBC conseguiu fechar um contrato na nação andina. Um investimento de um bilhão de dólares, pelo menos segundo um recente anúncio do ministro de Hidrocarbonetos e Energia da Bolívia, Franklin Molina, deve agora levar à construção de duas usinas de carbonato de lítio. Segundo a imprensa local, trata-se da primeira participação internacional no projeto, nesse país que abriga as maiores jazidas de lítio do mundo.

Um caminhão transporta cloreto de magnésio da mina de lítio da empresa chilena SQM (Sociedad Quimica Minera) no deserto de Atacama, no Chile
Alemães têm base inicial sólida de relações no Chile. Foto: MARTIN BERNETTI/AFP

Chances na Argentina

Duas empresas alemãs estão com o pé na Argentina e no Chile. A empresa relativamente jovem Deutsche E-Metalle (DEM) é uma delas e planeja “tornar-se um dos principais especialistas mundiais nas áreas de e-materiais e e-mobilidade, que fazem parte do atual superciclo da mobilidade elétrica”, conforme o site da própria empresa. Isso deve possibilitado, entre outras coisas, pelo acesso indireto a um grande portfólio de licenças de exploração (mais de 70 mil hectares) no triângulo do lítio na Argentina.

Também daqui a China não arreda o pé: recentemente, a empresa chinesa Ganfeng adquiriu a empresa argentina Lithea, proprietária das licenças de dois lagos de sal de lítio, por 962 milhões de dólares. A Tibet Summit Resources, também da China, quer investir dois bilhões de euros em projetos de exploração de lítio na Argentina.

Placa contra a exploração de lítio nas chamadas Salinas Grandes, compartilhadas pelas províncias de Salta e Jujuy, no norte da Argentina.
Placa contra a exploração de lítio nas chamadas Salinas Grandes, no norte da Argentina. Foto: Alzar Raldes/AFP

Oportunidades no Chile

A situação no Chile é um pouco mais difícil para os alemães do que na Argentina. No país não está claro qual marco regulatório uma nova Constituição concederá às empresas estrangeiras, o que ainda deve ser negociado politicamente. A Liverde, empresa do estado alemão da Turíngia, assinou um acordo de cooperação com parceiros chilenos no Salar de Maricunga em outubro de 2022 e só está aguardando para começar os trabalhos.

A China também é muito ativa no Chile: recentemente, Pequim garantiu uma participação de 24% na empresa chilena SQM, atualmente uma das maiores produtoras de lítio do mundo. Existem também outras licenças para outras empresas chinesas.

Chances de avanço no médio prazo podem ser sentidas especialmente no Chile, onde um pensamento de caráter sustentável do governo chileno está totalmente alinhado com os preceitos alemães. Segundo fontes próximas ao presidente Gabriel Boric, seu governo, ávido por um maior controle estatal sobre a produção de lítio e sua cadeia de valor, está aberto à cooperação alemã.

 

Veja em: https://www.dw.com/pt-br/o-papel-do-l%C3%ADtio-na-viagem-de-scholz-%C3%A0-am%C3%A9rica-do-sul/a-64534733

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