A desigualdade do espaço segue linhas de raça e classe em nosso país. Em coletânea da Fundação Rosa Luxemburgo, pesquisadores, artistas e militantes lançam ideias para a mobilidade urbana que um novo Brasil exige. Sortearemos 3 exemplares
Por: Guilherme Arruda
Não é novidade que existe um perfil social de quem pega duas horas de condução para ir ao trabalho. Para ir à escola, ao posto de saúde, a algum espaço de lazer com a família. Esse último, só quando dá. A passagem tá cara, né? Tem que economizar. Para ser claro, a pessoa nessa situação no Brasil é, em sua grande maioria, negra e pobre. O direito à cidade, hoje, é para pouquíssimos – e, para reconstruir o Brasil sobre novas bases, não é possível deixar essa situação como está.
Para a coletânea Mobilidade antirracista, nossos camaradas da Fundação Rosa Luxemburgo convidaram dezenas de vozes a pensarem temas como: as cidades do novo Brasil, suas diretrizes políticas, que bases já temos em nossa história para construí-las e que lutas precisaremos tocar para fazê-las se tornarem reais.
Daniel Santini, Paique Santarém e Rafaela Albergaria, que organizaram o livro, trouxeram-no à vida com um formato interessantíssimo. As quase 400 páginas da coletânea não se preencheram só com artigos, mas com poemas, entrevistas, letras de canções – formas múltiplas de compartilhar conhecimento.
Rappers e poetas como BNegão, GOG, MC Martina e Nívea Sabino são alguns dos que colaboraram com sua arte. Em uma conversa transcrita no livro, o produtor Higo Melo descreve o quanto se sentia contemplado pelas letras de GOG que falavam do “baú lotado” que é o transporte público da Brasília em canções que ouvia exatamente quando estava pegando o baú lotado para chegar no trabalho. É a cultura se desdobrando como expressão do real, sendo veículo de perspectivas que não seriam consideradas em outros meios.
Movimentos como o Passe Livre São Paulo e a Agenda Nacional do Desencarceramento também trazem seu aporte para a coletânea, relatando a repressão às lutas por transporte em São Paulo e as tentativas governamentais de tornar ainda mais inacessível o contato das famílias com as pessoas encarceradas. O olhar das lutas de base é que permite perceber a multiplicidade de vetores da luta por mobilidade e, principalmente, seu entrelaçamento com as questões de raça e classe que atravessam as contradições de nosso país.
Todos esses elementos, reunidos, ampliam a cientificidade da coletânea, por afastá-la do cientificismo estéril do gabinete e aproximá-la da ciência viva e ardente da organização da luta.
Dividida em sete seções, a coletânea da Fundação Rosa Luxemburgo oferece uma visão bastante ampla desta problemática, marcada pela interdição dos direitos e da vida dos oprimidos no Brasil, como coloca a pesquisadora Rafaela Albergaria. O livro compõe também a coleção Cidade Livre, estruturada em torno das lutas pelo espaço urbano. Já tratamos nesta editoria de outros livros da coleção, como Tarifa Zero.
Se abriu nos últimos meses uma janela política para a reconstrução do Brasil. Podemos e devemos nos engajar para que a transformação das estruturas do país tenha um caráter radical, arrancando pela raiz tudo o que assola há 500 anos o nosso povo.
O novo governo não deu sinal positivo ao oferecer o Ministério dos Transportes a uma fração da burguesia, mas militantes e ativistas não devem arredar pé da pressão pela garantia do direito à cidade e à mobilidade digna para milhões de brasileiros. Obras como Mobilidade antirracista oferecem subsídios teóricos para essa luta.
Veja em: https://outraspalavras.net/blog/para-construir-cidades-antirracistas/
Comente aqui