Alvo da PF por garimpo ilegal na Amazônia, Gana Gold está na lista dos participantes dos debates sobre o plano de manejo da APA do Tapajós, unidade de conservação mais desmatada em 2022 no Brasil.
Por: Por: Camilla Costa e equipe de Jornalismo Visual da BBC
| Créditos da foto: Christian Braga/Climainfo/Divulgação. Em 2022, a APA do Tapajós perdeu 11,2 mil hectares de floresta
O território brasileiro abriga hoje apenas 20% das estimadas 1.175 línguas que tinha em 1500, quando chegaram os europeus. E, ao contrário de outros países da região, como Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e até Argentina, o Brasil não reconhece como oficiais nenhuma de suas línguas indígenas em âmbito nacional.
O Censo 2010 contabilizou 274 línguas indígenas atualmente no Brasil (os números do Censo 2022 ainda não foram divulgados). Mas linguistas ligados às principais instituições do país, como o Museu Emílio Goeldi, no Pará, e o Museu do Índio, no Rio de Janeiro, falam em 160 a 180. Se considerarmos dialetos — variações de uma mesma língua que podem ser compreendidas mutuamente — chega-se a 218.
Por que ainda não sabemos exatamente o número de línguas faladas pelos povos nativos brasileiros?
A resposta é mais simples – e também mais complicada – do que parece. O problema está em como a pergunta é feita, ou melhor, em que critérios são considerados na hora de definir o que é uma língua e nomeá-la.
Muitos grupos indígenas não têm um nome específico para a sua língua. Nem para si mesmos. Eles dizem ‘nós somos nós’. Isso é um problema para um levantamento como o Censo.
O Censo 2010 afirmava, por exemplo, que existiam 251 autodeclarados falantes da língua tupinambara, que é considerada pelos pesquisadores extinta há dois séculos. Ou que a língua aruá, falada em Rondônia, tinha 189 falantes, enquanto levantamentos feitos no local por pesquisadores mostravam que somente cinco pessoas falavam a língua.
Normalmente, as contagens mais altas de línguas consideram alguns dialetos como línguas separadas, mesmo que seus falantes consigam se entender – enquanto a maioria dos linguistas classificaria esses dialetos como uma mesma língua.
Essas contagens também costumam incluir grupos que deixaram de falar sua língua tradicional, mesmo que a declarem como seu idioma.
Isso acontece porque a língua é uma construção dentro da ciência, mas também é política. Há cada vez mais pessoas que se declaram falantes de línguas que consideramos extintas porque esses grupos estão lutando pelo seu reconhecimento.
“Se declarar falantes da língua, para eles, é uma questão de visibilidade e de sobrevivência. E muitos estão realmente empenhados em recuperar suas línguas, seja junto a vizinhos falantes de uma variedade, fazendo pesquisas documentais ou recriando suas falas com base no que sobrou de conhecimento sobre suas origens”, afirma a linguista e antropóloga Bruna Franchetto, da UFRJ.
Ou seja, para contar as línguas nativas do Brasil é preciso estabelecer um critério principal para definir quais são línguas diferentes e quais são apenas dialetos de uma mesma língua, mas também entender como os próprios grupos indígenas consideram os idiomas “parentes” do seu – algo que pode mudar a depender das relações que eles tenham em cada momento. E ainda é necessário considerar a situação social e política daquele grupo indígena.
Troncos, famílias, subfamílias
E como surgiram, e se diferenciaram, as línguas?
“Tradicionalmente, os linguistas acreditam que quando comunidades falam a mesma língua, mas têm pouco contato, elas desenvolvem seus próprios sotaques. Com o passar do tempo, esses sotaques podem evoluir para dialetos diferentes, com partes distintas da gramática”, explica Hein van der Voort, especialista em línguas indígenas sul-americanas do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Se essa falta de contato entre os povos permanece por vários séculos, os dialetos podem se tornar tão diferentes que os falantes de um já não compreendem o outro.
Assim nascem línguas diferentes.
Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-2779c755-7af1-495a-a41c-d02995e459b8
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