Reforma de organismos multilaterais deve ser tema central da reunião do grupo, que está mais dividido do que nunca.
Créditos da foto: Craig Ruttle/AP Photo/picture aliance. Ministro da Relações Exteriores, Mauro Vieira, será o anfitrião de reunião no Rio de Janeiro
Os chefes da diplomacia do G20, grupo que reúne as principais nações industrializadas e emergentes, bem como a União Europeia (UE) e a União Africana (UA), reúnem-se a partir desta quarta-feira (21/02) no Rio de Janeiro. O evento, que deverá discutir reformas de organismos multilaterais, ocorreu em meio à crise diplomática do país anfitrião com Israel.
A reunião deve contar com a presença do secretário de Estado americano, Antony Blinken, do ministro do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, e do Alto Representante da União Europeia para o Exterior e vice-presidente da Comissão Europeia, Josep Borrell. O chefe da diplomacia da China, Wang Yi, estará ausente devido a um conflito de agenda.
Esta será a primeira reunião do ano de ministros de Exterior do grupo que reúne as maiores economias do mundo. De acordo com o Itamaraty, o tema principal da cúpula será a reforma de organismos multilaterais, como a ONU. Nesta quarta, as discussões devem se concentrar na atual situação mundial, incluindo a guerra na Ucrânia e o conflito na Faixa de Gaza. O combate à fome, a transição energética e o enfrentamento às mudanças climáticas também estão na agenda do encontro.
Reforma da governança global
Os temas foram escolhidos pelo Brasil, que assumiu a presidência temporária do G20 em dezembro. Brasília considera a presidência do G20 como estratégica para projetar o país como liderança emergente. “Assim como aconteceu no G20 da Índia, Lula também vai tentar fazer com que o encontro seja um divisor de águas no sentido de empurrar o Ocidente a fazer um reconhecimento explícito da importância de trazer o Sul Global para dentro dessa instância de governança que é o G20”, projeta Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.
Junto com o combate à fome e o enfrentamento das mudanças climáticas, a reforma da governança global é um dos três eixos prioritários da presidência brasileira no G20. No encontro do Rio, será o tema central.
As instituições de governança global atuais foram criadas após a Segunda Guerra Mundial. Em linha com outros países do Sul Global, o governo brasileiro entende que esses mecanismos precisam ser oxigenados com a presença de novos atores.
A reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas é defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva há tempos. Desde sua posse, em 2023, Lula tem mencionado a questão em viagens internacionais com frequência e apontando o déficit de representatividade e legitimidade das principais organizações internacionais.
“Os conflitos que estamos vendo na Rússia, Ucrânia, Israel e Faixa de Gaza é a irracionalidade do ser humano. Tudo isso acontece porque a ONU não cumpre o papel histórico para o qual foi criada. O Conselho de Segurança, com cinco países que deveriam zelar para manter a paz no mundo, mas são esses países os que mais produzem e vendem armas e fazem guerra sem passar pelo Conselho de Segurança, e quando alguma decisão importante passa, se não interessa, eles têm direito de veto”, disse Lula em dezembro durante uma viagem a Berlim.
Antes de partir para o Rio de Janeiro, a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, defendeu a modernização das instituições internacionais, mencionando o Conselho de Segurança da ONU e o Banco Mundial, que ela disse refletirem uma época que já passou.
Crise diplomática com Israel
Embora Lula descreva o G20 como o “fórum com maior capacidade de influenciar positivamente a agenda internacional”, as divisões entre seus membros estão acentuadas devido à guerra na Ucrânia e ao conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
O próprio Lula impulsionou uma nova crise ao acusar Israel de cometer genocídio na Faixa de Gaza e comparar a campanha militar israelense no enclave palestino com o Holocausto.
Os comentários causaram indignação em Israel, que declarou Lula “persona non grata”. O imbróglio levou os dois países a subirem o tom nas declarações. Lula também convocou o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, de volta ao país – atitude que expressa a contrariedade de uma nação para com as ações de um governo estrangeiro.
A crise deve ser abordada no encontro entre Lula e Blinken, que ocorre horas antes do G20. Washington afirmou na terça-feira que discorda dos comentários feitos pelo presidente brasileiro.
Guerra na Ucrânia
Com a presença de Lavrov e Borrell, a invasão da Ucrânia pela Rússia também deverá ser um tema central na reunião. As tensões com Moscou aumentaram após a morte na prisão do opositor russo Alexei Navalny. As potências ocidentais culparam o presidente russo, Vladimir Putin, pela morte.
Já Lula, contrariando os líderes ocidentais, afirmou que não se deve tirar conclusões antecipadas sobre a morte antes do resultado de uma investigação para esclarecer as causas do óbito.
O Brasil ficará na presidência temporária do G20 até 30 de novembro e será responsável por receber representantes de outros países e direcionar os temas das reuniões. Esses encontros resultarão numa cúpula dos chefes de Estado e governo do bloco, que será realizada em 18 e 19 de novembro.
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