Por: Mariana Alvim | Crédito Foto: Getty Images. Rede social X está bloqueada no Brasil desde o fim de agosto e deve voltar ao ar gradualmente nas próximas horas
As empresas do ramo de telecomunicações começaram a ser notificadas nesta quarta-feira (9/10) sobre a volta da rede social X (antigo Twitter), informou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Segundo a agência, caberá a cada “uma das prestadoras tomar as providências técnicas necessárias” para que os usuários possam voltar a acessar a plataforma.
“O tempo para a execução do desbloqueio dependerá das medidas empregadas pelas prestadoras, conforme suas especificidades”, diz comunicado da Anatel.
Na tarde de terça-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a volta da rede ao país. Alguns usuários brasileiros já relatam que conseguiram voltar a acessar a plataforma.
Entretanto, muitos ainda estão sem acesso.
A volta tende a ser gradual nas próximas horas, conforme as milhares de empresas que atuam no setor da internet recebem a ordem do desbloqueio da Anatel e fazem ajustes técnicos para liberar o acesso à rede social.
Thiago Ayub, diretor de tecnologia da empresa Sage Networks, acredita que dentro de dois dias úteis a maioria das empresas terão concluído todo esse processo — tomando como base experiências anteriores.
A Anatel é uma reguladora, atuando com uma espécie de “oficial de Justiça” ao repassar a ordem do STF, e tinha a obrigação de notificar operadoras e provedores em 24 horas, segundo Ayub.
Já essas destinatárias não têm um prazo oficial para cumprir a ordem, embora o especialista acredite que não demorarão a fazê-lo.
“Como o assunto é de muita repercussão, podemos estimar que atuarão no desbloqueio com afinco pensando na satisfação dos clientes”, aponta.
“A cada hora que passa, mais empresas receberão a notificação e outras já terão concluído as atividades técnicas de desbloqueio. É importante agirem com cautela pois erros humanos nesse processo podem gerar curtos apagões nos provedores e operadoras. O tempo e a quantidade de checagens e revisões variam de empresa para empresa, podendo levar alguns dias para conclusão.”
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De acordo com Ayub, há mais de 20 mil empresas no setor. Algumas são grandes operadoras conhecidas pelo nome, enquanto outras são empresas atacadistas pouco conhecidas pelo internauta brasileiro e que vendem internet em “grande quantidade às demais”.
O X estava bloqueado no Brasil desde 30 de agosto, por determinação do STF devido a ordens judiciais não cumpridas pela empresa do bilionário Elon Musk.
O processo de desbloqueio é, na prática, o caminho inverso do bloqueio que ocorreu no fim de agosto.
Os endereços de IP que haviam sido bloqueados serão, agora, desbloqueados.
Esses endereços são códigos que permitem a comunicação entre diferentes laptops, computadores e celulares que usam a internet.
Ao acessar um site, porém, o usuário comum não usa esse código. Em vez disso, informa um nome de domínio, como x.com, e ainda assim encontra o que deseja. O responsável por essa conversão é o chamado DNS (Sistema de Nomes de Domínio).
Em nota, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, comemorou o desbloqueio.
“A decisão do X de pagar multas pendentes e se adequar à legislação brasileira é uma vitória para o país. Mostramos ao mundo que aqui as leis devem ser respeitadas, seja por quem for. O Brasil é soberano”, escreveu Filho.
Segundo especialistas entrevistados pela BBC News Brasil, a pressão de investidores, acionistas e anunciantes associados ao conglomerado de Musk provavelmente convenceu a empresa a recuar, a cumprir ordens judiciais e a pagar multas devidas.
Alexandre de Moraes e Elon Musk vinham desde abril travando — muitas vezes, publicamente — uma queda de braço que opunha os argumentos do combate à desinformação e da liberdade de expressão.
Moraes determinou o bloqueio de contas no X acusadas de divulgar mensagens criminosas ou antidemocráticas, o que foi descumprido algumas vezes pela empresa de Musk com o argumento de ser um cerceamento à liberdade de expressão.
Em abril, Musk escreveu em sua conta na rede social que Moraes seria um “ditador do Brasil” e que manteria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “em uma coleira”.
A decisão de Moraes de terça-feira pede “absoluta observância às decisões do Poder Judiciário, em respeito à soberania nacional”.
Publicado originalmente em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cly4gpe5q79o
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