Seis meses após enchentes devastarem o Rio Grande do Sul, gaúchos ainda convivem com o medo de novas catástrofes. Mudanças climáticas geram ansiedade e estresse pós-traumático, mas há estratégias para aplacar sofrimento.
Psicoterapeuta e professor colaborador do curso de especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental em Saúde Mental da Universidade de São Paulo (USP), Armando Ribeiro enfatiza que a ecoansiedade está profundamente conectada ao desejo de cuidar do planeta para as próximas gerações.
Os sinais da condição incluem pensamentos recorrentes sobre desastres, insônia, irritabilidade e sintomas físicos, como fadiga e falta de ar, refletindo a carga emocional que muitos enfrentam ao lidar com as constantes notícias negativas sobre a degradação ambiental.
Daiane Rocha de Oliveira, psicóloga e membro do Laboratório de Mensuração e Intervenções Neurocognitivas no Desenvolvimento (Lab-MIND), explica que o termo está relacionado a sintomas de medo e preocupação com as consequências ambientais, afetando tanto a vida pessoal do indivíduo quanto a percepção do impacto no mundo.
Eventos climáticos extremos também podem desencadear transtornos mais severos, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Maluf ressalta que pessoas que vivenciaram desastres podem ter flashbacks, pesadelos e um estado de alerta constante.
Mas o TEPT não afeta apenas quem viveu essas experiências, segundo o especialista. Ele também pode afligir aqueles que consomem excessivamente notícias sobre desastres, levando a uma ansiedade generalizada.
Grupos vulneráveis ao problema
A ecoansiedade não se manifesta da mesma forma em todas as idades. Crianças e adolescentes, que dependem de um senso de segurança e previsibilidade para se desenvolverem, são particularmente vulneráveis aos impactos da crise climática.
“Eles sentem uma responsabilidade maior em ‘salvar o planeta’, o que pode intensificar a ecoansiedade”, observa Armando Ribeiro, da USP.
Já os idosos, diante das rápidas mudanças no clima, podem se sentir sobrecarregados e com medo de novos desastres.
O transtorno de estresse pós-traumático, por sua vez, pode aparecer em todas as idades, com maior incidência em adolescentes e jovens adultos. Oliveira observa que “as diferenças nas manifestações emocionais, tanto na ecoansiedade quanto no TEPT, dependem de fatores como a fase de desenvolvimento do indivíduo, o tipo de trauma vivenciado e a vulnerabilidade social”.
A exposição a novos desastres, como as enchentes no Rio Grande do Sul, aumenta o risco de desenvolvimento desses transtornos, ressalta a especialista.
Apoio psicológico e ajuda conjunta
O apoio terapêutico é fundamental para os afetados por desastres naturais. O professor da USP destaca que a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) ajuda a lidar com pensamentos angustiantes e a construir estratégias de enfrentamento.
Além disso, técnicas de respiração e relaxamento, bem como o apoio de familiares e amigos, são fundamentais para restaurar a sensação de segurança.
“O envolvimento em ações ambientais, como reciclagem ou voluntariado, proporciona um senso de propósito e alívio, permitindo que as pessoas enxerguem suas ações como parte da solução”, diz Ribeiro.
Oliveira complementa que práticas de autocuidado também são essenciais para enfrentar a ecoansiedade e os medos relacionados às mudanças climáticas. Atividades físicas, momentos de introspecção e contato com a natureza ajudam a fortalecer a estabilidade emocional. “Podemos construir um olhar mais resiliente para essas questões, porém não devemos e nem podemos ignorar os riscos.”
Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/ecoansiedade-como-eventos-extremos-impactam-a-sa%C3%BAde-mental/a-70627762
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